Mais de 380 pessoas foram assassinadas em Feira de Santana em 2020; veja a lista de bairros

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade | Homicídio no bairro Gabriela

O ano de 2020 foi um dos mais violentos dos últimos anos em Feira de Santana. Com 370 homicídios e 12 latrocínios (roubo seguido de morte), a polícia contabilizou no município 382 Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs).

Além destas mortes foram registrados 08 excludentes de ilicitude (legítima defesa), 03 mortes no Conjunto Penal de Feira de Santana e 77 mortes em decorrência de intervenção policial (troca de tiros), ou seja, 470 pessoas morreram de causas não naturais em Feira de Santana no ano de 2020.

Conforme levantamento feito pelo repórter Aldo Matos, do setor policial do Acorda Cidade, dentre as vítimas de CVLIs, estão 28 mulheres sendo que 23 foram mortas a tiros, 04 a facadas e 01 a pauladas. As demais vítimas eram do sexo masculino sendo, 39 menores de 18 anos (índice maior que em 2019 quando 35 adolescentes foram assassinados).

Com relação aos homens, 337 foram mortos a tiros, 10 a facadas, 03 a pauladas, 03 foram carbonizados e um foi estrangulado. Em 2020 também ocorreram 15 duplos homicídios e dois triplos homicídios.

Ainda conforme o levantamento do Acorda Cidade, a maioria dos crimes ocorreu nos finais de semana conforme a tabela a seguir:

BAIRROS

Mangabeira foi o bairro mais violento de 2020 com 42 assassinatos. Em seguida estão Santo Antônio dos Prazeres e Conceição com 22 e 20 homicídios, respectivamente. Com relação aos distritos Maria Quitéria e Governador João Durval (Ipuaçu) foram os mais violentos com 07 homicídios em cada distrito. Já o distrito de Jaguara não registrou homicídios durante todo o ano de 2020.

Veja a lista completa de bairros e números de CVLIs.

1- Mangabeira: 42 assassinatos

2- Santo Antônio dos Prazeres: 22 assassinatos

3- Conceição: 20

4- Campo Limpo: 17

5- George Américo: 15

6- Gabriela : 14

7- Papagaio: 13

8- Caseb: 12

9- Tomba e Feira VII: 10 assassinatos em cada bairro

10- Asa Branca e Rua Nova: 09 assassinatos em cada bairro

11- Ponto Central: 08

12- Queimadinha, Aviário, Novo Horizonte: 07 assassinatos em cada bairro

13- Feira X, Campo Gado Novo, Sim: 06 assassinatos em cada bairro

14- São João, Parque Ipê, Centro, Jardim Cruzeiro, Nova Esperança: 05

15- Cidade Nova, Baraúnas, Jardim Acácia, Chácara São Cosme: 04

16- Barroquinha, Serraria Brasil, Conjunto José Ronaldo, Sobradinho, Parque Getúlio Vargas, Santa Mônica, Pedra do Descanso, Viveiros, Fraternidade, Sítio Novo, Parque Tamandari, Três Riachos: 03 assassinatos

17- 35 BI, Sítio Matias, Feira IX, Lagoa Salgada, Liberdade, Calumbi, Limoeiro, Subaé, Parque lagoa Subaé: 02 assassinatos

18- Tanque Nação, Tamandari, Fazenda Tanquinho, Parque Panorama, Pedra Ferrada, Feira V, Eucaliptos, Irmã Dulce, Brasília, Pampalona, Jussara, Feira VI, São João do Cazumbá, Vale do Jacuípe: todos com 01 registro de assassinato.

Distritos

1º- Maria Quitéria e Governador João Durval (Ipuaçu): 7 assassinatos em cada distrito

2º- Humildes: 6

3º -Tiquaruçu: 4

4º- Jaíba: 02

Em Jaguara não houve registro de homicídios em 2020

Número de homicídios registrados em áreas das Companhias Independentes da Polícia Militar (CIPMs)

O que dizem as autoridades policiais 

O coronel Luziel Andrade, comandante do Comando de Policiamento Regional Leste (CPRL), explicou em entrevista ao Acorda Cidade que, por conta da pandemia, a expectativa era a redução no número da criminalidade.

“Tivemos um número elevado em 2020 por diversas situações: a mais variante é o fato da gente ter vivido desde o mês de março a pandemia e todos esperavam uma redução do número de criminalidade, quando na verdade aumentou o crime contra a vida. Tivemos no ano 386 homicídios, um número muito elevado, mas também não podemos desconsiderar que em outras cidades, como na região metropolitana de Salvador e Camaçari, aumentaram também os números de homicídios. É um fenômeno que deve ser estudado, avaliado, tivemos muita liberação de pessoas em presídios justamente no momento da pandemia, somando o aumento da criminalidade. O que nos conforta é que, às vezes, o número pode ter sido alto, mas se olharmos para trás, a gente vê que poderia ter sido muito mais alto se a polícia não estivesse produzindo todo esse aparato”, destacou o coronel.

Ainda segundo o comandante, o número de armas e drogas apreendidas pela Polícia Militar foi superior ao ano de 2019.

“A Polícia Militar no ano de 2020 trabalhou muito, tanto que a produtividade no número de armas apreendidas foi maior do que no ano de 2019. Apenas no mês de dezembro, apreendemos 21 armas de fogo, e a quantidade de drogas apreendidas tanto pela Polícia Militar, quanto pela Polícia Civil também foi maior do que no ano anterior”, disse ao Acorda Cidade.

Durante o ano de 2020, as ocorrências de morte em decorrência de intervenção policial (troca de tiros com a polícia) também tiveram números altos.

“Antigamente, diziam que o Auto de Resistência era a polícia que estava sendo violenta, mas agora você não vê mais falar sobre isso. O auto de resistência é porque ocorreu um confronto entre o delinquente ou a pessoa que estava cometendo um crime contra a Polícia Militar, tanto que não tivemos praticamente quase nenhuma denúncia por parte do Ministério Público sobre essas ocorrências, então é um número bastante significativo”, finalizou o coronel.

De acordo com o delegado e coordenador da Polícia Civil em Feira de Santana, Roberto Leal, o mês de dezembro teve uma redução do número de homicídios em mais de 50%.

“Nós tivemos um aumento de homicídios em relação ao ano de 2019 e isso nos deixou extremamente apreensivos. No primeiro semestre do ano foi muito difícil, já no segundo semestre tivemos uma redução, mas não conseguimos chegar a meta e ficamos com 4,2%, o que nos deixa mais tranquilo porque desde o mês de outubro, a gente começa a ter uma pequena redução e no mês de dezembro essa redução ultrapassou 50%, é um alento mas não podemos baixar a guarda e continuamos com os trabalhos”, explicou.

Embora tenha reduzido o número de homicídios no mês de dezembro, a Delegacia de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) registrou sete assassinatos envolvendo mulheres. De acordo com o delegado, algumas situações ocorridas, o alvo eram outras pessoas, mas estas mulheres também foram vitimadas.

“No mês de dezembro foram 16 homicídios. Destes, 7 foram mulheres, mas é preciso ressaltar que em dois fatos que estamos apurando, o alvo não eram essas mulheres. Eram homens que estavam na companhia delas, como o triplo homicídio em que o alvo era uma pessoa, mas acabou vitimando duas mulheres e a segunda situação da mesma forma, era um alvo e a mulher acabou sendo vitimada. Outros fatos que estamos investigando, são indícios da possível participação em envolvimento de tráfico de entorpecentes, mas estamos nos aprofundando. Existe uma grande preocupação, pois os índices foram altos em 2020, houve um aumento de vítimas mulheres, além da relação com o feminicídio comparado a 2019, em 2020 tivemos quatro situações dessa forma registrando um pequeno aumento”, destacou o delegado.

Segundo Roberto Leal, a maioria dos crimes cometidos em Feira de Santana tem relação com o envolvimento no tráfico de entorpecentes e cerca de 75% dos homicídios são oriundos por disputa entre traficantes.

“A maioria desses crimes durante o ano de 2020 envolve a disputa pelo tráfico de entorpecentes aqui em Feira de Santana, a gente sabe que em torno de 70, 75% dos homicídios que ocorrem na cidade envolvem algum tipo de disputa, não apenas pelos locais de tráfico, mas a disputa por cobranças, então existe uma gama de fatos que ocorrem, mas realmente a maior motivação é o tráfico de entorpecentes”, disse ao Acorda Cidade.

Tráfico de droga

Para combater o tráfico de drogas, o coordenador da Polícia Civil explicou que as ações não podem ser realizadas apenas de forma local pois é uma situação que ocorre em qualquer lugar do país e a sociedade precisa discutir a forma de combate auxiliando a polícia, entendendo que este é um fenômeno que também atinge a saúde pública.

“A droga que é consumida em nossa região, ela é importada do Paraguai, Colômbia, Venezuela, vem de todos esses países circunvizinhos que são produtores de entorpecentes. Então, enfrentar o tráfico não engloba apenas ações locais, é preciso de ações estratégicas e é necessário que a sociedade discuta realmente sobre combate nos auxiliando e entendendo que é um fenômeno que envolve a saúde pública na questão de pessoas viciadas. É muito fácil a gente falar do tráfico, se você não vivenciar diariamente o enfrentamento, são pessoas que acabam sendo vitimadas por não serem envolvidas com qualquer tipo de entorpecente, mas convivem e habitam em um ambiente controlado por algum desses grupos criminosos, então precisamos pensar justamente nessas pessoas”, finalizou. 

Dezembro

Em dezembro de 2020 foram registrados 16 homicídios em Feira de Santana, sendo que no mesmo período em 2019 foram registrados 29. Segundo o levantamento feito pelo repórter Aldo Matos, dos 16 homicídios, sete vítimas eram mulheres e nove eram homens, sendo dois adolescentes. Todos foram mortos a tiros. Também em dezembro outros sete homens morreram em decorrência de intervenção policial (troca de tiros). Nenhum latrocínio (roubo seguido de morte) foi registrado.

Bairros

Com três homicídios, Mangabeira foi o bairro que mais registrou homicídios em dezembro de 2020. Ponto Central e Viveiros registraram dois, cada, e os demais registraram um homicídio. A saber: Tomba, Campo Limpo, Sobradinho, Jardim Cruzeiro, Jardim Acácia, Serraria Brasil, São João, Gabriela e Lagoa Subaé.

Número de homicídios registrados em áreas das CIPMs:
64ª CIPM – 3 homicídios registrados em dezembro de 2020
65ª CIPM – 6 homicídios
66ª CIPM – 7 homicídios
67ª CIPM- sem registros de homicídios em dezembro de 2020
 

Levatamento feito pelo repórter Aldo Matos 

Entrevistas: Ed Santos 

Redação e Edição: Andrea Trindade e Gabriel Gonçalves

ACORDA CIDADE

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