Maquiagem na infância: sim ou não? Especialistas e mães comentam o assunto

Foto: Unsplash / Divulgação
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O uso de produtos de beleza na infância divide opiniões de mães e especialistas. Afinal, os cosméticos fazem mal à saúde e ao desenvolvimento das crianças? Como lidar com a vaidade das meninas em uma fase tão delicada da vida? Qual é o limite ao descobrir se a sua filha está exagerando ao brincar com maquiagem? As dúvidas são muitas e cada vez mais frequentes. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Brasil é um dos principais mercados mundiais do ramo. Não por acaso, empresas lançam uma infinidade de produtos de beleza direcionados a meninas. Em março, por exemplo, a Barbie criou, em parceria com a View Cosméticos, uma linha com glosses e batons para a pele infantil. Em relação à saúde, o uso de maquiagem na infância deve ser feito com muito cuidado. A recomendação da dermatologista Clarissa Prati, vice-presidente da seccional gaúcha da Sociedade Brasileira de Dermatologia, é que menores de três anos não apliquem nenhum tipo de cosmético. 

– A pele das meninas é bem mais sensível e delicada e, com isso, propensa a alergias. Para crianças que têm alguma doença de pele, a orientação deve ser individualizada – pontua a médica.

Uma cartilha elaborada pela Anvisa aponta que um requisito essencial para a maquiagem infantil é ter baixo poder de fixação e ser facilmente removida com água. A entidade também permite que os itens de make infantis contenham substâncias que possuam um gosto amargo, para evitar que a criança leve o produto à boca.

– Além disso, pincéis contaminados podem transmitir infecções. Se a maquiagem for de uso eventual, para uma brincadeira, por exemplo, a criança ficará satisfeita e terá um risco menor de dermatites – acrescenta a dermatologista.

Brincadeira que exige atenção

É na fantasia que a psicóloga Gisleine Verlang Lourenço, professora da Universidade La Salle, acredita. Para ela, se a maquiagem for usada de maneira lúdica e com moderação, só há vantagens.

– Por meio de qualquer brincadeira livre, a criança vai aprender algo e vai ver a consequência disso. Por exemplo, ela vai ter que se limpar depois de se maquiar. Isso é totalmente diferente de uma brincadeira tecnológica, que é só apertar no botão de off e acabou. Já a psicóloga Lisiane Motta defende que deve reinar o bom senso, ou seja: nem estimular a vaidade excessiva da criança, mas também permitir que ela possa experimentar a maquiagem como parte de um processo de autoconhecimento. 

– Acho que não se pode problematizar a maquiagem, desde que seja dentro de um contexto de brincadeira. A questão é tratar disso muito cedo, porque a gente sabe que na adolescência muda – afirma.

E aí chegamos a outro ponto importante do assunto e que preocupa as mães. Algumas acreditam que, em excesso, aplicar cosméticos como batom, blush e sombras pode gerar uma adultização precoce. Especialistas reforçam que a prática não deve se tornar hábito – mesmo entre as adolescentes. Lisiane pontua que é importante acompanhar o interesse das meninas desde cedo e evitar que ela acredite que só está bonita se estiver maquiada.

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Foto: Cena do filme “De Repente, 30”

– Na adolescência, principalmente, elas querem passar uma base para disfarçar as espinhas. Mas às vezes, mesmo sem querer, as adolescentes acabam se expondo a algumas questões que envolvem a sexualidade, e a maquiagem pode contribuir ainda mais com isso. De repente também dá para cuidar o uso de algumas cores. Evitar o batom vermelho, de início, por exemplo – orienta. 

Gisleine acrescenta que a preocupação com a adultização precoce não deve servir como forma de punir a criança e privá-la da maquiagem. 

– A sexualização é fruto do pensamento do adulto. A criança ainda está no processo do autoconhecimento, desenvolvendo sua autoestima. Não se pode culpá-la por isso – sustenta a psicóloga clínica, especialista em educação infantil. (Dona Maternidade)

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