Marisqueiras lucram com venda de pinaúnas para restaurantes de luxo

Mulheres decidiram investir na venda de ouriços que já faziam parte do cotidiano alimentar delas, mas são desconhecidos pela população

Foto: Marina Silva/CORREIO

Nas manhãs de “maré grande”, como são chamados os dias depois de lua cheia e lua nova, dez mulheres vão para o mar da Ilha de Itaparica em busca das pinaúnas mais gordinhas. Desde o ano passado, as marisqueiras transformaram o hábito alimentar de comer aqueles ouriços espinhosos em um negócio que abastece restaurantes de luxo.

Durante a mariscagem, elas não precisam mergulhar: ficam em piscinas naturais rasas e límpidas, de onde conseguem avistar os ouriços incrustados em pedras. De volta da água, elas colocam os ouriços em uma mesa de metal.

É o início do processo de comercialização, que começa com a limpeza e, em seguida, o armazenamento. 

Os ovos das pinaúnas são refrigerados ou congelados, a depender da urgência do comprador em ir buscá-las. O quilo é vendido por R$ 200 – preço abaixo do mercado, já que mercearias especializadas vendem 400 gramas por R$ 580. Mensalmente, as marisqueiras vendem de 10 a 15 quilos de ovas. 

Elas fazem parte da Aliança Kirimurê, que reúne 200 famílias que vivem por 21 comunidades pesqueiras da Baía de Todos-os-Santos (BTS). O trabalho com a pinaúna, no entanto, é protagonizado por dez mulheres de três comunidades de Itaparica.

Foi no ano passado que, ao notar o interesse crescente de restaurantes pelos ouriços, o grupo se uniu para alimentar a demanda. As pinaúnas, fontes de proteína, sempre fizeram parte da dieta local, sobretudo em dias ruins de pescaria, mas a venda do ouriço em larga escala não era sequer pensada.

Os principais clientes são pessoas físicas, mas os restaurantes Origem, Vini Figueira e Boia logo viraram clientes. Depois, por mudanças no menu, eles interromperam os pedidos.  Uma das marisqueiras que abastece a dispensa deles é Ana Paula Santos, 34 anos. Desde criança, ela come o ouriço, principalmente como a proteína da moqueca. Depois, já crescida, até passou a vender as ovas dele para alguns veranistas. 

“Agora vendemos mais caro. É bem melhor e dá mais lucro”, comemora ela.

O propósito da Aliança Kirimurê é justamente este: melhorar a renda de famílias que vivem da BTS. E os dois princípios que guiam essa busca é a inovação nos produtos oferecidos — eles também vendem escamas e algas — e regeneração de ambientes degradados.

Mesmo entre o grupo, no entanto, ainda é preciso romper estereótipos. Por exemplo, há profissionais que torcem o nariz para ideia de vender pinaúnas.

“Mesmo que dentro de comunidades de pescadores seja um hábito normal, muitos deles ainda associam mais a algo negativo. Mas quando eles vem que podem vender e ter lucro com isso, é incrível “, avalia Zeca Bezerra, engenheiro de pesca e gestor da Aliança.

o dia 25 de março, a Aliança promoveu uma oficina de pesca e culinária na Gamboa. Durante o encontro, Zeca, um dos professores, incentivou os empreendedores e pescadores locais a trabalharem com a pinaúna.

A população local até conhece a possibilidade, a às vezes até se alimenta dela, mas não põem o ouriço no menu de restaurantes, pelo estigma que ainda o cerca. 
Fonte: Correio

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