Pense numa loucura. Na Bahia, há precedentes. Em 1971, o ano seguinte ao tricampeonato mundial da Seleção Brasileira, o presidente do Esporte Clube Bahia foi a um programa de rádio e anunciou algo como: “Pelé, o maior jogador do mundo, reforçará o Tricolor nesta temporada”.
O programa do radialista França Teixeira, chamado “Resenha do Meio-Dia”, era tido como o de maior audiência em Salvador. Na época, o Bahia, clube mais vencedor do estado, tinha como presidente o empresário carioca Alfredo Saad, amigo de Pelé. Todo o mundo esportivo baiano estava acompanhando.
Para completar a doideira, o próprio Pelé entrou ao vivo no programa de rádio, confirmando o acerto com o Esquadrão de Aço. O presidente do Santos, Athiê Jorge Coury, também falou por telefone sobre a negociação. Com tudo isso, por qual motivo não acreditar e ser feliz?
Afinal, o Bahia foi o primeiro campeão brasileiro – vencendo inclusive o Santos de Pelé na final. Dois anos antes, o gol de número 1.000 do “Rei do Futebol” foi impedido pelo zagueiro tricolor Nildo Birro Doido, na Fonte Nova. Apesar de pouco midiático, o Esquadrão era um clube de tradição no país. Por quê não?
Bom, sabe-se que a contratação não se concretizou. Sequer chegou a ser negociada. Mesmo em tempos de um futebol menos rico, menos luxuoso, com cifras muitos menores, ter o melhor jogador do mundo em seu plantel não estava ao alcance do Bahia.
Tudo não passou de uma “trollagem” dos envolvidos, que mantinham uma boa relação pessoal. Saad, além de amigo, era sócio de Pelé. França Teixeira também era próximo dos dois e, volta e meia, todos frequentavam a mesma casa de veraneio em Ilhéus, no Litoral Sul da Bahia.
“Foi uma brincadeira que nós fizemos, porque eu estava sempre na Bahia nessa época. Eu tinha um sócio que também foi presidente do Bahia, o Sr. Alfredo Saad, que já faleceu e até hoje a sua esposa Margarida é minha grande amiga e mora na Bahia. Eu amo a Bahia e tenho muitos amigos baianos e tenho mil histórias como esta para contar”, disse Pelé em 2012, para o portal iBahia.
Ao mesmo site, França Teixeira relatou que a ideia partiu dele. No início, Pelé teria resistido a entrar na brincadeira, mas depois topou e disse com todas as letras que estava acertado com o Bahia.
“Surgiu a ideia. Eu digo: ‘Pelé, eu vou ligar para você em Santos ou em qualquer lugar, vou te localizar. Todo mundo tá dizendo, querendo que você arme um negócio que veio pro Bahia’. Aí ele: ‘como é que eu vou pro Bahia, rapaz?’. ‘Diga isso, rapaz’, eu falei. Armamos aqui a resenha no dia, ele já tava no telefone, já avisado”, contou o radialista.
Como o torcedor do Bahia reagiu neste momento, é difícil cravar: surpresa, alegria, êxtase? Provavelmente, tudo isso junto. Mas o mais duro deve ter sido na hora de descobrir que tudo não passava de mentira.
“Pra desfazer depois, tivemos que dizer que era primeiro de abril sem ser primeiro de abril”, afirmou França Teixeira. (BN)