A vacinação de crianças é especialmente importante porque a ômicron tem aumentado a chamada contaminação intrafamiliar: dentro de casa.
Se a preocupação com a contaminação sempre foi maior da porta de casa para fora, com a ômicron é um pouco diferente. A Organização Mundial da Saúde diz que os casos de transmissão dentro da própria família aumentaram com o surgimento da variante.
“O que a gente vem observando é que há um aumento na transmissão dentro de casa. Alguém da família está saindo e não está tomando os cuidados necessários. Então, é necessário que haja uma consistência no uso dessas medidas para todos os membros da família”, afirma Mariângela Simão, diretora para Medicamentos e Vacinação da OMS.
Um estudo publicado pela agência de saúde do Reino Unido constatou que, em 8,3% dos casos, pessoas infectadas com a variante delta contaminaram mais alguém da família. Com a ômicron, o número sobe para 19%.
No Brasil, no pronto atendimento dos hospitais, os médicos também perceberam outra mudança na dinâmica da pandemia.
“Durante toda a pandemia, nós tínhamos um atendimento de crianças assintomáticas com a família já sabidamente positiva ou apresentando sintomas. Agora, não raramente, até com uma certa frequência, a criança é o primeiro membro da família a apresentar o sintoma e a testar positivo”, diz Ricardo Fonseca, pediatra do Hospital Sírio-Libanês.
Os epidemiologistas dizem que o que se vê nos hospitais faz todo sentido. As crianças são hoje o grupo mais vulnerável porque ainda não estão protegidas pela vacina. Se elas ficam doentes, a carga viral é alta e, portanto, têm mais chance de transmitir o vírus do que uma pessoa que pegou Covid, mas está imunizada.
Por isso, a epidemiologista Ethel Maciel reforça: vacinar as crianças é uma estratégia de contenção da pandemia.
“A gente precisa também ampliar a vacinação nesse grupo para que a gente possa controlar a pandemia, diminuindo a transmissão, diminuindo essa quantidade de vírus circulando. A vacinação é estratégia coletiva. Quanto mais transmissível uma variante, mais pessoas nós precisamos vacinar”, afirma a epidemiologista Ethel Maciel.
Na família da técnica de enfermagem Débora Cardoso, todos pegaram Covid e tiveram sintomas leves. Os pais estão completamente vacinados; os filhos, de 5 e 8 anos, ainda esperam a vez.
“A gente não vê a hora de as crianças todas poderem se vacinar para gente poder ajudar a controlar a pandemia”, diz Débora.
“Bem ansioso mesmo. Quero sair para ficar livre. A casa é muito pequena, eu gosto de correr por aí, igual passarinho”, conta Gael Cardoso da Silva, de 8 anos.