“Não me dê flores, me dê respeito” ou igualdade, ou oportunidades e por aí vai. Essa frase costuma aparecer no Dia Internacional da Mulher para lembrar que a ocasião é muito mais sobre luta do que sobre parabéns. A data, inclusive, tem raízes históricas e um motivo para existir.
O Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, surge com movimentos femininos de reivindicação política e trabalhista, com greves, passeatas e perseguição policial. A data foi oficializada apenas em 1975 pela Organização das Nações Unidas (ONU), mas tem sua origem no início do século XX.
“Clara era uma militante do movimento operário e pela conscientização das mulheres de seu real papel na sociedade. Ela também fundou uma revista chamada Igualdade onde postulava sua luta. No II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas realizado em Copenhagem ela propôs a criação de um dia internacional da mulher. No entanto, a proposta não foi adiante”, explica a historiadora Luciana Onety da Gama Sobral, doutoranda em História Social pela Universidade Federal da Bahia.
“Isso, porém, desmistifica a ideia de que o 8 de março tenha origem no incêndio da fábrica americana Triangle Shirtwaist Company de Nova York, ocorrido em 25 de março de 1911, um ano após a proposta de Clara Zetkin”, completa.
Na ocasião citada por Luciana 125 mulheres, além de 21 homens, morreram. O episódio alertou para as más condições de trabalho enfrentadas especialmente pelas mulheres durante a Revolução Industrial. Muitos relacionam este episódio com a origem do Dia Internacional da Mulher.
História de lutas
Ao longo do século XX, mulheres em diversas partes da Europa e nos Estados Unidos, seguiram se manifestando, por diversas causas e em diversas datas.
A historiadora cita a greve das trabalhadoras russas, no dia 8 de março de 1917, como um marco importante que mostra que a data marca as lutas femininas. Essa passeata foi o ponta pé inicial da Revolução Russa.
“Dia Internacional da Mulher é resultante de vários episódios de avanços e recuos no reconhecimento do papel da mulher na sociedade. Então, percebe-se que a data entrou para o imaginário coletivo das lutas de classe a partir das lutas de várias mulheres que se determinaram a buscar a igualdade social e econômica entre mulheres e homens, pois mesmo que tenhamos diferenças biológicas isso não pode jamais ser um pretexto para submeter as mulheres a uma condição subalterna”, ressalta Luciana.
“Em suma, as lutas em Congressos ou nas ruas como aconteceu após o incêndio da Triangle, ou a greve de tecelãs em 1917, tudo isso e muito mais faz parte de um conjunto de mobilizações que vem ocorrendo ao longo de décadas na busca pelo reconhecimento do direito das mulheres”, completa.
Para Luciana, história dessas lutas precisa ser contada e salientada tanto na militância nas ruas como na acadêmica. “Eu acredito e defendo uma história de cunho social e transformador. Se não servir para auxiliar a sociedade a refletir sobre sua história e como ela está entrelaçada com os eventos em seu entorno, então ela é apenas um mero diletantismo acadêmico”, opina a especialista.
Data comercial?
Com o passar dos anos, a data ganhou – e vem ganhando – cada vez mais um viés comercial. No Brasil, por exemplo, apesar de haver protestos na data, é um dia forte para as floriculturas, já que presentear as mulheres com flores é quase que uma tradição no país. O dia 8 de março é a terceira data comemorativa mais importante para esse mercado, perdendo só para o Dia dos Namorados e Dia das Mães.
“Dar flores pode ser um gesto elegante e gentil, mas eu pessoalmente, prefiro que no Dia Internacional das Mulheres, ao invés de flores que murcham e apodrecem, que me deem direitos. Que assegurem meu acesso à educação, saúde, integridade física e mental. Que me respeitem como mulher, mãe, professora e aluna. Que me ajudem a pensar um mundo em que ser mulher não seja um risco nem pra mim, nem para nenhuma outra mulher”, finaliza Luciana. (Ibahia)