Quase 16 mil dos vacinados em Salvador são de outra cidade

Foto: Paula Fróes/CORREIO)

A fila para se vacinar contra o novo coronavírus em Salvador já é grande, mas acabou ficando maior do que já é. Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), das quase 190 mil pessoas vacinadas na capital baiana, 15.960 são de outras cidades e até de outros estados – entre idosos e profissionais de saúde. O número corresponde a 8,4% do total de doses aplicadas e foi atualizado às 14h de segunda-feira (15).  

Não é crime tomar vacina fora do município em que reside. Mas, a medida pode deixar aqueles que moram de fato na cidade sem vacina ou atrasar o avanço das faixas etárias a serem imunizadas. Segundo a SMS, o município recebe uma quantidade de vacina compatível com o tamanho da população, ou seja, quando moradores de outros municípios vão se imunizar na capital, isso implica que os residentes de Salvador podem não ter a dose disponível.  

Ainda mais após a mudança no repasse de recursos da Saúde, promovida pelo governo federal no final de 2019. Desde então, as verbas que o Ministério da Saúde envia aos municípios depende do número de cidadãos cadastrados no Sistema Único de Saúde (SUS) e não mais da quantidade de habitantes.  

Por isso que, para não prejudicar a contagem das doses a serem aplicadas aqui em Salvador, a idosa Maria Júlia**, 85 anos, transferiu o cadastro do SUS para a capital. Natural de Canudos, no norte da Bahia, ela estava provisoriamente morando na capital por conta de um tratamento. Maria veio final de julho e aproveitou para ficar com a família mais um pouco, enquanto esperava sua faixa etária para ser vacinada.  

“Ela ficou aqui porque estava fazendo tratamento. Como Canudos fica a 400 quilômetros de distância, não dava para ir lá vacinar, são seis horas de viagem e, para a idade dela, é sacrificante. Então teve que fazer a transferência do SUS, o que não deveria, porque o SUS é universal”, explica a filha de Maria Júlia, que pediu para não se identificar. As duas doses foram aplicadas e a mãe já voltou para a terra natal.  

De todo os cantos

A SMS não informou de quais cidades são essas pessoas, apenas disse que são de vários locais, inclusive de outras unidades federativas. Segundo o secretário municipal de saúde, Leo Prates, esses não residentes de Salvador não causariam prejuízo ao processo de vacinação, porque os imunizantes serão restituídos. “Já informamos nominalmente à Sesab [Secretaria da Saúde do Estado da Bahia] e a ideia é que entre essa semana e a outra, ela possa restituir essas 15 mil doses que foram utilizadas em pacientes que não são moradores de Salvador”, afirmou o secretário, em entrevista à TV Bahia. 

A subcoordenadora de Doenças Imunopreveníveis da SMS, Doiane Lemos, esclarece que é totalmente dentro da legalidade se vacinar fora do município de residência. “É possível devido ao processo migratório do interior para a capital e seguindo o princípio de universalidade do SUS na qual o indivíduo tem direito ao atendimento”, explica.  

A coordenadora de imunização da Sesab, Vânia Rebouças, pontua que a pessoa deve seguir o cronograma do grupo prioritário que está sendo vacinado no momento. Ou seja, é proibido furar filas e é possível tomar a segunda dose em outra cidade. “A gente tem recebido pessoas aqui de outros estados também, mas quem está no cronograma para ser vacinado, vai ser vacinado em relação ao grupo prioritário. Então, se tiver um idoso aqui de qualquer estado do Brasil, ele vai ser vacinado de acordo com o calendário que a gente tem aqui. Da mesma forma, se ele vem de outro estado, ele conclui o esquema aqui”, afirma. 

A coordenadora diz ainda que acompanha a produção e processo de vacinação dos municípios e repassa as doses de acordo com as estimativas recebidas do Ministério da Saúde para cada um dos grupos prioritários. 

A Sesab não pôde informar de quais cidades seriam essas pessoas, pois os dados ainda estão sendo consolidados. Mas em Cravolândia, no Centro-Sul da Bahia, muitos profissionais da saúde que não moram no município receberam o imunizante. “Como é profissional de saúde, não importa de onde é, a gente contabiliza como um todo”, comenta a secretária de saúde de Cravolândia, Ednalva Mendes. Ao todo, de três a quatro pessoas que não residem na cidade foram imunizadas nesta condição.  

Isso foi o que aconteceu com o enfermeiro João Pedro Santos**. Ele mora em uma cidade do Nordeste da Bahia e trabalha aos finais de semana no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). “Poderia até me vacinar na minha cidade, porque sou da gestão da secretaria de saúde, mas ainda não era minha fase, então não seria justo”, argumenta. Ele já tomou as duas doses da CoronaVac. (Correios)

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