A 8ª parte da série de reportagens do The Intercept, batizada nas redes sociais de “Vaza-Jato”, mostrou supostas conversas em grupo de procuradores, ligados ou não à operação Lava Jato. Os trechos mostram críticas às violações éticas e à conduta de Sergio Moro enquanto juiz federal e a preocupação de que a proximidade com Bolsonaro, que resultou na nomeação para a pasta da Justiça, pusesse em dúvida a credibilidade do processo.
Na noite do segundo turno, prestes a ser anunciado o resultado das eleições presidenciais, procuradores de diferentes lugares do país explicitaram o descontentamento com a postura, inclusive, da esposa do então juiz federal, que comemorou a vitória de Bolsonaro nas redes sociais. “Erro crasso. Compromete Moro”, conclui José Robalinho Cavalcanti, então presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, no chat batizado de “BD”.
Um dia antes do anúncio de Moro como ministro, 31 de outubro de 2018, segundo o The Intercept, o grupo formado por procuradores da força-tarefa em Curitiba avaliaram negativamente o encontro entre o juiz e presidente eleito PSL – uma semana antes de interrogar o ex-presidente Lula.
“É o fim ir se encontrar com Bolsonaro e semana que vem interrogar o Lula”, diz a procuradora Isabel Groba, que é endossada por Laura Tessler que pede “pelo amor de Deus” para alguém avisar a Moro para não ir ao encontro.
O procurador Antônio Carlos Walter antecipa ao ressaltar que, caso o juiz aceitasse o convite para ser ministro, seria o responsável por “explicar todo os arroubos do presidente” e deveria “engolir muito sapo”. Ele lembra que um pedido feito à ONU para anulação do processo é embasado justamente na “falta de parcialidade do juiz”:
“Se aceitar vai confirmar para muitos a teoria da conspiração. Vai ser um prato cheio. As vezes, o convite, ainda que possa representar reconhecimento (merecido), vai significar para muita gente boa e imparcial, que nos apoia, sem falar da imprensa e o PT, uma virada de mesa, de postura, incompatível com a de Juiz”.
Em uma outra conversa, no dia seguinte, 1° de novembro de 2018, no grupo “BD”, a opinião geral é semelhante. O ministro é chamado de “inquisitivo” e que esta sua fama “é antiga”. Monique Checker, da Procuradoria da República dos municípios de Osasco e Barueri, afirma que o magistrado “viola sempre o sistema acusatório” e só é “tolerado” devido aos seus resultados.
No mesmo dia, no grupo intitulado “MPF GILMAR MENDES”, outros procuradores integrantes da força-tarefa da Lava-Jato em outros estados do país, também repercutem a nomeação de Moro. “Acho inoportuno”, diz José Augusto Simões Vagos, da procuradoria do Rio de Janeiro.
Outro procurador do Rio, Sérgio Luiz Pinel Dias, responde que a decisão é “ruim” para o “legado” da operação Lava-Jato, e que agora será difícil que no “futuro” seja repelida a ideia de que ela “integrou o governo de Bolsonaro”.
A publicação traz ainda supostos prints de conversas no grupo “BD” com outros procuradores. A maioria deles compartilha a mesma opinião sobre os excessos do juiz e com o impacto da sua nomeação para o ministério da Justiça. ”
(Luiz Felipe Fernandez)