Vaza Jato: Deltan sugeriu que Moro protegeria Flávio Bolsonaro para não desagradar o presidente

Foto : Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Novos diálogos divulgados hoje (21) pelo site The Intercept Brasil apontam que o coordenador da operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, concordou com a avaliação de procuradores do Ministério Público Federal de que o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) mantinha um esquema de corrupção em seu gabinete quando foi deputado estadual no Rio de Janeiro. 

De acordo com os procuradores, o esquema, operado pelo assessor Fabrício Queiroz, seria similar a outros escândalos em que deputados estaduais foram acusados de empregar funcionários fantasmas e recolher parte do salário como contrapartida. Embora avaliasse que Flávio “certamente” seria implicado no esquema, ele demonstrou uma preocupação: temia que o ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sergio Moro, não perseguisse a investigação devido a pressões políticas do então recém eleito presidente Jair Bolsonaro e por desejar ser indicado para o Supremo Tribunal Federal, o STF. 

Até hoje, como presumia Dallagnol, não há indícios de que Moro, que na época das conversas já havia deixado a 13ª Vara Federal de Curitiba e aceitado o convite de Bolsonaro para assumir o Ministério da Justiça, tenha tomado qualquer medida para investigar o esquema, bem como suas ligações com poderosas milícias do Rio de Janeiro.

O escândalo envolvendo Flávio, que vinha dominando as manchetes, desapareceu da mídia nos últimos meses e só voltou a entrar em pauta na segunda (15), quando o presidente do STF, ministro Dias Toffoli, atendeu ao pedido do senador e suspendeu as investigações iniciadas sem aprovação judicial envolvendo o uso dos dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras.

Os diálogos

No dia 8 de dezembro de 2018, Dallagnol postou num grupo de chat no Telegram chamado Filhos do Januario 3, composto de procuradores da Lava Jato, o link para um reportagem no UOL sobre um depósito de R$ 24 mil feito por Queiroz numa conta em nome da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Segundo o texto, a “transação foi apontada como “atípica” pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e anexado a uma investigação do Ministério Público Federal, na Lava Jato”. Dallagnol pediu opiniões dos colegas sobre o caso e manifestou sérias preocupações com a maneira como Moro conduziria o caso, sugerindo que o ex-juiz poderia ser leniente com Flávio, seja por limites impostos pelo presidente ou pela intenção de Moro de não pôr em risco sua indicação ao Supremo. Participam da conversa os procuradores Julio Noronha, Januário Paludo, Jerusa Viecilli, Athayde Ribeiro Costa, Andrey Borges de Mendonça, Antônio Carlos Welter e Roberson Pozzobon.

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