‘Você é obrigado a participar’: o que os homens falam sobre as mulheres quando ninguém está olhando, misoginia

Imagem: TV/Globo

Que homens heterossexuais falam de mulheres, todo mundo sabe. Da aparência, da roupa, do jeito e por aí vai. Mulheres falam de homens também e, desde sempre, tem sido assim. Certo?

Errado. Seria assim se não houvesse um desequilíbrio entre ambas as partes – ou seja, se comentários feitos por homens sobre mulheres não fossem frequentemente mais explícitos ou até agressivos. Ou se não houvesse uma mudança drástica no teor de diálogos masculinos quando mulheres estão presentes de quando são apenas homens no recinto. “O assunto muda completamente. Sendo bem sincero, quando tem uma mulher presente, a gente tenta não ser babaca, porque é nossa imagem ali. Quando a gente está sozinho, o assunto é mulher”, me disse Murilo*, um gerente de negócios de 21 anos.

Sem maniqueísmos, sempre houve um conhecimento tácito de que comentários feitos por homens – e aqui enfatizamos este recorte nos heterossexuais que se encaixam no estereótipo – seriam mais “pesados” do que os feitos por mulheres. Seja lá o que quer que isso signifique.

O fato é que a desigualdade de gênero que está presente até em uma simples conversa entrou nas casas brasileiras de uma nova forma, desde o último sábado (13). Isso porque a conversa de participantes homens do Big Brother Brasil 24 gerou revolta na web, além de acusações de machismo e misoginia.

O participante Rodriguinho, que já foi acusado de agredir a ex-esposa em 2021, ficou em evidência por dizer que a modelo Yasmin Brunet estava velha, aos 35, e que “largou a mão” para comer biscoitos com requeijão no programa. Ele e outro brother, Vinicius, se referiram a outra mulher – cujo nome não foi citado – como picanha mignon. Rodrigo e Nizan ainda criticaram a participante Isabelle, por gostar de músicas do Boi Bumbá. Os comentários foram apontados como xenofóbicos.

As cenas do Big Brother incomodaram tanto a ponto de terem repercutido nos dias que seguiram ao acontecido. Mas isso aconteceu justamente porque o debate foi muito além do programa. Ele foi entendido como um mero reflexo de um universo muito maior. Por isso, propus uma discussão nesse sentido: afinal, o que falam os homens quando as mulheres não estão presentes? E por que eles se sentem tão confortáveis para falar dessa forma?

Durante

O processo de apuração contou com algumas decisões desde o início. A primeira delas é que para este texto, todas as fontes seriam homens – algo que não costumo fazer em minhas reportagens, em que busco paridade de gênero nas fontes. Mas, aqui, se o problema é deles e criado por eles, nada mais justo que eles encontrem uma forma de resolver. Assim, com exceção do texto que você lerá ao lado, que tem motivos especiais para quebrar a regra, só homens foram ouvidos.

Os rapazes que aceitaram refletir sobre isso não serão identificados por seus nomes reais – todos ganharam prenomes fictícios para não expor ninguém. Apenas os pesquisadores são citados por seus nomes verdadeiros, já que a proposta com eles é outra.

Além disso, se você chegou até aqui, deve ter percebido que o estilo deste texto é outro. Para começar, estou falando em primeira pessoa. A decisão de escrever este texto como um relato foi motivada por um ponto em comum na maioria das entrevistas. Ao menos três deles me pediram desculpas por repetir os comentários para mim. Todos se mostraram constrangidos, ao menos em algum momento.

A maioria ainda foi relutante em dizer exatamente o que eu perguntava ou em citar os termos que costumam ser usados. Aqui, devo reiterar que estamos falando de um universo muito específico.

Sabemos que existem diversas masculinidades. Nem mesmo os homens com quem falamos fazem parte deste recorte necessariamente – eles só aceitaram ser mensageiros, até por discordâncias dos amigos. Então, se você é um homem heterossexual que não faz nada disso, ótimo. Parabéns por fazer sua obrigação. Se você é um homem, mas não é heterossexual, é possível que já tenha sido vítima de comentários assim também. Se você não é um homem, prenda a respiração.

Sem filtro

Uma das perguntas que fiz a todos foi: com que frequência surgem comentários sobre a aparência de mulheres quando elas não estão presentes? A maioria estimou alto – entre 80% e 90% de todos os momentos em que há pelo menos dois espécimes do sexo masculino. Apenas um calculou algo por volta de 45%.

“Sem mentira, acho que é o normal no meio de homens. Por mais que, por trás, eles falem que não aceitam ou que criticam, no meio dos amigos sempre rola. Um fala, o outro fala e você acaba sendo obrigado a participar. Não é o correto, eu sei, mas é o mais comum”, contou o arquiteto Caio*, 33. Para Caio, fazer esse tipo de comentário sobre mulheres é tipo virose. Tem contágio. E tem sido assim desde que ele se lembra por gente, tendo começado ainda na época de escola. “Antigamente era até mais normal, entre aspas. Hoje muita gente critica, não aceita”, admite.

Mas se tanta gente ainda se sente confortável assim, na opinião do estudante de Engenharia Lucas*, 24, é porque, entre homens, eles perderiam o filtro. Além disso, o tal do ego masculino – que apareceu nas entrevistas mais de uma vez como suposta justificativa – faria com que muito se dispusessem a expor mais e mais experiências. Com elas do lado, a coisa mudaria – seria como admitir um desvio de conduta. “É como você ter um delegado e um juiz e você falar do crime que você cometeu. Se você faz isso, elimina a chance de ter alguma coisa. A mente masculina acha que ‘se eu falar alguma besteira ela pode não me querer no futuro”.

Ele também acredita que é o perfeito caso do ditado dos ratos que fazem a festa na ausência do gato. “Quando não tem um indivíduo presente, você se sente à vontade para falar mal dele. Não necessariamente mulheres mas qualquer pessoa”. Opa, espera aí. Isso me chamou atenção. “Falar mal? Em geral, fala-se mal de quem a gente não gosta. Falar mal de mulheres significa não gostar delas?”, questionei. Ele se corrigiu. “Não é necessariamente falar mal, mas é aquela história. A pessoa não muda um conto, mas aumenta um conto. O cara vai falar uma parada que aconteceu, mas que só foi daquele jeito na cabeça dele. Para aumentar o ego, ele fala como se fosse uma parada muito f*da”, explica.

Já o cirurgião-dentista Bernardo*, 26, lembrou outro aspecto: o receio que alguns homens têm de serem visto como assediadores. “(Na frente delas), os comentários ficam mais respeitosos. Eles evitam fazer mais comentários que de certa forma soariam como um assédio ou agressão”.

Ouvindo isso

Agora, sou eu quem vai pedir desculpas a você, leitora (e leitor também, por extensão). Não porque eu concorde que homens não devem falar isso para mulheres, mas porque penso que eles não deveriam falar a ninguém. Não deveriam falar. Fim de história.

Mas como muitos ainda não chegaram a essa lucubração, vamos aos comentários mais comuns – na sua forma mais crua e, adianto, possivelmente também cruel. Depois de bastante insistência nossa, os guerreiros que aceitaram contar o que escutam por aí em seus grupos abriram o jogo.

“Quando aparecia uma mulher muito gorda, muito negra ou muito feia, vinham logo os comentários sobre as partes íntimas. Se era de tal cor. Tem cara que vê uma branca bonita e fala ‘essa aí é boa que é rosa’. No caso das mulheres gordas, já ouvi que era cheia de bife. No caso das negras, são comentários racistas mesmo”, diz o arquiteto Caio, que acredita que esse tipo de atitude é mais comum entre dos 18 aos 25 anos.

“Se você chega nos 30 falando assim, é porque é imaturo demais. Mas quando está no meio dos amigos, não tem negócio de idade. Parece que tudo vira criança”. Essa questão não é consenso. Há quem acredite que os homens mais velhos são “piores”. “Acho que mais velho é bem difícil. Quando chega numa idade maior, a pessoa vem com essa ideia a vida toda. Tem que ter um trabalho de base para que as gerações futuras sejam diferentes. Uma pessoa que fumou por 40 anos, você fala que está errado fumar. Como ela vai aceitar que está errado?”, ponderou Lucas.

Mesmo assim, outro ponto comum foi a suposta imaturidade. Mas será que é isso mesmo? Já as mulheres precisam lidar com o oposto – o etarismo. São velhas demais, são ‘papa anjo’… O caso do BBB exemplifica bem isso. Rodriguinho, ex-cantor do Travessos, foi lá dizer que Yasmin Brunet estava velha, mas esqueceu que ela é 10 anos mais jovem que ele.

O estudante Lucas fez questão de garantir algumas vezes que, no meio dele, comentários assim não são tão ofensivos quanto em outros círculos. “Tem os normais. Fulana é bonitinha, normal. Não é aquela coisa forte de ‘p*rra, car*lho, que é isso’, como se a pessoa fosse um pedaço de carne. O cirurgião-dentista Bernardo também entregou os piores que já ouviu. “(O mais comum) seria: ‘eu ia fácil. Eu ia todo nela’. E também ‘Fulana é muito gostosa. Fulana é muito boa, eu ch*paria toda”.

Mas foi o gerente de negócios Murilo quem mais levou a sério o meu pedido para que fossem o mais sinceros possível. Primeiro, ele tentou dizer que os comentários sobre a aparência das mulheres era do tipo “boca carnuda, seios maravilhosos”. Eu interrompi. Por mais que não fosse confortável escutar, era difícil acreditar que um homem falaria como se estivesse em um episódio de Bridgerton – a série de época romântica sobre a realeza britânica da Netflix.

“Você quer um exemplo mesmo? Então, a gente fala o nome da pessoa e diz ‘pô, essa mulher tem um p*ta peito bonito, tem coxão, tem bundona. Me desculpe o termo constrangedor”, ele hesitou antes de vir com a última bomba, citando especificamente o órgão sexual feminino com um termo impublicável. “Aí você entra na sacanagem. Diz: ‘pô, irmão, você não vai dar conta. Você não tem p** para c*mer uma mulher dessa”.

Respostas

Foi o suficiente para mim. Ouvir tudo isso me fez lembrar de um post de uma mulher que viralizou no X (ex-Twitter) essa semana. Ela falava sobre como responder a esse tipo de comentário – não diretamente, mas como movimento maior. “Temos que parar de tentar educá-los. Temos que responder na mesma moeda. Criticá-los. Zombá-los. Falar da calvície. Falar da flacidez. Falar do p*nto pequeno”, dizia a postagem que, da última vez que chequei, tinha mais de 65 mil likes e tinha sido compartilhada mais de 13,5 mil vezes.

O mais curioso é que todos eles pareciam saber que falar esse tipo de coisa é errado. Que é algo que não deve ser feito. Alguns disseram que já se arrependeram, que se modulam, que corrigem os amigos. Citam até mesmo o patriarcado. “Mesmo com o movimento feminista, mesmo com essa educação social que vem por parte da mídia, com todos esses casos em novelas, filmes, documentários, revistas… A gente anda tem uma sociedade muito machista. Por conta disso, acho que ainda tem muitos homens que se sentem à vontade para chegar numa roda de conversa e largar isso”, admitiu Murilo.

A melhora também foi notada por Bernardo. Para ele, já tem uma mudança de postura na roda de amigos. “É o sentido de às vezes reconhecer é que o comentário. Eu percebi isso”. Já Lucas, que afirma corrigir amigos sempre que pode, acredita que a mudança ainda é pequena. Mas ele questiona a abordagem entre os amigos, na hora de mostrar a reprovação. “Acho que só muda com a educação, não tem para onde correr. Porque acho complicado ficar retaliando o tempo inteiro. Tem que ter educação de uma forma leve, para não destruir as relações. Tem que partir da pessoa também”, diz.

Cumplicidade

O tal do filtro perdido, citado lá no começo, esconde um debate mais importante: a forma como os homens se comunicam entre si. “Isso me remete à questão da cumplicidade masculina, ou seja, ao acordo não dito e não escrito entre os homens se protegerem em detrimentos das mulheres”, lembra o psicólogo André Villela, pesquisador do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Psicologia da Saúde da Universidade de São Paulo (USP) e um dos coordenadores do grupo Masculinidades da instituição.

“A gente vê muito, por exemplo, notícias de mulheres abusadas em festas, em lugares públicos. Outros homens veem isso e ninguém ajuda. Quando esses homens estão conversando sozinhos e tendo essas conversas sobre corpos femininos, essa cumplicidade está sendo expressa no seu mais íntimo”, acrescenta.

Ainda que sejam pessoas reais no BBB, o professor Benedito Medrado, coordenador do Núcleo Feminista de Pesquisas em Gênero e Masculinidades da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ressalta que são personagens. Mas, na vida real, estamos também interpretado personagens o tempo inteiro. Ele lembra que, apesar de um século de conquistas dos movimentos feministas o Brasil, a igualdade de gênero ainda está longe de ser alcançada.

Para ele, toda essa reação às cenas do BBB – até mesmo esta reportagem – é positiva. “Eu não gosto de dizer que a gente não mudou nada. Mudou muito. Isso não veio por acaso. Não veio por causa do movimento de homens refletindo sobre sua condição. Veio a partir do movimento de mulheres questionando a sociedade e seu lugar originalmente. Os homens ainda não passaram por isso”, diz o professor, que é doutor em psicologia social e representante brasileiro da Red Internacional de Estudios sobre Masculinidades.

O ato de pedir desculpas a uma jornalista por repetir palavras ofensivas também reflete um dos pontos-chave desse comportamento, segundo o pesquisador André Villela, da USP. “Falar entre homens não é só normal, mas o correto. Não é que eles saibam que é errado, mas sabem que é errado falar para você, que é uma mulher. É a lógica do: ‘você vai ver como eu penso de verdade e eu não quero isso para não ter nenhum problema. A questão é tirar o véu dessa cumplicidade”.

Outro movimento de desculpa também chama atenção. Mas, dessa vez, não dos nossos entrevistados e sim do participante Davi, do BBB, que pediu desculpas por uma fala considerada homofóbica no programa esta semana. “Esse é um movimento pouco comum ainda. A maioria dos homens, quando questionados, não pede desculpa. Eles se desculpam falado que são de uma sociedade em que isso se repete”, aponta o professor Benedito Medrado, da UFPE.

A escolha de palavras também está ligada a dois universos simbólicos diferentes. Não é por acaso que os termos usados por homens sejam tão explícitos, agressivos e até criminosos, em alguns casos. “Quando a gente quer ofender um homem, a ofensa está ligada à vida pública. Quando quer ofender a mulher, sempre são coisas ligadas à sexualidade”, diz Medrado.

Para o professor, a ideia de que homens mais velhos teriam mais dificuldade com a mudança também não faz sentido. Ele cita uma sensação de autorização cultural que é dada a esses homens a partir de que um arquétipo construído de que seriam mais intransigente e violentos, o que não se verifica na prática.

Além disso, esse problema se tornou uma questão social a partir das denúncias do feminismo, que propôs caminhos e transformação. A própria ideia de o que o privado é político veio do feminismo. “A curto prazo, talvez seja a possibilidade de começar a quebrar com a ideia de não tratar como mimimi coisas que são complexas e problemáticas. Se eu sou contra a violência contra a mulher, tenho que criar canais de romper com formas que alimentam a violência. Não adianta nada eu querer que ela não seja agredida por achar graça de uma piada depreciativa”.

Outra coisa que pode ser cobrada é a responsabilização, como lembra o pesquisador André Villela, da USP. Oficinas e rodas de conversa, por exemplo, podem até ser eficazes mas homens dificilmente vão participar disso espontaneamente.

“Talvez até a própria punição é o que faz mais sentido junto com o apoio às mulheres que são vítimas. Esse é um debate muito em voga hoje, da liberdade de expressão. Tem gente que acha que tem que resolver a coisa no campo das ideias e na Justiça, mas acho que estão romantizando a questão. Nunca vi machismo ser resolvido no campo das ideias”, reforça.

O professor Fabio Araújo, doutor em linguística e coordenador do grupo de pesquisa Masculinidades em Discurso da Universidade do Estado da Bahia, explica que o discurso hegemônico predominantemente a favor dos homens encontra sustentação em outros, como o religioso ou mesmo o currículo escolar. “Vai ver ali um discurso que não aborda questões importantes de gênero e sexualidade que cruza os braços ou até mesmo contribui para a manutenção do discurso machista”.

Nos livros didáticos, por exemplo, ele cita as diferenças de representação de homens e mulheres. Eles estão no espaço público ou nos esportes, enquanto elas ficam no espaço da casa.

“Embora existam práticas de crítica ao machismo na universidade, por exemplo, predominantemente você tem a manutenção a família, na escola, na igreja, nas artes. A piada na família, por exemplo, é uma coisa muito séria. Tudo isso vai construindo uma ideia de masculinidade, do que é ser homem”.

Uma das formas de enfretar o problema, para ele, é justamente pela educação, com a inclusão de discussões de gênero no currículo escolar. “Discutir violência contra a muher é discutir gênero. Discutir violência entre homens discute gênero também”, pontua. Além disso, Araújo defende uma crítica na produção cultural. “Não estou falando de censura, não estou falando de proibir circulação, mas de refletir sobre o que circula”.

Falas misóginas de Trump inspiraram bestseller sobre homens leitores de romance

Nos Estados Unidos, um episódio semelhante ao dos homens do BBB tinha chamado a atenção da escritora Lyssa Kay Adams. Era 2016 e, em meio à campanha para as eleições presidenciais daquele ano, vazou uma gravação do então candidato Donald Trump usando termos depreciativos e vulgares para falar de mulheres. Ao fundo, ouvia-se risos de outros homens.

“Muitos homens defenderam a gravação e o que Trump disse. Eles diziam ‘mas é assim que homens falam quando estão juntos’. E eu decidi que eu não ia aceitar. Chegou a hora de eles aprenderem que isso não é mais aceitável”, lembra Lyssa, em entrevista ao Correio, pelo Zoom, na última quinta-feira (18). Esse foi o ponto de partida para que ela começasse a escrever o primeiro livro de uma série que se tornou bestseller: Clube do Livro dos Homens, eleito o melhor romance de 2019 pela Amazon e lançado em 2021 no Brasil, pela editora Arqueiro.

No primeiro volume (já são cinco disponíveis), o jogador de futebol americano Gavin está no auge da carreira mas vê seu casamento se deterioriar ao descobrir que a esposa fingia ter prazer na cama. Ele acaba encontrando ajuda em um clube do livro secreto, em que homens – todos influentes, bonitos e bem-sucedidos – leem romances para serem homens melhores.

“Eu sentei e comecei a escrever esse livro sobre homens que não se comportam dessa forma e que, na verdade, repreendem uns aos outros por mau comportamento”, adianta. Desde o início, Lyssa quis mostrar homens que eram muito bem-sucedidos. Em geral, eles são grandes, fortes e poderiam se encaixar na definição de macho alfa. “Eu queria mostrar homens como esses engajados em se tornar melhores aliados para as mulheres. Porque existe esse mito de que, de alguma forma, ser feminista é um traço feminino. Mas, na verdade, não existe nada ‘antimasculino’ em ser um aliado das mulheres. Não existe nada de ’antimasculinidade’ em ser feminista”, conta.

Responsável pela contratação do livro no Brasil, a editora de aquisições da Arqueiro, Frini Georgakopoulos, explica que diferencia a obra é justamente o perfil dos homens. “São homens influentes em sua área de atuação, atletas, empresários no topo da sua vida se juntam pra ler romances. Uma coisa muito importante que se torna importante na série toda é que, para eles serem pessoas melhores, eles entram em contato com a própria emoção, com os próprios sentimentos. Em todos os livros, a autora faz questão de cenas em que eles se emocionam, se abraçam e demonstram sensibilidade”.

Ainda que o maior público seja feminino, Lyssa tem muitos leitores homens. Ela recebe desde os relatos daqueles que eram leitores silenciosos do gênero até os que nunca tinham lido e se aventuraram em sua obra por influência das parceiras. “Mas minhas mensagens preferidas são de homens que diziam: ‘isso realmente me fez pensar diferente. Esse livro me fez perceber que quando um amigo faz piadas depreciativas sobre mulheres, eu tenho a responsabilidade de dizer ‘ei, isso não é legal, você não pode fazer isso’. Nós temos pensar em uma nova forma de nos conectar como homens”, conta a autora.

Lyssa acabou criando personagens que servem de (bom) exemplo aos homens. Para ela, a relação dos homens da ficção pode dizer aos homens da história como eles podem se conectar com os amigos. “Você pode se conectar aos seus amigos homens de outra forma sem perder a sua carteirinha de homem. Não tem nada de legal, não tem nada de masculino em se ligar aos seus amigos homens através a degradação sexual das mulheres”.

No Brasil, a saga do clube foi bem-recebida. Além do romance, todos os cinco já lançados trazem temáticas como assédio e traumas familiares. Entre os homens que leram as obras e já entraram em contato com a editora, há mensagens do quanto acham válido discutir esses temas. Frini Georgakopoulos, da Arqueiro, destaca duas situações marcantes. A primeira foi bem na Bienal do Livro da Bahia, em 2022, quando Lyssa veio ao Brasil pela primeira vez. “Na fila para o autógrafo dela, um rapaz pediu a garota em namoro com em aliança. Foi na frente da autora, que ficou super emocionada e ele também era leitor”, lembra.

A segunda foi com o narrador dos audiolivros da série em português. “Todos são narrados pelo mesmo narrador, Adriano Pellegrino. le amou os livros, falou muito para a esposa sobnre. No dia que a autora veio para o Rio, ele entrou na fila para que ela autografasse. Inclusive, homens, se vocês ainda têm receio de serem pegos lendo romance, escute os romances que ninguém vai saber”, brinca a editora.

O primeiro livro da série teve os direitos de adaptação vendidos para um filme na Netflix, mas ainda não há data de lançamento.

*Nomes fictícios

por Thais Borges / Correio

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