Duas em dez mulheres têm câncer de mama por causa da herança genética

O estudo mais completo sobre câncer de mama já feito na América Latina confirmou o peso da herança genética no desenvolvimento da doença.

Três gerações de mulheres que enfrentaram o câncer: a avó teve na mama, a mãe no pulmão e a Patrícia, no intestino. A vida virou do avesso quando ela ouviu o diagnóstico. Por causa dos casos na família, o médico pediu um teste genético e o resultado mostrou uma mutação que aumenta o risco para câncer de mama.

Buscar qualquer tratamento que seja onde a gente consiga uma melhor resposta, acho que é muito válido”, diz a administradora Patrícia Fernandes Pereira dos Reis.

Difícil acreditar quando o diagnóstico de câncer de mama aparece quando se tem apenas 23 anos.

“Descobri da forma mais ocasional possível. Espreguicei em um domingo, encostei a mão na mama e senti algo que achava que não era normal”, relembra Evelin de Moraes Scarelli, coordenadora do projeto Oncoguia.

A Evelin foi a primeira da família. Depois de dois anos, a mãe dela teve o mesmo diagnóstico.

“A gente descobriu que minha mãe era portadora da mutação genética. Depois eu fiz o mesmo teste e o meu também deu positivo”, revela Evelin.
Segundo especialistas, o câncer hereditário é mais frequente em mulheres jovens ou com histórico de câncer na família. É o que mostrou o maior estudo feito na América Latina de sequenciamento de múltiplos genes. O levantamento, realizado por pesquisadores brasileiros, mostrou que as alterações de genes relacionados ao câncer de mama hereditário estavam presentes em duas de cada dez mulheres.

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Um dos pesquisadores destaca a importância desse diagnóstico precoce.

“Essa pessoa pode utilizar essa informação para se antecipar a problemas. Ela pode ficar dez passos na frente da doença e realizar uma série de estratégias de prevenção, que no total podem reduzir em até 90% a chance dessas pacientes desenvolverem câncer durante a vida”, afirma Rodrigo Guindalini, pesquisador e oncologista.

Depois do teste, Evelin fez todo o tratamento e engravidou três anos depois. “A gente não sabe como vai ser no futuro, mas a gente sabe que o Bento vai ter a referência de uma mãe forte, que lutou contra o câncer, que lida com a questão da mutação genética na vida dele também. Ele vai conviver com isso junto comigo, vai fazer parte da rotina, dos exames. Mas tenho certeza também que a ciência e a medicina vai estar bem diferente lá para frente, quando a gente for se preocupar com isso”, ressalta. (G1)

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