Esse Menino, humorista que ficou conhecido pelo vídeo viral da “pifaizer”, anunciou que vai tirar “férias, sem tempo certo de acabar”.
“Isso não é um ‘tchau’, é um ‘até logo'”, escreveu o humorista mineiro de 25 anos em uma postagem nas redes sociais, nesta teça-feira (28).
Junto com o texto, Esse Menino compartilhou um vídeo de cerca de cinco minutos, no qual revela que sofre de ansiedade e depressão. Ele ainda afirmou que o primeiro dinheiro que recebeu de um trabalho após o vídeo viralizar, em junho de 2021, investiu em um psiquiatra.
“Sofro com uma imensa ansiedade. Tenho depressão diagnosticada já tem um tempo e também déficit de atenção. Em muitos casos, inclusive no meu, leva a várias questões de auto cobrança e autoestima.”
“A gente consegue às vezes ser muito ruim com a gente mesmo. Inclusive, quando o primeiro aqué de um trabalho caiu, a primeira coisa que eu fiz foi pagar um psiquiatra muito bom pra eu poder entender aí essas questões, porque era uma coisa que eu já sabia, mas não tinha como me tratar, porque infelizmente saúde mental ainda é um luxo”, afirmou o humorista.
“Então, o que eu não queria mesmo era compactuar com essa ideia falsa que a internet muitas vezes constrói de que é tudo mel na chupeta”, afirmou o humorista, relatando ainda que sofreu uma crise de ansiedade quando estava gravando o projeto “EsseMenino.mp3”
“Um ataque de ansiedade, sentindo paralisado, com falta de ar, no sofá de uma psicóloga, pedindo ‘pelo amor de Deus, me ajuda’, porque as coisas não estavam boas aqui dentro”, relatou o humorista, após falar sobre as férias por tempo indeterminado.
“Vindo falar um negócio aqui que já tô um pouco agoniado em como dizer já tem um tempo, mas chegou a hora. Eu vou sair de férias e vou ficar um tempo sem entrar nas redes sociais, sem postar nada, sem trabalhar. Espero que vocês entendam. Esse ano, minha vida mudou e eu ainda não sei bem se eu sei me expressar direito sobre tudo o que senti até aqui desde a viralização. Mas por enquanto eu posso adiantar a vocês que eu tô muito grato, que eu tô muito feliz com a forma que vocês me abraçaram.”
“Desde quando tudo aconteceu, eu não parei de trabalhar. Eu segui quente, pelando, e falei: ‘é isso que eu quero mesmo, vou aproveitar essa atenção que estou recebendo, vou capitalizar em cima dessa atenção que eu tô recebendo’. Tenho 25 anos, cresci na internet, sei muito bem como ela funciona, sei que a qualquer momento a galera mastiga, mastiga e cospe a gente. Então em falei: vão bora!.”
“E as consequências disso foram, sim, muito bacanas, mas ao mesmo tempo eu estou exausto. Estou cansado demais. Eu me sinto espremido, sabe. As pessoas falaram muito comigo sobre o tanto que eu tirei de letra, sobre como parece que foi fácil pra mim esses últimos seis meses. E não foi.”
“A internet é malandra, ela faz isso. Faz parecer que foi tudo muito massa, muito fácil, chegou, tava pronto.”
Após o desabafo, Esse Menino recebeu diversas mensagens de apoio de famosos, incluindo Ivete Sangalo, Leandra Leal e Fabiula Nascimento.
Nascido em Belo Horizonte, Minas Gerais, Esse Menino tem 25 anos e se considera de Teófilo Otoni, para onde se mudou com a família quando tinha sete anos.
Atualmente morando em BH novamente, ele conta que seu nome artístico surgiu da forma como sua avó o chamava.
“Minha vó me chamou assim a vida inteira. Eu achava que era um apelido, mas depois descobri que ela não sabia meu nome. Mas tudo certo, ela tem muito neto, realmente eu não vou pedir isso dela.”
“E aí, quando decidi que eu ia ter uma carreira, que ia trabalhar no meio artístico, ainda mais com comédia, queria muito trazer alguns elementos, como se fosse uma embalagem, pra eu estar no palco.”
“Achei que seria bom pra mim também, ter essa armadura, ter esse nome quase que de guerra.”
Criador do vídeo em que ironiza os diversos e-mails enviados pela Pfizer para o governo brasileiro, o roteirista e humorista conta que teve todas as reações possíveis ao ver que seu vídeo se tornou viral e saltou de 39 mil seguidores no Instagram para quase um milhão em duas semanas (hoje, ele conta com 1,3 milhão de seguidores).
“Minha reação? Qual você quer? Tive todas, fiquei apavorado, fiquei com medo, fiquei feliz, me senti realizado, me senti em um certo momento foda, depois me senti, putz, uma fraude, depois me senti a gatinha, promessa do humor, depois me senti a que se acha…”, enumerou Esse Menino em entrevista ao g1 realizada em junho. Sim, ele pede para ser chamado dessa forma e não revela o nome real.
“Senti tudo que eu pude sentir. Porque foi assim, apesar de ter sido um pulo, de certa forma, num número muito grande, ele veio parcelado. Primeiro bateu 100 mil, no outro dia 300 mil. Ontem bateu 800 mil. E aí, fico assim: ‘esse povo não vai parar, não, gente? Já tá bom! Não precisava de mais’.”
Esse Menino ingressou na faculdade de Cinema aos 19 anos, mas acabou largando o curso pela metade. Fã de Tatá Werneck (“fico besta com o tanto que ela é incrível, ligeira, desenvolta”), ele tem diversas outras inspirações no humor.
“Consigo beber de várias fontes. Tem a galera aqui do Brasil, tem [Luis] Lobianco, Pedroca Monteiro, o próprio Paulo Gustavo… Mas ao mesmo tempo consigo beber lá de fora, das drag queens de RuPaul, que tem várias que são hilárias e são comediantes antes de qualquer coisa. Tem também a galera antigaça que vem da Austrália, do Reino Unido, é muita gente.”
E os haters?
A armadura no nome já citada pelo humorista também serve para, de certa forma, a pessoa civil se desvincular da profissional em casos de ataques de haters, como tem acontecido bastante nos últimos dias.
“Uma das razões de eu ter escolhido essa capa é até pra isso, pra poder me distanciar um pouco também. E saber que eu não sou meu trabalho, não sou as coisas que coloco no mundo. É uma parte muito importante de mim, mas realmente sou uma pessoa inteira. Não nasci na hora que as pessoas me descobriram na internet.”
O humorista ainda explica que não é de hoje que recebe ataques em suas redes sociais.
“Como eu já trago minha opinião política nos meus textos há um tempo, falo sobre assuntos, nem sempre é só ‘uau, risadinha’. Sempre tento trazer alguma coisa a mais. Já recebia isso antes. Principalmente essa galera linda, que taí, negando a vida e tal. Então sempre tirei meio de letra.”
“Algumas pessoas não gostarem de mim também, de certa forma, é uma certa aprovação. Significa que de alguma forma meu trabalho chegou como tinha que chegar. Nem sempre é só pra rir. Também serve pra incomodar, causar uma reflexão.” (G1)