Filho detalha rituais de Flordelis em cômodo secreto: ‘Aquilo não era normal no meio evangélico’

Foto: Reprodução

O julgamento do assassinato do pastor Anderson do Carmo vem avançando nos últimos dias, com revelações feitas por parte de testemunhas de acusação sobre a intimidade da família formada por ele e sua esposa, a deputada federal Flordelis (PSD-RJ), com destaque para rituais místicos, estranhos à fé evangélica.

Na última sexta-feira, 27 de novembro, Flordelis compareceu a mais uma audiência do julgamento em que é acusada de crime de homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio duplamente qualificado, associação criminosa majorada, uso de documento ideologicamente falso e falsidade ideológica.

Os depoimentos das testemunhas de acusação foram prestados por seu filho afetivo, Wagner Andrade Pimenta, apelidado de Misael; Luana Rangel Pimenta, mulher de Misael; e a empresária Regiane Ramos, amiga de Lucas César dos Santos, um dos filhos de Flordelis que admitiu ter providenciado a arma usada para matar o pastor Anderson do Carmo.

Rituais

Em seu depoimento, Misael pediu à juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce que seu depoimento fosse feito sem a presença de todos os réus, incluindo Flordelis, por se sentir intimidado, já que a convivência com a deputada por mais de 30 anos forma um elo de ligação com os acusados.

Quando falou sobre os bastidores da família de cinco dezenas de filhos adotivos, Misael não titubeou em corroborar depoimentos de outras testemunhas que relataram a realização de rituais que não condizem com a fé evangélica.

“Não era normal no meio evangélico”, resumiu Misael, dizendo que acompanhou as práticas tenebrosas desde que passou a morar com a família, na pré-adolescência: “Ela nos passava como uma coisa de Deus, como algo que estava na Bíblia. No início, eu tinha 13 anos. Então acreditei, caí de cabeça”, disse ele, segundo informações do jornal O Globo.

Essas reuniões místicas foram testemunhadas por Misael desde a época em que a família vivia em Jacarezinho, na zona norte do Rio de Janeiro, e se mantiveram acontecendo ao longo dos anos: “Ela pegava nomes de pessoas que queria que se aproximassem da família e fazia a preparação. Tinha mel, açúcar e alguidar. Havia orações, pedidos para Deus, mas aquilo não era normal no meio evangélico”, fazendo referência ao uso de um recipiente de bordas largas comum em rituais de umbanda.

No depoimento ele também explicou de onde surgiu seu apelido: “Ela falava que era um anjo enviado de Deus. Disse que o Wagner tinha morrido e que o filho espiritual dela tinha nascido, o Misael”.

A união entre Anderson do Carmo e Flordelis foi algo que surpreendeu a família na época, relatou Misael, reiterando os relatos de que o pastor, inicialmente, se relacionava com a filha biológica da deputada, Simone dos Santos: “Ele era denominado guardião dela. Eles foram se casar em 1998 porque ela precisava de uma figura paterna na família. Não havia um pai. Da noite para o dia, eles estavam casados no cartório”.

Morte premeditada

A esposa de Misael, Luana Rangel Pimenta, disse em seu depoimento que teve conversas com Flordelis sobre o casamento com Anderson do Carmo entre 2017 e 2018, e que a aconselhou a se divorciar, mas ouviu como resposta uma recusa sob a alegação de que o rompimento causaria escândalo na igreja que ela e o marido lideravam.

Conforme veiculado pela Jovem Pan, Luana disse que a deputada federal tinha manifestado o desejo da morte do marido e que recebia mensagens divinas de que o pastor ia morrer porque estaria atrapalhando a obra de Deus.

Flordelis acompanhou o depoimento, e a cada declaração da nora, meneava a cabeça reprovando as afirmações.

Porém, os relatos vão todos na direção de incrimina-la: a empresária Regiane Ramos, que alegou ter sofrido intimidação durante as investigações, declarou no depoimento que logo após a execução de Anderson do Carmo, a deputada ordenou ao filho Carlos Ubiraci, também pastor, que retirasse uma mala da casa, para dificultar a investigação.

Regiane também comentou os rituais macabros, dizendo que um cômodo da casa, chamado de quarto da oração, era proibido para a maioria dos membros da família: “Só algumas pessoas podiam entrar nesses rituais. São para acabar casamento, fazer as pessoas ficarem cada vez mais grudadas a ela. Eles não são evangélicos”, afirmou, complementando que Flordelis se apresentava como evangélica porque essa era a religião “que dava dinheiro”.

Gospel+ / Tiago Chagas

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