Promotora de Justiça é alvo de comentários homofóbicos de advogado em sessão de júri

Ataques foram feitos pelo advogado Celso Vendramini | Foto: Facebook

A promotora de Justiça Cláudia Ferreira Mac Dowell foi alvo de comentários homofóbicos durante uma sessão do 2º Tribunal do Júri, em São Paulo, nos dias 6e 7 de novembro. Assumidamente lésbica, a promotora foi alvo das ofensas do advogado Celso Vendramini, ex-policial, que defende policiais acusados de execução.

Durante o julgamento, o advogado, que nas redes sociais declara apoio ao presidente Jair Bolsonaro, e prega valores da família, disse que não tem nada contra homossexuais, mas que quem quiser ser, que seja “entre quatro paredes, só não fica influenciando as crianças”. “Esse negócio de movimento LGBT só serve para uma coisa: ir à Avenida Paulista enfiar crucifixo no ânus e na vagina”.

Ao jornal Ponte, a promotora relatou que o caso envolvia a morte de dois suspeitos de roubar uma van, que fugiram da polícia. Os corpos foram encontrados no telhado de uma casa em uma comunidade. Os PMs os fizeram descer e os executaram, segundo relatos de uma testemunha. A promotora contou que, durante os ataques, o advogado disse que Bolsonaro “vai acabar com a corrupção, vai valorizar a família”, e que “bom mesmo é [Vladimir] Putin [presidente da Rússia] que acabou com palhaçada de passeata gay’”. Segundo Cláudia, “só faltou ele falar da terra plana, de queimadas na Amazônia” e que ele não discutia a causa enquanto ela falava das provas.

A promotora também narrou que em um momento o advogado disse que os LGBT+ são contra os policiais e falou de forma pejorativa que “menino tem que vestir azul e menina, rosa”. Também houve falas de que “bandido bom é bandido morto”, “Mulher de bandido é bandida também” e que, quando era policial “mandei 50 para o inferno”. Quando saiu a sentença pela absolvição dos policiais, a promotora pediu para ser incluído na ata uma pequena ponderação de agradecer ao advogado por “ser tão explícito nesse tipo de pensamento retrogrado, obscurantista, medieval, preconceituoso”. “Ele mostrava para mim que eu tinha obrigação, como homossexual e detentora de um cargo de autoridade, de exigir a defesa dos direitos de pessoas como eu”, explica Cláudia.

A Associação Paulista do Ministério Público (APMP) emitiu nota de repúdio pelos ataques promovidos por Vendramini. “É inaceitável que uma agente do sistema de Justiça, no cumprimento constitucional de suas funções, sofra qualquer tipo de ofensa. Muito pior quando se configura discriminação relacionada à sua orientação sexual”, posiciona-se. Um ato de desagravo acontecerá no dia 16 de dezembro, no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo. Após o ocorrido, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) emitiu nota de desagravo e declarou apoio a promotora  de Justiça Cláudia Ferreira Mac Dowell. “Neste ambiente, os debates são firmes, mas evidentemente não devem ultrapassar os limites da urbanidade”, disse a instituição.

Em sua defesa, o advogado falou ao jornal que a promotora “está com o ego machucado” e que não houve tentativa de ofender a membro do Ministério Público. “O que falei no tribunal está gravado e pedi para a juíza deixar a gravação à disposição no processo, foi o seguinte: nunca fui contra o movimento LGBT, em hipótese alguma, nada contra. Se meus filhos fossem, aceitaria, mas não concordava com aquelas manifestações na Avenida Paulista, em que pessoas introduziram um crucifixo na vagina e no ânus. Não concordava. Achava que era um abuso muito grande, um crime contra o Código Penal”, detalha, dizendo não saber o motivo da revolta de Mac Dowell. “Falei que se ela concordasse com esse tipo de situação não poderia ser promotora de Justiça porque atentava contra a lei”, declarou.  “Ela está chocada que perdeu o julgamento, queria condenar e não conseguiu. Está com o ego machucado, infelizmente. Uma promotora não deveria se sentir assim”, afirma o advogado.

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