Um antigo fantasma voltou a amedrontar o ex-governador da Bahia e ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT). O caso dos respiradores retornou ao noticiário político, nesta semana, após a delação premiada da dona da Hempcare, Cristiana Prestes Taddeo, ser vazada e ser divulgada pelo portal Uol.
O acordo de colaboração premiada foi homologado em 2022 – isto significa que atendeu aos critérios de regularidade, legalidade e voluntariedade -, mas alguns detalhes só vieram a público na última quarta-feira (3).
Cristiana Taddeo relatou que as citações aos nomes de Rui Costa e da ex-primeira-dama, Aline Peixoto, que é atual conselheira do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), no depoimento à Polícia Civil foram omitidas pelos investigadores do órgão estadual. O que seria, segundo ela, uma ação para blindar o casal.
Segundo a versão da delatora, a contratação da Hempcare, que forneceria 300 respiradores no período da pandemia da covid-19, foi intermediada pelo empresário baiano Cleber Isaac, que se apresentou como “amigo” de Rui e Aline.
Isaac teria cobrado, de acordo com Taddeo, uma “comissão” que no total foi de R$11 milhões para fechar a compra dos equipamentos, que custaram R$48 milhões. Dinheiro este que foi pago pelo Consórcio do Nordeste e nunca voltou aos cofres públicos. Se a divulgação da delação premiada não trouxe grandes novidades, ela gerou desgaste para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Analistas políticos, como Tales Farias, do Uol, chegaram a pedir a cabeça do ministro da Casa Civil. “Está mais do que na hora de o Lula adotar a ‘lei Itamar Franco’. Quando foi presidente, Itamar disse que ministro envolvido em alguma acusação de falcatrua ou irregularidade será afastado. Simples assim, e o governo fica limpo”, disse ele.
Em meio às acusações, o presidente Lula, no entanto, decidiu apoiar o auxiliar. Em um evento em Pernambuco, ele afirmou que Rui Costa era “como um primeiro-ministro”. No regime parlamentarista, o primeiro-ministro é responsável por coordenar as atividades no governo.
O blog do jornalista Ricardo Noblat publicou que Rui só não foi rifado da gestão, após o vazamento da delação, por causa do aumento no conflito entre o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
A tensão entre eles fez com que Lula se dedicasse ao assunto e até mesmo cogitasse troca na estatal.
Desgaste
O caso dos respiradores é mais um envolvendo Rui a causar mal-estar no governo Lula. Em junho do ano passado, o ministro disse que Brasília era uma “ilha da fantasia”, durante um evento na Bahia. Deputados enviaram um ofício pedindo ao presidente a demissão do petista baiano. A polêmica fez com que o ex-governador tivesse que vir a público pedir desculpa. Na época, Lula mandou que o ministro se retratasse publicamente.
O estilo de Rui, considerado ríspido, o tornou também alvo de críticas dentro e fora do governo. Líderes parlamentares já reclamaram que o ministro demora para autorizar nomeações em cargos. Dentro do seu ministério, o baiano tem se mostrado insatisfeito com a sua secretária-executiva Miriam Belchior.
Segundo a imprensa nacional, os dois mal se falam e Rui tem reclamado que a subordinada não repassa todos os assuntos que trata direto com o chefe do Planalto. Ele já teria, inclusive, cogitado demiti-la e nomear a sua chefe de gabinete Talita Nobre Pessoa para o posto.
Mas é com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que o ex-governador acumula desavenças. Rui já fez o ex-prefeito de São Paulo esperar por quase uma hora para ser atendido. Revoltado, Haddad levantou e foi embora.
O pano de fundo da briga entre os dois é o recurso. Enquanto Rui Costa quer mais dinheiro para investimentos, custe o que custar, Haddad mira o rigor fiscal. Mas, além disso, os petistas brigam também para saber quem será o sucessor de Lula, principalmente, se o presidente da República decidir não disputar a reeleição em 2026.
Fonte: Correio