Pesquisa revela impacto da saúde mental para engajamento e produtividade

Especialistas garantem que a segurança psicológica do ambiente corporativo é o caminho

Uma pesquisa realizada esse ano pelo pelo Wellz, Gympass e Talenses Group e intitulada “A saúde mental pela perspectiva das pessoas colaboradoras” mostrou que 43% das pessoas indicam que sobrecarga de trabalho é o principal fator de impacto negativo na saúde mental no ambiente corporativo, seguido por pressão por resultados e metas (31%), sentimento de que é necessário estar disponível o tempo todo (30%) e falta de reconhecimento (30%).

O estudo mostrou ainda que para 40% das pessoas consultadas, os benefícios oferecidos pela empresa não são suficientes para a manutenção da própria saúde mental.  A maioria das pessoas colaboradoras (54%) revelou já ter sofrido com algum transtorno de saúde mental. Destas, 71% afirmam ter recebido o diagnóstico de um profissional da área e 63% relatam não ter recebido apoio da liderança para lidar com o transtorno.

Considerado um dos principais especialistas do mundo em Exoconsciência, que é a habilidade natural que os seres humanos têm de entrar em sintonia, conexão e comunicação, o mercadólogo Juliano Pozati salienta que durante muito tempo as empresas ignoraram esse fato como se estivessem contratando robôs. “Os números das pesquisas de doenças, como stress, depressão, burnout, mostram que precisamos mudar o rumo que vem se fazendo. Isso é fato. Um bom começo é pensar nas pessoas como pessoas e não como ‘recursos’”, reflete. 

Organizações doentes

Pozati reforça que se as pessoas estão adoecidas, a organização também está. ”Um bom começo é investir em autoconhecimento estratégico e as inúmeras ferramentas dentro disso. Eu acredito nos talentos naturais e Psicologia de Pontos Fortes como um caminho efetivo. Quando sabemos nosso talento, podemos atuar para tornar eles pontos fortes exclusivos”, orienta.  

Juliano Pozati destaca que pessoas adoecidas produzem empresas e organizações doentes, por isso é tão necessário cuidar da saúde mental dos trabalhadores (Foto: Divulgação)

Diretora da empresa de soluções de recrutamento LHH Nordeste, Carla Veronica reconhece que as empresas começaram a se mobilizar para encontrar, dentro de suas possibilidades e orçamento, formas de dar suporte à saúde mental dos seus funcionários por meio de campanhas internas de conscientização sobre saúde emocional, inclusão do tema no plano de saúde ocupacional envolvendo as equipes de saúde do trabalho, plataformas digitais especializadas de atendimento com psicólogos e terapeutas e o mais desafiador, o envolvimento da liderança nessa causa. 

“Pouco tempo antes da pandemia, estudos apontavam para importância do bem estar integrado, dentro das equipes. Empresas analisavam suas pesquisas de clima organizacional e se deparavam com o fenômeno em que, nas áreas com alto engajamento, tinham pessoas mentalmente saudáveis, relacionando-se com pares e liderança. Engajamento e produtividade dependem de um ambiente saudável”, esclarece, reforçando que nessa época do ano, a questão se torna mais sensível, especialmente porque o final do ano termina despertando o sentimento de finalização de etapas, lutos e recomeços. 

Para Ines Hungerbühler, psicóloga, PhD e líder do Time Clínico do Wellz, cuidar da saúde mental e do bem-estar das pessoas significa cuidar da saúde e do sucesso da empresa. “É importante entender quais são os fatores de risco para piora da saúde mental das pessoas colaboradoras e criar planos de ação para promover um espaço de confiança, abertura e segurança psicológica, para tornar o ambiente de trabalho um recurso para cuidados com a saúde mental e não um fator de risco”, pontua.

Segurança psicológica

Carla Veronica salienta que, para garantir a saúde mental dos colaboradores, nunca se deve abrir mão da segurança psicológica do ambiente corporativo. “Isso significa um lugar onde todos possam expressar suas opiniões e contribuições com liberdade e confiança. Não se deve permitir que os colaboradores sintam medo de retaliações e perseguição quando expressam suas ideias, dúvidas e sugestões”, completa.

Carla Veronica destaca a segurança psicológica como fator fundamental para que as organizações possuam ambientes saudáveis de trabalho (Foto: Divulgação)

Com uma visão parecida, Pozati defende que o papel das lideranças é dar clareza para a equipe do seu papel e do papel de cada um. “Ninguém é bom em tudo. O líder abre caminho, depois, tem que vir junto com ele, pessoas que pavimentem esse caminho e assim por diante”, afirma.

Ines Hungerbühler reforça que os dados mostram que os efeitos de uma liderança que não prioriza o bem-estar de seu time são sistêmicos e não meramente pontuais. “A melhor forma de comunicar que a saúde mental importa é sendo modelo, não em ser impecável, trabalhar horas extras, não ter limites e resposta para tudo, mas sabendo manter um equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal, se cuidando e priorizando a própria saúde, sendo humano e criando espaços psicologicamente seguros”, afirma. 

A psicóloga vai além e afirma que são necessárias ações voltadas à prevenção, como programas de bem-estar e autocuidado, além de oferecer soluções de tratamento e terapia e do monitoramento constante de indicadores para entender o impacto dessas iniciativas. 

Finalizando, Carla Veronica destaca que as lideranças são protagonistas na construção de um ambiente emocionalmente saudável, pois parte delas a condução dos diálogos, sejam individuais ou coletivos. 

“Quando o líder tem baixa empatia e dificuldade de relacionamento, ele não alcança a necessidade daquele colaborador e não conseguirá apoiá-lo para que entregue seu melhor resultado. As lideranças opressoras e com foco extremo em produtividade “a qualquer custo” tendem a formar uma equipe com baixa autoestima que irá adoecer psicologicamente”, complementa.


7 passos para um ambiente de trabalho saudável

  1. Defina o propósito da empresa;
  2. Mantenha políticas corporativas claras sobre pacote de benefícios, plano de saúde compatível, programa de bem estar contínuo, código de ética, clareza nas demandas de tarefas, nas metas estabelecidas, nos processos de remuneração, reconhecimentos; 
  3. Os gestores precisam ocupar de verdade a posição de liderança do time;
  4. O líder precisa estar presente e atento, com a missão de transformar o ambiente corporativo num lugar onde existam respeito, sem preconceito, espaço para falar e ouvir;
  5. Liderar corretamente ajuda o time a ser mais produtivo, saudável e feliz;
  6. Firmeza na missão de desenvolver cada um dos liderados;
  7. Clareza e coragem para os feedbacks, dedicação às conversas mais difíceis porém muito necessárias. (Correio)
     

google news