Uma família da cidade de Teixeira de Freitas, no sul da Bahia, relatou um caso de negligência e violência obstétrica por parte de um médico na Unidade Municipal Materno Infantil (UMMI). O secretário de saúde da cidade informou que o profissional foi afastado de todas as funções que exercia.
Segundo a família, a situação aconteceu entre a noite de sábado (15) e a madrugada de domingo (16), quando a jovem Jéssica Dutra da Silva, 18 anos, foi levada para a maternidade em trabalho de parto, como conta a mãe dela e avó do bebê, Maria Aparecida Dutra.
“Ela foi ganhar neném no sábado. O médico fez o parto da menina [Jéssica] sem uma máscara, sem uma roupa adequada, nada. Ele foi muito rude, foi muito estúpido com ela, na hora. Ela ficou com as partes íntimas machucadas, inchadas. Tratou ela mal. O menino [bebê] também teve problema por causa disso. O bracinho não mexe direito. Dá para ver que ele mexe um pouquinho, não está todo parado, mas é um movimento diferente do outro braço”, contou a mãe de Jéssica.
O bebê de Jéssica passou por avaliação de uma médica pediatra de terapia intensiva, que identificou uma lesão de plexo braquial, que é causada nos nervos da região do braço e reduz os movimentos. Ele foi encaminhado para fisioterapia pelo Sistema Único de Saúde (SUS), na segunda-feira (17).
Apesar de não haver, no Brasil, uma lei que defina o que é caracterizado como violência obstétrica, a Organização Mundial da Saúde (OMS) enquadra nesse quesito qualquer comportamento por parte dos profissionais de saúde que cause desrespeito, maus-tratos e abusos durante o parto em instituições, além de considerar como violação dos direitos humanos.
Jéssica teve alta no domingo (16) e foi para casa. Maria Aparecida conta que depois que ela chegou na residência, uma enfermeira a procurou para fazer os exames do recém-nascido, que é um menino.
Ainda no domingo, Jéssica percebeu que saía líquidos derivados do parto de dentro dela. Maria Aparecida conta que a filha então voltou à maternidade, acompanhada da irmã.
“Estava saindo coisas de dentro dela, e minha outra filha levou ela no hospital. Ela não estava aguentando mais. Chegando lá, mandaram ela voltar outro dia, no caso hoje [terça-feira, 18], para fazer a curetagem [procedimento ginecológico feito para limpar o útero e retirar restos de uma placenta]”, conta a mãe de Jéssica.
Maria Aparecida conta ainda que tentou acompanhar a filha, mas não foi permitido. Segundo ela, Jéssica estava com medo, traumatizada pelo que já tinha acontecido na maternidade no momento do parto.
“Eu cheguei a ir, mas não me deixaram entrar com ela. A cunhada dela ficou lá esperando ela poder ter alta. Ela entrou em trauma, de não querer entrar sozinha. Chorou mesmo. Jéssica está com medo de ser machucada de novo. Eu fico com medo deles pegarem ela e fazerem malvadeza. De tarde, eu vou voltar lá para tentar ver ela, e depois vou na delegacia para tomar providências, junto com o pai da criança”, disse ela.
Apesar do medo de Maria Aparecida, Jéssica não voltará a ser atendida pelo mesmo médico. O G1 conversou com o secretário de Saúde de Teixeira de Freitas, Hebert Fernandes, que confirmou que ele foi desligado de todas as atividades que exercia no município, não só da UMMI.
“Ele foi desligado no geral, desligado da Secretaria Municipal de Saúde. Não trabalha mais para o nosso município todo, não somente da maternidade. A gente identificou essa conduta infeliz, que é pessoal, e estamos apurando todos as informações com relação a isso. Esse comportamento não condiz com o trabalho que a gente faz na secretaria”, disse Hebert. (G1/Ba)