O Padre Edson Carvalho de Melo, pároco da Paróquia São Benedito em Santo Antônio de Jesus concedeu a entrevista ao repórter Marcus Augusto Macedo, através da live das 12h30 do Voz da Bahia. O mesmo explicou sobre o sentido da Páscoa. O vigário ainda abordou algumas curiosidades: a respeito da tradição de não comer carne durante a semana pascal e sobre a representação do ovo e do coelho de chocolate neste período.
Leia a entrevista completa abaixo:
Marcus Augusto Macedo: Porque se celebra a Páscoa?
Padre Edson Carvalho de Melo: A Páscoa é a principal festa da Igreja Católica. A mesma é celebrada pelos judeus onde comemora a passagem da escravidão do Egito para a ‘Terra Prometida’, então todos os anos os Judeus celebram essa data. A data é lembrada pela libertação do povo Judeu, por isso falar em Páscoa é falar em libertação. Na quinta-feira Santa, Jesus reuniu todos os seus discípulos iniciando a sua Paixão, depois a sua crucificação a sua morte e a sua ressurreição, por isso essa é a data principal de celebração da nossa fé. Assim, tem toda uma liturgia para se comemorar essa data de libertação da humanidade.
Marcus: Há uma proibição da Igreja Católica sobre o consumo de carne vermelha na Semana Santa?
Padre Edson: A quaresma que se inicia na quarta-feira de cinzas e termina na 5ª semana, entrando assim a semana Santa, nesse período costuma-se fazer o Jejum, porém, a igreja orienta que só faça o Jejum na quarta-feira de Cinzas e na sexta-feira da Paixão. O Jejum é até bom para saúde. Por isso, o Jejum não é por carne ou peixe, mas ver o sentido que se dar. Então o Jejum deve ser visto, além de tudo, com o desejo de conversão, que é a mudança de vida, e isso é pedi a graça para amar mais, perdoar mais, para ser menos egoísta, individualista e ganancioso, isso é o sentido do jejum.
Marcus: Porque a Páscoa tem ovo de chocolate e coelhos como presente?
Padre Edson: O coelho e o ovo são dois símbolos que falam muito da fertilidade e da vida. Dentro de um ovo nós esperamos que surja a vida. A Páscoa é o nascimento de uma nova vida. O coelho é ligado a fertilidade, do nascimento, então esses símbolos estão ligados a ressurreição que é a nova vida que surge a partir de Jesus. Contudo, nós estamos em uma sociedade capitalista onde só se fala em vender os ovos de Páscoa, numa visão meramente materialista. A sociedade capitalista transformou esses símbolos importantes em mercadorias, porém, eles têm sua força. A comemoração do São João, por exemplo, era feito entre as famílias, as pessoas partilhavam, hoje as pessoas vem só para as festas e nem há um congraçamento familiar.
Marcus: Sobre as confissões, a Igreja Católica cobra as penitências dos fiéis ainda?
Padre Edson: Olha bem, a história é dinâmica, ela evoluiu, houve época que a penitência era assim: “reze 10 aves Marias”, “10 Pai nossos”, hoje a orientação e sempre o que eu faço, é que se tenha gesto concreto, por exemplo, aqui nas confissões eu sempre digo: ‘veja se você vai assumir mais um compromisso de fé em sua comunidade? Como você vai servir uma pessoa que necessita? Nós temos aqui na Paróquia do São Benedito a pastoral do idoso, mais de 200 idosos, que às vezes necessitam de uma fralda, medicamentos, uma ajuda até para dar um banho, limpar, então Marcus, é essa que é a verdadeira penitência. Jesus disse que não queria sacrifícios, de fato, ele queria misericórdia, e misericórdia é cuidar bem do outro. Eu sou também psicólogo trabalho com a questão do cuidado e estamos agora focando o tema do cuidado, aliás é um tema que o mundo inteiro está si voltando. Então como eu havia dito, a verdeira penitência é de cuidar e cuidar bem da vida também do outro.
Marcus: Para a Igreja, o Judas já nasceu predestinado a trair Jesus Cristo?
Padre Edson: Essa é uma pergunta no qual nem todos vão saber responder, porém, para que nós possamos responder é preciso um conhecimento profundo. Jesus disse que o traidor deveria não ter nascido. Quando nós traímos os outros, nós traímos a si mesmos. Então Judas não traiu Jesus, ele traiu ele mesmo, porque a ele foi confiado uma missão e ele não cumpriu. Ninguém nasce predestinado, então ele poderia escolher outro caminho, como qualquer um poderia escolher outro caminho, Judas tinha o livre arbítrio de escolher o caminho que ele queria para sua vida. São Paulo diz ‘para quem está de pé, tenha cuidado para não cair’. Então a traição não é uma predestinação, é um desacerto, uma falta de compreensão da vida, da vocação para qual a pessoa foi chamada. Fragilidade todo mundo tem, mas Deus concede a Graça para que todos possam se superar. Temos que pensar mais profundamente para não fazer julgamentos. Jesus Cristo diz: ‘eu não julgo ninguém, vocês que vão julgar a se mesmos’. A teologia cristã Católica tem uma visão positiva, nesse contesto de chamada e resposta. Jesus disse aos seus discípulos, nós somos a luz do mundo. A vela é simplesmente uma vela, mais para que serve a vela? Acender e iluminar. Nós também somos cristãos batizados para acender a luz de Deus em nós para o mundo.
Marcus: Queima de Judas, como os Católicos acompanham essa tradição?
Padre Edson: Eu pessoalmente acho que não se deve fazer isso. Primeiro porque a gente não deve queimar ninguém, mesmo sendo um boneco. Quem o povo deveria queimar, eles não queimam, que são esses políticos que aparecem, esses deveriam ser “queimados” pelo voto, nas urnas, na cabine de eleição. Porque eles vão para as ruas, prometem, abraçam, dão de populares e só voltam a aparecer na eleição seguinte. Nossa saúde, moradia, criminalidade um caos. Aqui nós estamos em Santo Antonio de Jesus e vemos uma realidade que não tem uma evolução. Faz ‘coisinhas’ ali e aqui, vemos trabalhos que quando são finalizados quebram. Por isso não vamos julgar, vamos criar consciência para escolher e é responsabilidade nossa votar de forma crítica e consciente.
Reportagem: Voz da Bahia – Marcus Augusto