Um dos dias mais esperados de 2019 no mercado norte-americano finalmente chegou: a empresa de transporte por aplicativo Uber vai começar nesta sexta-feira, 10, a operar na bolsa de Nova York, completando oficialmente seu IPO (oferta inicial de ações). É o maior IPO desde que a empresa de tecnologia chinesa Alibaba abriu capital, em 2014. A ação foi precificada em 45 dólares, conforme informado na noite desta quinta-feira, 9, fazendo a empresa atingir valor de mercado de 82,4 bilhões de dólares e arrecadar 8,1 bilhão de dólares. O preço, contudo, foi conservador: há algumas semanas, a expectativa da Uber era atingir valor de mercado de 120 bilhões de dólares, mas o time do presidente Dara Khosrowshahi decidiu manter os pés no chão. Motivos para cautela não faltam. O IPO da concorrente Lyft, que abriu capital na bolsa em março, chegou a valor de mercado de 24,3 bilhões de dólares, mas as ações caíram 27% desde então. Uber e Lyft têm basicamente os mesmos problemas: atingir a lucratividade enquanto lidam com eventuais regulações de governos e expandem o crescimento. Só em 2018, a Uber teve prejuízo de 3 bilhões de dólares, em meio a faturamento de 11,3 bilhoes. O único caminho rumo à lucratividade parece ser justamente deixar de lado os motoristas e empregar carros autônomos, o que está décadas longe de acontecer. Enquanto isso, na quarta-feira, 8, a Uber viu seus motoristas fazerem uma espécie de greve mundial, batizada de #UberOff (Uber desligado, em inglês) e destinada a pedir aumento no valor das corridas e no repasse aos motoristas. Em São Paulo, a estimativa é que 30% dos motoristas tenham participado, segundo a Associação de Motoristas de Aplicativo de São Paulo (Amasp). No Brasil, a Uber tem mais de 600.000 motoristas. A paralisação também pode pressionar ainda mais legisladores mundo afora a apresentarem regulações às empresas de transporte por aplicativo. No Brasil, ao menos uma boa notícia: na quinta-feira, 9, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por barrar decisões municipais que limitavam a operação — como um decreto de João Doria (PSDB), de 2016, que proibia placas de fora de São Paulo de circularem e já havia sido derrubado por liminares. Não que toda regulação seja mal vista. Governantes podem dirigir os esforços não a barrar a operação ou classificar os motoristas como empregados — algo que nem chegou a ser uma pauta deles no Brasil —, mas a garantir que a porcentagem paga a eles seja digna. Quando o sino da bolsa de Nova York tocar hoje às 10h30 (horário de Brasília), a vida real terá de fato começado para a Uber. Serão grandes desafios. (Exame)