Brasscom fala de demanda média anual de 159 mil profissionais no País
Há pouco mais de dois anos, a recém formada em Direito Debora Aline Silva, 25, não tinha nenhum dinheiro ou trabalho. Para conseguir voltar a ter expectativas de atuação profissional, decidiu que estava na hora de mudar, investiu na transição de carreira e foi estudar desenvolvimento de software. Hoje, Debora atua como desenvolvedora júnior na Agilize Contabilidade Online.
Enquanto o Brasil registra taxa de 11,1% de desemprego, o mercado de tecnologia experimenta um cenário bem diferente. De acordo com um estudo publicado pela Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), cerca de 53 mil pessoas se formaram por um ano em cursos de perfil tecnológico, em contrapartida, há uma demanda média anual de 159 mil profissionais de tecnologia da informação, o que traz um vazio desafiador para os recrutadores e empresas que demandam especialista da área.
Debora Silva abandonou o direito para atuar em TI e diz que não se arrepende da decisão porque a facilidade de trabalhar é maior |
No caso de Debora, houve sucesso na atuação, a oportunidade de trabalhar na área e adquirir o conhecimento sobre novas tecnologias. “Com certeza me encontrei na área de TI. Minhas perspectivas para futuro são me aprofundar mais no back end e mudar de nível de senioridade, passando de desenvolvedora júnior para desenvolvedora pleno em um curto período de tempo”, afirma.
Mundo digital
CEO e Founder da Cubos Academy, José Messias Júnior acredita que, atualmente, qualquer área de tecnologia está sendo favorecida não só no Brasil, mas no mundo como um todo, especialmente os que trabalham com Desenvolvimento de Software, UX/UI Design, como Product Management.
José Messias Júnior garante que o mercado de trabalho para esses profissionais é boa no Brasil e no mundo |
“No Brasil há uma grande falta de profissionais e isso tem preocupado as grandes e médias empresas. No nordeste e na Bahia, observamos que as áreas que estão mais favorecidas são as ligadas diretamente ao Desenvolvimento de Software, porque para uma equipe normal de trabalho, por exemplo, temos um UX/UI Design, um Product Management, um Analista de Qualidade, mas quando chega em desenvolvedores, vamos ter dois, três ou até quatro na mesma equipe”.
Business Partner da Área Computação do Senai Cimatec, Gabriel Ferreira Bomfim Pessoa diz que a oferta de postos de trabalho tem um vínculo forte com o fato de que, hoje, a tecnologia está presente em todos os setores, criando um cenário mais favorável para geração atual e as futuras.
“O Nordeste, por exemplo, vem conquistando destaque no cenário da tecnologia nacional. A Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES) produziu o estudo do Mercado Brasileiro de Software onde foi percebido que nossa região contribui com mais de 10% do valor total do mercado interno de TI (Tecnologia da Informação)”, exemplifica.
Gabriel Pessoa defende que parte das boas ofertas para os profissionais da área estão surgindo em virtude do papel que a tecnologia assumiu nos dias de hoje |
Pessoa cita ainda o papel do Senai Cimatec no Nordeste no campo de Supercomputação e Inteligência Artificial no Brasil. “O processamento de alto desempenho e os sistemas de processamento de dados suportam substancialmente os progressos da indústria inteligente no mundo”, afirma, pontuando que a Bahia integra o Centro de Supercomputação para Inovação Industrial as competências de Engenharia de Software, Desenvolvimento de Sistemas Web, Mobile, Linux e Windows, Computação Visual (Realidade Virtual, Realidade Aumentada, Visão Computacional, Natural User Interfaces e IHCs não convencionais), Data Analytics, Inteligência Artificial (Big Data, Data Mining, Machine Learning, Prediction; cognitive systems; visual analytics), User Interface e Experience (UI/UX) e Eletrônica e sistemas embarcados.
Ele destaca ainda os campos da pesquisa tecnológica e inovação; Inteligência Artificial; Data Science; sem esquecer do grande campo de desenvolvimento de sistemas, onde tem se destacado o crescimento no uso das linguagens Python e Javascript, duas linguagens antigas que vem ganhando força com o aumento da Internet das Coisas e da percepção da importância da padronização e uso de linguagens de sintaxe simples e leves na sua execução.
Perfil
Messias diz que as empresas ainda não estão familiarizadas com a função da gestão de produtos (PM), mas percebem a necessidade do desenvolvedor como algo mais tangível. “Não só as empresas na Bahia que estão procurando soluções digitais, como também os profissionais podem trabalhar para outras empresas de todo país e mundo pelo trabalho remoto”, explica.
Gabriel Pessoa diz que para atuar na área, além de mandar bem e gostar de tecnologia, o profissional deve desenvolver a habilidade de se relacionar com clientes e resolver os problemas. “Se fôssemos destacar um perfil do profissional de TI é um ‘Solucionador de Problemas’. Traduzindo, é encontrar soluções que tornam processos mais práticos, econômicos e rápidos. Esse é um recente diferencial exigido pelo mercado de trabalho”, esclarece.
Para ele, o paradigma de um perfil 100% técnico caiu por terra, principalmente no cenário pandêmico. “Cada vez mais assistimos o quanto as soft skills são fundamentais no desenvolvimento do profissional de TI. Nesse sentido destacar: Resolução de Problemas; Trabalho em Equipe; Comunicação; Agilidade, Foco em resultados; Inteligência Emocional e Flexibilidade Cognitiva. Ademais, é importante que o profissional tenha a postura de atualização constante para acompanhar as mudanças do cenário em TI”, completa Pessoa.
O representante da Cubos reforça que as empresas buscam profissionais que estejam engajados e com abertura para aprender coisas novas. “A área de tecnologia traz sempre muitas novidades, então, se a pessoa busca um tipo de trabalho em que ela não precisará se atualizar, a área tech pode não ser ideal para ela”, orienta Messias.
Ele lembra que, em paralelo a isso, o perfil mais procurado engloba a pessoa ter qualificação técnica, chamadas no mercado de hard skills, que são as habilidades que irão guiar a atuação; e as soft skills, que são as habilidades comportamentais, isto é: saber se comunicar bem, inteligência emocional, resolver problemas, lidar com os prazos, trabalhar em equipe, entre outras.
Formação
Quando o assunto é a formação desses profissionais, José Messias é enfático em reforçar que o tempo de formação variará de acordo com a escola que o profissional estuda. “Na Cubos Academy, por exemplo, a formação full stack totalmente voltada para o mercado de trabalho, ou seja, a pessoa poderá ser tanto desenvolvedor back-end quanto front-end, é de cerca de oito meses”, explica, salientando que, no curso, a pessoa entra sem qualquer conhecimento e ao longo do período sai pronta para atuar no mercado de trabalho.
Coordenador das Áreas de Software, BigData e IA do Senai CIMATEC, Daniel Souza Santos Ribeiro diz que para o Bacharelado, a formação leva, em média, quatro anos, dependendo da abrangência de competências estudadas.
“Todavia, a área de TI tem experimentado outros currículos mais simplificados e direcionados a fim de atender à alta demanda por profissionais da área, à exemplo de formações curtas em formato de extensão, bootcamps e imersões”, diz.
Para ilustrar a afirmativa, Ribeiro cita o programa Formação em TI desenvolvido pelo Senai CIMATEC em parceria com a Ford, a Alura e a Udemy visando capacitar pessoas sem conhecimento prévio em desenvolvimento de software, de forma 100% online, assíncrona, em seis meses.
Daniel Ribeiro lembra que a remuneração do profissional dependerá do cargo, função, responsabilidades e experiência na atuação |
“É importante salientar que essas estratégias de aceleração na formação demandam ainda mais empenho e afinco dos alunos, necessitando de regularidade e resposta aos desafios avaliativos apresentados, além, é claro, que servem como porta de entrada, ou para reforço de um grupo de conhecimentos específicos, sendo necessário um complemento na formação ao longo da carreira”, analisa Daniel.
Daniel Ribeiro destaca que a remuneração dependerá da área de atuação, do nível de senioridade, cargo, função e responsabilidades atribuídas. Além disso, fatores como o segmento da empesa, modalidade do contrato (CLT X PJ) e modalidade de trabalho (remoto, híbrido ou presencial) interferem na composição do salário.
Dados do Glassdoor e o Vagas.com mostram que o salário médio de um programador júnior é de cerca de R$3mil no Brasil, podendo chegar até R$4,8 mil (CLT). A média um profissional Pleno entre R$5 mil a R$9 mil; o profissional Sênior até R$15 mil.
“Atualmente, a composição salarial não ocupa sozinha a posição decisiva na hora de aceitar uma proposta de trabalho. Os profissionais têm levado em consideração aspectos como qualidade de vida, carga de trabalho e flexibilidade na composição dos seus benefícios”, finaliza Ribeiro. (Correios)