O número de homens que buscam atendimento urológico tende a aumentar no período pós-carnaval. A constatação é do médico urologista, Heleno Diegues Paes, professor da Faculdade de Medicina Santa Marcelina, em São Paulo.
Segundo o professor, a comemoração em si já é uma tradição oriunda de festas romanas em que havia maior permissividade especialmente no que se refere à sexualidade. Dados do Ministério da Saúde indicam que a transmissão de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) costuma se intensificar no Carnaval, e que o uso de preservativos está longe do ideal: na faixa etária de 15 a 24 anos, apenas 56,6% dos rapazes usam camisinha.
A última edição da Pesquisa Nacional de Saúde (PeNSE) de 2019 do IBGE, divulgada em julho de 2020, mostra que apenas 59% dos jovens entrevistados disseram ter usado camisinha na última relação sexual, contra 72,5%, em 2009. Ainda de acordo com o levantamento, somente 22,8% de brasileiros acima de 18 anos relataram usar preservativo durante as relações sexuais, o que equivale a cerca de 26,6 milhões de pessoas.
“A percepção prática que a gente tem hoje, comparada a dez ou 20 anos atrás, é que as pessoas estão usando menos preservativos”, diz o urologista.
O presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), Alfredo Canalini, lembra que na década de 1980, quando começou a aparecer a epidemia HIV e Aids, o medo da contaminação aumentou, uma vez que não havia nenhum tipo de tratamento para a doença na época. As campanhas pelo uso da camisinha e os debates sobre o sexo seguro aumentaram significativamente. “E todo mundo usava preservativo, que era distribuído durante o carnaval, em blocos”, diz Canalini.
Além disso, o especialista lembra que com o tempo, as pesquisas avançaram e surgiram os tratamentos profiláticos e de pré-exposição, os PrEPs, que diminuem a chance de contaminação pelo HIV, mesmo após sexo sem preservativo. Com isso, atualmente, o número de mortes por Aids é muito menor, o que leva a um regresso na perda do medo de contaminação pelo vírus e não usar a camisinha. Os mais jovens, em especial, não tiveram essa experiência.
Canalini destaca, contudo, que esses tratamentos não afastam outras infecções sexualmente transmissíveis, como herpes, sífilis, e HPV, que é uma das causas do câncer de pênis. Por isso, o urologista reforça a importância do sexo seguro, com uso de preservativo. “O uso do preservativo é absolutamente necessário, mesmo que você seja vacinado contra o HPV, mesmo que esteja fazendo tratamento pré-exposição em relação à profilaxia do HIV. Você não deve deixar de usar o preservativo nas relações sexuais. Essa é a mensagem que tem que ficar: sexo seguro! Carnaval é alegria, pode ser alegria, mas a alegria tem que se manter depois do carnaval e você não pode perder sua alegria com diagnóstico de que adquiriu uma infecção sexualmente transmissível”.
O especialista Heleno Paes chama a atenção para outras doenças sexualmente transmissíveis, como gonorreia, sífilis e verrugas penianas. Ele conta que o tratamento vai depender do diagnóstico. No caso das verrugas genitais, por exemplo, o tratamento consiste, basicamente, na remoção dos nódulos genitais e na orientação em relação às recidivas (quando os sintomas voltam).
No caso da gonorreia e da sífilis, o tratamento inclui antibióticos específicos para cada doença. “São doenças que podem ser curadas. Esse é o ponto positivo”. Já as lesões da herpes genital desaparecem sozinhas. Todas essas doenças podem ser evitadas com o uso da camisinha. “É importante tratar o parceiro também para quebrar a cadeia de transmissão”, recomendou o médico. (BN)