Influenciadores falam sobre como promover mais empatia na internet

Painel “Como promover empatia e acolhimento” (Marco Torelli/Divulgação)
Painel “Como promover empatia e acolhimento” (Marco Torelli/Divulgação)

Uma das coisas mais maravilhosas que a internet proporciona é a possibilidade que pessoas que já passaram por problemas como bullying, depressão e ansiedade têm de usar esse espaço para ajudar quem também está passando por isso.

No Festival Amarelo, promovido pelo Facebook e Instagram Brasil em parceria com a CAPRICHO, os jovens influenciadores Dora Figueiredo, Spartakus Santiago e Gabi Oliveira (@depretas) contaram suas experiências e falaram sobre o que fazem para promover empatia e acolhimento, como criadores de conteúdo. O painel também contou com a presença da Juliana Cunha, Diretora e Coordenadora do Helpline da SaferNet Brasil, e a mediação ficou por conta da Amábile Reis, repórter da CAPRICHO.

Assim como muitos jovens brasileiros, os três influenciadores tiveram que encarar a depressão muito cedo, ainda na adolescência. “Eu tinha lá para os meus 14 anos. Meu pai, mesmo sendo médico, falou pra mim: ‘Não, mas você precisa quebrar esse ciclo de ficar em casa, você precisa fazer as coisas, tem que ir para o colégio’. Eu não queria ir para o colégio, eu queria morrer“, relembra Dora Figueiredo. Na época, os pais dela seguiram a cultura de que o adolescente costuma ser dramático sem motivos e trataram o problema como se a filha não estivesse passando por nada. “Quem foi me falar que eu precisava de tratamento foi o meu namoradinho da época, que tinha também 14 anos”, conta.

Para Gabi, a crise veio exatamente na mesma idade. “Eu tinha 14 anos e essa crise veio acompanhada de pensamentos suicidas. E eu nunca falei sobre isso com meus pais”, diz. Ela preferiu pedir ajuda para suas amigas do grupo da igreja, que já estavam percebendo um comportamento diferente nela. A solução que elas encontraram foi rezar, mas atualmente Gabi admite que essa não pode ser a única coisa a ser feita em uma situação dessa. “A fé é muito importante na sua vida, independentemente de qual fé você tenha, mas as coisas não se resolvem simplesmente com a parte espiritual. A gente também precisa buscar ajuda profissional”, afirma ela.

Por mais que falar seja o mais indicado, às vezes o jovem não consegue se abrir para alguém e dizer o que está sentindo – principalmente quando nem ele mesmo entende. Foi o caso do Spartakus, que não sabia o que estava acontecendo e preferiu se isolar. “Eu faço parte do grupo que mais se mata no Brasil, que são jovens negros de 15 a 29 anos. E por que esse é o grupo que mais se mata? Porque os homens não falam sobre sentimentos. Falar sobre sentimentos é visto como uma fraqueza, uma vergonha”, diz.

Na escola, ele lembra que era excluído tanto por meninos quanto por meninas porque era gay. “Eu não entendia nada que estava acontecendo porque eu não aprendi a falar sobre sentimentos, eu só sentia culpa e vergonha. Culpa por ser desse jeito, vergonha por não ser macho“, explica ele. A solução que Spartakus encontrou na época foi se isolar na internet e passar seu tempo com jogos online, o espaço em que ele podia ser quem quisesse. O desempenho escolar caiu e o colégio notificou a família, que decidiu colocá-lo na terapia, onde ele permaneceu por três anos e aprendeu, pouco a pouco, a derrubar a barreira que o impedia de falar sobre o que sentia.

Para Juliana Cunha, fazer com que os jovens se sintam confortáveis para falar sobre o assunto também exige que as pessoas sejam mais acolhedoras e tenham mais empatia. “As pessoas precisam, primeiro, se sentir seguras para falar sobre isso. Então, é muito importante a gente criar ambientes em que, de fato, essas pessoas se sintam seguras, se sintam acolhidas (…) É falar, mas falar pra alguém que a gente confia e em um momento que a gente está se sentindo seguro para isso“, opina.

E falar, no caso dos criadores de conteúdo, também envolve contar aos seguidores sobre uma crise que está acontecendo na vida real, por exemplo. “Eu realmente sou uma pessoa muito alegre, mas eu também tenho meus momentos (…) É falar mais nas redes sobre os momentos ruins: ‘Não estou bem hoje, não estou bem essa semana, por isso vou ficar offline’“, conta Gabi, que incentiva o público a seguir influenciadores que também falem sobre seus dias ruins. Além disso, seguir pessoas “reais” que não te fazem se comparar com elas também é um passo que faz bastante diferença para a melhora da autoestima.

“Acho que é importante a gente não criar essa imagem de perfeição nas redes sociais, que a gente está sempre alegre. Compartilhar que a gente fica triste, que a gente fica na bad, mas a gente tem que saber o que vai expor. Porque, às vezes, a gente expõe demais e depois se arrepende”, comenta Spartakus.

Por outro lado, a internet também se tornou um espaço aberto para ofensas. Por isso, Dora Figueiredo ressalta a dificuldade de propagar empatia em uma época que se esconder atrás de uma conta falsa para falar besteira é tão fácil. “As pessoas têm que aprender, desde sempre, a ser socializados na internet. Entender que as pessoas que estão ali criando conteúdo também são pessoas, que o seu coleguinha pode ficar mal se você falar alguma coisa, mas acho que é criar o conteúdo que você gostaria de ouvir. É realmente não fazer um comentário para uma pessoa que você não falaria na cara dela“, afirma.

Mas, apesar de ter muita gente usando esse espaço para promover crueldade sem mostrar o rosto, a internet também tem um grande potencial para ser o início de mudanças positivas. “Ela trouxe uma corrente a partir do momento que uma pessoa se levanta, fala e outras se identificam. E isso puxa uma corrente de mudança incrível e pauta a conversa, isso vai parar em outros meios de comunicação (…) Às vezes, a gente acha que é muito pequeno na internet, mas quando a gente é capaz de começar uma conversa autêntica, recebe também muita gente que apoia e isso gera uma corrente muito interessante”, comenta Juliana Cunha.

Confira as mensagens que os influenciadores deixam para aprendermos a criar um ambiente mais acolhedor: (Capricho)

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