Mais mulheres apresentaram denúncias contra a dentista acusada de enganar e deformar o rosto de pacientes em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense. As denúncias apontam que a profissional prometia aplicar uma substância e aplicava outra mais barata.
A Polícia Civil informou que são 34 inquéritos incluindo as três denúncias mais recentes feitas nas últimas duas semanas. São mulheres de todo o Estado que relataram problemas após os procedimentos realizados pela dentista Giselle Gomes.
Nesta segunda-feira (3), outros quatro casos chegaram à 134ª Delegacia de Polícia, sendo três deles relatados presencialmente e um online. A delegada adjunta, Natália Patrão, disse que essas últimas vítimas foram encaminhadas para exame de ultrassom.
“Várias outras vítimas já procuraram a delegacia essa semana. Inclusive nós temos a novidade de um laudo de uma vítima que se submeteu ao procedimento cirúrgico cujo produto utilizado foi o hidrogel industrial, utilizado por indústrias e por agricultores na fabricação de papel, embalagem de alimentos, fabricação de adesivos e outros processos industriais”, disse ainda a delegada.
Durante as investigações, a polícia também descobriu que, além de dentista, ela tinha ainda outras fontes de renda como funcionária pública em Campos e na cidade vizinha, São João da Barra.
Entre 2018 e 2020, Giselle foi cedida para a Câmara Municipal de Campos e chegou a ser nomeada para trabalhar no gabinete de dois vereadores. Neste ano, a cessão não foi renovada e ela deveria ter se apresentado, mas não compareceu.
Em São João da Barra, ela também é concursada e deveria das aulas para crianças. Ela chegou a pedir uma licença em 2018, que expirou no ano passado. Na cidade, ela também deveria ter se apresentado na secretaria de Educação, mas não foi mais vista, de acordo com o secretário municipal de Educação, Daniel Damasceno.
“Ela é funcionária nossa de carreira, estatutária, admitida em concurso desde 2011 e atualmente ela se encontra faltosa. Em janeiro, ela gozou férias assim como todos os servidores da Educação, e nos meses de fevereiro março e até o presente momento ela não apareceu pra trabalhar, então, tá tendo sua remuneração toda descontada”, disse o secretário.
O caso das pacientes que tiveram os rostos deformados foi exibido neste domingo (2) no Fantástico. Novas vítimas procuraram a delegacia recentemente, segundo a delegada.
De acordo com a polícia, a dentista vendia procedimentos estéticos com ácido hialurônico, mas aplicava o polimetilmetacrilato, o PMMA, um preenchedor sintético permanente – substância mais barata e mais perigosa.
Diversas clientes relataram a insatisfação após os procedimentos frustrados.
“Eu passei a ser motivo de chacota. [Falavam] que minha boca tava igual de pato, que eu fui mordida por uma abelha”, contou a personal trainer Camilla Carvalho.
“Eu não quis ver ninguém, com medo de questionamento: ‘ah, pra quê você foi fazer isso? É tão bonita’. Então, eu preferi me isolar”, disse outra vítima, a cabeleireira Lana Velasco.
Depois que as vítimas procuraram a polícia, o Ministério Público denunciou a dentista por lesão corporal gravíssima, estelionato e exercício ilegal da profissão.
A Justiça suspendeu as redes sociais e afastou Giselle das funções.
“Ela substituía produtos químicos pra aumentar o seu lucro na atividade que exercia e, dessa forma, ela acabou desfigurando seus próprios clientes em razão de ganância”, disse o promotor Fabiano Rangel.
Segundo a Anvisa, a decisão sobre a aplicação do PMMA cabe aos conselhos profissionais.
O Conselho Regional de Odontologia diz que a lei permite que dentistas apliquem o PMMA. Como foi denunciada por uma paciente, um processo ético foi instaurado para apurar a conduta da dentista.
“Ela tá com a inscrição suspensa por determinação da vara criminal de Campos, ela no momento não pode então exercer a profissão, ela foi retirada do sistema, mas ela será julgada”, informou Altair Dantas, presidente do Conselho Regional de Odontologia do RJ.
O que diz a defesa?
Em nota, a defesa da dentista disse que “poucas pacientes tiveram alguma intercorrência dentro de um universo de quase dois mil procedimentos” e que “os produtos utilizados eram informados aos pacientes”.
Apesar da afirmação da defesa, pacientes dizem que isso não é verdade.
“Em primeiro momento, ela é amorosa, ela entende o problema do outro. Então, ela realiza o procedimento. Quando a pessoa volta pra revisão e se queixa de alguma coisa, ela se transforma numa pessoa grossa, arrogante, debochada”, disse Andréa Paes, advogada de 25 vítimas. (Fonte: G1)