As mãos delicadas vão moldando o barro. É nos fundos da casa que a mestra Dadá, de 93 anos, produz as peças que ganham as lojas de Maragogipinho que foi destaque no JN (Jornal Nacional), um vilarejo à beira do rio, no Recôncavo Baiano. “Me faz muito bem, muito bem mesmo. Amanhece o dia e eu já tô pensando em vir pra cá pra começar a trabalhar. E digo também, se quiser aprender comigo, pode vir que eu ensino”, afirma Mestra Dadá, ceramista. Uma arte ancestral, que ela aprendeu com a mãe e foi passando para outras gerações da família.
“Inspira a gente a criar. E quando a gente vê algo novo, a gente diz: ‘Ó vó, olha para isso.’ Aí ela pega e faz assim: ‘Bora tentar fazer?'”, conta sua neta, Naiara Silva Araújo Costa.
A tradição de mais de 300 anos fez Maragogipinho receber da Unesco, em 2004, o título de maior polo de cerâmica da América Latina.
80% dos quase 3 mil moradores vivem do trabalho artesanal feito com barro — como potes, objetos religiosos e de decoração.
Até este domingo (17), o vilarejo será palco de um festival desta arte herdada dos indígenas, com programação especial e visitas às olarias. “Acho que todo mundo em sua casa tem um filtro de barro, tem uma panela de barro, tem um acessório ou alguma peça que foi presenteada por seu avô ou sua mãe que relembre, então, essa história ancestral”, diz Uran Rodrigues, produtor cultural.
Quem visita o vilarejo nessa época tem a oportunidade não apenas de comprar as famosas peças de cerâmica, mas também viver uma imersão no mundo dessa arte ancestral. Conhecer todo o processo de produção e literalmente colocar a mão na massa: dar vida e movimento ao barro e transformar nas mais diversas peças.
A visita da escola vira festa e encantamento.
“Olha, já tá me ensinando como fazer, viu? Ficou muito legal”, diz mestre Miro.
“Parece que você está fazendo realmente algo importante.”, diz Helena Tabet, de 9 anos.
Para o mestre Miro, que vem de uma família de pelo menos 3 gerações de ceramistas, a magia está também em ver as crianças moldando o barro. É como voltar no tempo. “Eles precisam meter a mão na massa. E aí, lidando com o barro, é que eles vão sentir o que eu tô sentindo”, conta.
“Eu amei, foi muito bom. Eu não sei explicar o tão bom quanto foi vir para cá. (…) Foi uma experiência, diremos que mais do que maravilhosa”, diz Sofia Bittencourt Menezes, de 9 anos.