Uma mulher é apontada como responsável por ter feito cerca de 40 mil trotes ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgencia (Samu) ao longo de três anos. O médico e coordenador de Urgência e Emergência de Salvador, Ivan Paiva, conta em entrevista ao jornal Correio que vinte mil deles foram somente em um período de três meses, em 2019.
Durante a entrevista com a atendente Luciana Maragão, o portal afirma que a mulher, identificada somente como Darci, ligou novamente para o Samu. “É insuportável, faz a gente perder a paciência com as pessoas”, desabafa. A atendente diz que prefere atender um dia cheio de ocorrências do que receber um trote. “Isso estressa muito”, completa. “Ela utiliza o pseudônimo de ‘Yéssica’ e, às vezes, mais de um número telefônico. Nós suspeitamos que seja um problema mental dela, mas que acaba afetando a saúde mental dos nossos profissionais”.
O coordenador do Samu conta que Darci aparenta ter cerca de 40 anos, é cuidadora de idosa e vive na região de Sete de Abril. “A gente descobriu, pois ela já ligou do telefone fixo da casa da idosa onde trabalhava. A advogada que a representa é filha dessa idosa”, disse.
“Ela se comprometeu a não ligar mas voltou a fazer, principalmente, agora, na pandemia”, conta o coordenador, que na época participou de uma reunião com Darci e a advogada dela. Ele diz que pretende encaminhar um documento sobre a situação para o Ministério Público da Bahia (MP-BA), para analisar a possibilidade de bloquear o número.
Mesmo com os trotes recorrentes, a ligação não pode ser recusada. “O problema é que a gente tem que atender, não tem jeito. Nunca sabemos o que pode ser, até porque houve uma situação real em que ela precisou mesmo ser atendida. Então, a saída é registrar. Nosso sistema não tem uma forma automática de notificação”, explica o coordenador. De acordo com o Correio, o Samu de Salvador recebe mil chamadas por dia. No total, são 16 atendentes divididos em dois turnos de 12 horas para fazer a triagem das ligações, transferir para um médico e enviar uma equipe de atendimento se for o caso.
“Ela diz que somos os amigos dela. Não é um trote dizendo que está morrendo, algo convencional. É como se fizéssemos parte da vida dela. Ela liga pra nos dizer que vai tomar café, por exemplo. Se desligarmos, logo aparece outra chamada”, relata a atendente Elenice Ramos.
Os atendentes contam que por conta da pandemia, a quantidade de ligações recebidas pelo Samu aumentou. De março a setembro desse ano, foram 200 mil chamadas. Entre elas, as de Darci. A equipe desenvolveu estratégias para lidar com a situação. “Quando a gente tem uma mesa livre, às vezes, a gente prende com a chamada dela. Ela passa horas no telefone e fica ouvindo nosso trabalho, quieta. Então, ela dorme e a gente escuta o ronco. Só nessa hora que a gente desliga e libera a mesa”, conta Luciana. (BN)