Paciente diz que hospital fez bariátrica durante gestação e induziu aborto sem autorização

Foto: Reprodução / Google Street View

Uma paciente do Hospital Teresa de Lisieux /Hapvida alega que uma equipe médica da unidade de saúde teria cometido um erro ao submetê-la a um procedimento cirúrgico de redução de estômago enquanto ela estava grávida de pelo menos 12 semanas, e depois, ao descobrir a gestação, os médicos a teriam levado pra o centro cirúrgico e realizado um procedimento de cureta sem informá-la anteriormente. Amanda Conceição conta que se preparou por cerca de dois anos para fazer a cirurgia bariátrica, realizada no dia 22 de maio deste ano. Ela diz que não sabia que estava grávida e que, antes do procedimento, teria feito todos os exames exigidos pela equipe médica do hospital nos laboratórios e clínicas da Hapvida.  “Eu fiz todos os exames antes da bariátrica, de sangue, ultrassom transvaginal, Beta HCG [exame que a partir de amostra de sangue identifica gravidez], tomografia, raios-X, ultrassom da cervical, tudo” relata. A descoberta da gestação ocorreu quando a paciente estava entrando no quinto mês, e segundo Amanda, aconteceu cerca de um mês depois da bariátrica, quando ela teve que ser atendida na emergência da unidade de saúde por sentir fortes dores. Após a detecção da gravidez, a paciente diz que o médico que a acompanhava desde antes da cirurgia de redução de estômago transferiu os cuidados para o departamento de obstetrícia e recomendou que ela marcasse consulta com uma médica desta especialidade. “Em 22 de maio de 2018 eu operei da bariátrica, depois de alguns dias de operada comecei a sentir dor. Aí, chegando ao hospital, eu descobri que estava grávida de quatro meses de gestação, quase cinco. Fiz tanto exame e nada, no final de tudo já de madrugada fez uma ressonância magnética, e foi nesse exame que ele descobriu que eu estava grávida”, conta. Um mês depois de descobrir a gravidez, no dia 29 de julho, a socioeducadora voltou para a emergência sentindo dores. Segundo ela, lá recebeu uma medicação que induziram às contrações e foi levada ao centro cirúrgico para realização da curetagem, sem autorização. “Deram uma medicação e eu comecei a sentir contração, aí eu perguntei pra enfermeira ‘eu tô fazendo o que aqui?’ e ela respondeu ‘a médica não falou não? Porque na hora que você for fazer a curetagem…’. Aí eu disse ‘que curetagem? Meu bebê está mexendo na minha barriga, meu bebê está vivo’. Então a enfermeira chamou a médica e ela foi me explicar. ‘Ah porque você fez uma bariátrica, gravidez de risco, você sabe né que o bebê pode nascer com algumas sequelas'”, disse. Ainda de acordo com o relato da paciente, após o procedimento de retirada do feto ela teria questionado às enfermeiras o motivo de ele não ter sido colocado em uma incubadora, e a resposta foi de que não sobreviveria. “Meu bebê nasceu com vida, eu pedi pra segurar ele um pouquinho, aí a enfermeira me disse que ele já ia morrer, eu questionei se não iam colocar ele numa incubadora, e ela respondeu que ia ser melhor assim, que ele só ia sobreviver uns de 25 minutos. Mas tem tanto bebê que nasce com cinco meses e vive”, narrou. A advogada da paciente, Adriana Machado, conta ainda que os problemas com Hospital Teresa de Lisieux continuaram. A unidade de saúde teria dificultado a emissão de certidão de nascido vivo além da de óbito, e a liberação do corpo da criança para que a família fizesse o sepultamento. “Esse fato aconteceu no dia 29 de julho e eles seguraram o corpo durante cinco dias, só liberaram o corpo no dia 2 de agosto. Ela querendo sepultar e eles não estavam querendo dar o corpo. Isso também é bem grave, porque deveria ter liberado logo. E na certidão de óbito eles colocaram que o motivo da morte foi que ele nasceu prematuro extremo”, disse a defensora. Adriana Machado disse também que a paciente antes dos problemas com a unidade, tinha acesso aos resultados dos exames online, mas esse acesso foi suspenso. “Ela tinha acesso aos resultados de exame no sistema, mas agora ela não tem mais acesso, tiraram tudo”, disse. Mas acrescentou que a paciente possui os resultados de exames em arquivo.

A VERSÃO DO HOSPITAL

A assessoria do Grupo Hapvida, responsável pelo Hospital Teresa de Lisieux e pelas clínicas em que Amanda Conceição realizou os exames, informou que a paciente realizou os exames de sangue Beta HCG no dia 13 de março deste ano, cerca de dois meses antes do procedimento de cirurgia bariátrica, e que o resultado para gravidez foi negativo. De acordo com o a assessoria, o protocolo permite que a equipe médica aceite resultados de até quatro meses antes da data da cirurgia. Ainda de acordo com a assessoria, a bariátrica é um procedimento invasivo, e Amanda Conceição provavelmente teria sido submetida à ingestão de medicamentos que são indicados para o tipo de cirurgia a que ela foi submetida, mas não necessariamente são indicados em caso de gravidez. Segundo informações da unidade de saúde, a paciente deu entrada no hospital no dia 29 de julho com quadro de sangramento e dor pélvica, e foi internada na circunstância de trabalho de parto prematuro. A assessoria disse também que o bebê da paciente não deveria estar vivo, uma vez que ele foi exposto a várias medicações. O Bahia Notícias foi informado ainda de que, levando em conta o estado em que a paciente deu entrada na emergência ginecológica, com os sintomas que ela apresentava, e com o relatório que constatava a gravidez, foram feitos todos os procedimentos necessários para poder melhorar o quadro dela. De acordo com a unidade de saúde, o protocolo é de dar prioridade no tratamento da mãe e depois o filho, e assim teria sido feito pela equipe médica de plantão. Quanto ao fato de que a paciente alega não ter sido informada que seria submetida a um procedimento de curetagem, a assessoria do hospital disse que não é o padrão ficar informando ao paciente o passo a passo do tratamento e que há momentos em que é necessário agir de imediato pelo quadro que o paciente apresenta. (BN)

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