Ao menos 52 presos morreram nesta segunda-feira durante rebelião no Centro de Recuperação Regional de Altamira, a cerca de 800 quilômetros de distância de Belém. De acordo com a Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe), ao menos 16 deles foram decapitados durante o conflito entre facções rivais. Os detentos chegaram a fazer agentes penitenciários como reféns, mas eles já foram liberados após negociações com as autoridades.
Parte das vítimas podem ter sido asfixiadas depois que os presos atearam fogo a colchões dentro das celas, de acordo com as autoridades. A Susipe informou que a confusão começou por volta das 7h, durante o café da manhã. O Centro tem capacidade para 208 internos, mas contava com 311.
O secretário do Sistema Penitenciário, Jarbas Vasconcelos Carmo, afirmou após o ocorrido que a unidade abriga duas facções, o Comando Vermelho, originário no Rio, e o Comando Classe A, um grupo local. Segundo ele, este último “rompeu seu pavilhão e rompeu o do Comando Vermelho, foi um ataque rápido e dirigido com o objetivo de exterminar os rivais”. Carmo lamentou o ocorrido, e chamou o ataque de “inesperado”: “Nós não tínhamos relatório da nossa inteligência aportando um possível ataque, desta magnitude”.
Relatos iniciais dão conta de que a maioria das vítimas seriam integrantes da facção fluminense. O secretário disse ainda que foram encontrados “corpos decapitados e também outros mortos por asfixia”. “Não tiramos todos [os cadáveres] porque o local ainda está quente. É uma unidade antiga, em formato de contêiner”, informou. Por fim, ele afirmou que uma vistoria preliminar na unidade realizada após o massacre não encontrou armas de fogo no local, apenas “estoques”.
Nos últimos anos a região Norte se tornou uma das principais linhas de frente de embate entre facções rivais, como o Primeiro Comando da Capital, criado em São Paulo, o Comando Vermelho, originário do Rio, e a Família do Norte, manauara. Como consequência estes confrontos pelo domínio de rotas de tráfico e pelo recrutamento de novos filiados dentro dos presídios acabam levando a confrontos atrás das grades, que envolvem também grupos menores com presença local, como o Comando Classe A, do Pará. Há pouco mais de dois meses outro massacre prisional deixou 55 mortos no Amazona sem quatro unidades distintas. Não foi a primeira vez que o Estado viu um banho de sangue em seus presídios: em janeiro de 2017 foram assassinados 56 detentos no Complexo Penitenciária Anísio Jobim (Compaj), em Manaus.
A violência atrás das grades contrasta com a queda dos índices de letalidade fora delas. A acomodação e eventuais acordos de paz entre estes grupos criminosos na maioria dos Estados levou à redução dos índices globais de homicídio no país, algo que já era verificado em São Paulo, onde o PCC tomou para si o papel de regular os assassinatos nas periferias do Estado. De acordo com dados do Monitor da Violência, a letalidade violenta caiu 10% já em 2018, ano em que foram registrados 57.117 homicídios. (El París)