S. Francisco do Conde: Familiares de idosa com 118 anos tentam inclusão no Livro dos Recordes

Maria São Pedro Conceição tem 118 anos e mora no distrito de Jabequara, em São Francisco do Conde — Foto: João Souza/G1

Uma moradora da cidade de São Francisco do Conde, região metropolitana de Salvador, completou 118 anos de vida em agosto deste ano. Segundo os familiares, Maria São Pedro Conceição, que nasceu no primeiro ano do século XX, em 1901, eles estão tentando levantar informações de como enviar a história dela para o Guinness Book.

Na última edição da publicação, o título de pessoa mais velha do mundo está com uma japonesa de 116 anos.

“A gente está tentando descobrir como mandar a história da minha vó para o livro dos recordes. Estamos vendo ainda, a japonesa não é a mais velha, porque Dona Maria tem 118 anos. A velha é centenária”, contou Gisélia Conceição, neta da idosa.

Devido à idade, a idosa tem dificuldades de locomoção e passa a maior parte do dia sentada em uma cadeira de rodas ou deitada. Maria São Pedro perdeu a fala em março deste ano, mas continua lúcida, rindo quando ouve as histórias da família. Rodeada de filhos e netos, Dona Maria, como é conhecida, costuma ter a visita de pelo menos 10 familiares por dia dentro da pequena casa onde mora.

“Doença ela não tem. Ela ficou debilitada porque ela sofreu um derrame quando ela tinha 103 anos. Ela caiu quando estava capinando o quintal daqui de casa, mas ela caiu e entrou em casa dizendo que sentiu tonta, a gente não percebeu que era algo mais sério”, disse Gisélia Conceição.

Idosa de 118 anos mora com a família em São Francisco do Conde — Foto: João Souza/G1
Idosa de 118 anos mora com a família em São Francisco do Conde — Foto: João Souza/G1


“Minha mãe trabalhava e minha vó que ficava com a gente. Ela sempre cuidou da gente muito bem, se eu pudesse fazer mais por ela hoje eu faria, mas eu não posso porque tem coisas que é da idade mesmo e a gente se sente apertado, porque a gente queria mesmo era suprir essa necessidade dela”, disse.

O estado de Dona Maria deixa todos da família comovidos. Os familiares se revezam para dar banho e comida para a idosa.

“Eu sinto muitas vezes que é dolorido, pela idade que ela tem. Eu até me emociono quando vejo ela deitada. Eu sei que são as condições. Há seis meses quando ela ainda falava eu chegava e dizia ‘Velha, está bom ficar deitada aí? Está não minha filha, já queria ir’.

De acordo com familiares, Maria São Pedro nasceu na cidade de São Sebastião do Passé e trabalhou até os 17 anos em uma fazenda no município de Lamarão. A idosa trabalhou em casas de farinha, plantação e cuidando dos filhos de fazendeiros, ainda como escravizada, mesmo após a assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888.

“Minha mãe sempre dizia que a vida dela foi sofrida, sempre trabalhou na casa dos senhores, trabalhava em roça, em coisas pesadas. Ela falava que trabalhava fazendo farinha, fazendo carvão, pisava em brasa. Mostrava o solado dos pés pretos e contava que era daquela cor porque ela sempre pisava nas brasas”, disse a filha da idosa, Amália Conceição.

A idosa deixou a cidade de Lamarão depois que a família dela arranjou o casamento dela com José Aniseto dos Anjos, com quem ficou casada por quase 90 anos. O marido de Dona Maria morreu com 110 anos, em 1991.

Maria São Pedro nasceu em 1901 — Foto: João Souza/G1
Maria São Pedro nasceu em 1901 — Foto: João Souza/G1

Apesar de ter passado por momentos difíceis quando foi escravizada mesmo após a abolição, ainda segundo a neta de Dona Maria, a idosa sempre contou a história dela com muito orgulho.

“Ela sempre falou que por mais que as coisas tenham sido difíceis, ela tinha o sorriso no rosto porque conseguiu criar todos os filhos, ajudou a cuidar todos os netos e ainda viu os bisnetos, tataranetos e por aí vai”.

Maria São Pedro ainda frequentava a casa dos idosos de Candeias, onde dançava samba e sapateado, depois de completar 100 anos.


“Há oito meses você via ela e só enxergava alegria. Uma idosa que andava, sapateava, sambava, bebia. Ela está lúcida, não consegue falar mais, mas ela entende quando falamos com ela e ela sorri. Ela gosta muito de um vinho, às vezes a gente dá a ela um gole para ela sentir o gosto da vida e saber que ela ainda está com a gente”, contou Dona Amália.

O maior ensinamento que Maria São Pedro deixou enquanto falava para os netos é o do esforço nos estudos. Todos contam que a idosa sempre fez o comparativo entre a caneta e a enxada, objeto que marcou a infância e adolescência dela, para motivá-los a conquistar melhores condições de vida.

“Vocês têm a caneta e eu não tive. Minha caneta foi uma enxada, minha caneta foi cozinhar e fazer as coisas para os filhos do meu patrão. O que vocês tiveram eu não tive”, dizia Dona Maria, segundo a neta da idosa.

A família de Maria São Pedro não tem idéia do tamanho de herdeiros formados por ela. Amália Conceição conta que até os tataranetos de Dona Maria já tem filhos. “A gente não sabe quantas pessoas têm a nossa família, porque é muito grande. Tem netos dela que já são pai e avós”, contou.


Segundo dados divulgados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a Bahia registrou 320.227 idosos em 2018. Destes, 139.092 eram homens e 181.135 eram mulheres.

Em 2010, de acordo com o IBGE, a Bahia tinha o maior quantitativo de pessoas centenárias do Brasil, tanto no total, como de cada sexo.

Família de Maria São Pedro guarda fotos do centésimo aniversário da idosa — Foto: João Souza/G1
Família de Maria São Pedro guarda fotos do centésimo aniversário da idosa — Foto: João Souza/G1

A família de Maria São Pedro não tem idéia do tamanho de herdeiros formados por ela. Amália Conceição conta que até os tataranetos de Dona Maria já tem filhos. “A gente não sabe quantas pessoas têm a nossa família, porque é muito grande. Tem netos dela que já são pai e avós”, contou.
(G1/BA)






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