Salvador terá ferramenta da Uber só para mulheres em 2020

Foto: Marina Silva/CORREIO
Foto: Marina Silva/CORREIO

Ainda que o machismo mostre suas faces diariamente na vida das mulheres, sofrer um abuso no trabalho pode causar trauma e insegurança, ainda mais quando se trata de transporte de passageiros. Ao iniciar uma corrida, a motorista não sabe o que lhe aguarda. Pode ser que, naqueles poucos minutos de trajeto, ela enfrente alguma situação de violência. E, no minuto seguinte, precise se recompor para seguir trabalhando.

Alguns aplicativos já em uso em Salvador, como o Lady Rosa e o Mary Drive, permitem que as motoristas de aplicativos de transporte só levem mulheres – uma forma de dar mais tranquilidade a elas e às passageiras. Em 2020, será a vez do Uber, principal plataforma de transporte do mundo, trazer o U-Elas – já lançado em Fortaleza (CE), Campinas (SP) e Curitiba (PR) – para a capital baiana. Só no Brasil, a Uber tem 22 milhões de cadastrados.

“Eu cheguei a testar os outros aplicativos, mas era pouca gente. Chegando no Uber é outra coisa. Aí, acho que vai funcionar”, diz Jaci Matos, 52 anos, que dirige pelo app há mais de três e contabiliza quase 10 mil viagens.

Ela relembra um caso de um passageiro que, bêbado, a assediou e de outros que faziam “brincadeirinhas” inapropriadas: “Eu sigo trabalhando, mas conheço mulheres que não aguentaram os assédios e pararam”, desabafa.

O U-Elas faz parte de uma série de medidas da Uber para tentar coibir o assédio às motoristas e usuárias e aumentar o número de parceiras da plataforma. No volante, elas são minoria. Segundo dados da empresa, apenas seis em cada 100 condutores são mulheres. 

“Os motivos são os mais diversos, desde a falta de conhecimento sobre o que é preciso para se cadastrar, passando pela falta de visibilidade sobre os ganhos potenciais e até os desafios de segurança que a nossa sociedade impõe”, afirma Claudia Woods, CEO da Uber no Brasil.

“A ferramenta U-Elas pode ser ligada a qualquer momento e estará disponível exclusivamente para parceiras mulheres”, garante. E, além das motoristas, as usuárias também poderão optar por serem conduzidas por mulheres.

O U-Elas já está ativo em Fortaleza, Campinas e Curitiba. A expansão para outras cidades será em 2020, mas a Uber não detalha o calendário.

Desconto no aluguel de veículos, parcerias e iniciativas que fortalecem o empoderamento e apoiam as vítimas estão entre as medidas, anunciadas em São Paulo em novembro. 

Apoio
Um atendimento melhor às reclamações é uma das demandas necessárias, na opinião de Jaci. “Eu reportei o caso à Uber e eles só me mandaram um e-mail com resposta automática. Acho que a gente devia saber o que aconteceu com as pessoas nesses casos”, sugere.

No caso de Tays Santana, 33, o assédio virou boletim de ocorrência.

“O passageiro queria botar cinco pessoas no carro e eu disse que não. Me xingou de tudo que é jeito e ainda disse pra mulher que tava com ele deixar a porta do carro aberta”, conta Tays.

Por conta das limitações de identificação do usuário, o BO só contou com o primeiro nome do passageiro. Já a Uber informou a Tays que ele seria expulso da plataforma após o comportamento abusivo.

“Eu acho que a Uber deveria promover um apoio psicológico à gente quando acontece esses casos. A gente fica com medo”, afirma ela, que perdeu a conta das vezes foi diminuída por ser mulher. “Ficam dando dica, como se eu não soubesse dirigir”, diz ela, há um ano e meio como motorista.

Veja lista de medidas adotadas pela Uber para enfrentamento da violência contra a mulher:

– Investimento: A empresa renovou parcerias feitas ao longo deste ano com entidades de referência no combate à violência contra à mulher

– Materiais educativos: Vídeo com instruções de segurança do app, tanto para motoristas, quanto para passageiras, além de uma série de entrevistas feitas no projeto Café com AzMina, em parceria com a revista digital AzMina, e Podcast de Respeito, com Instituto Promundo

– Apoio: Parceria com a deFEMde para aperfeiçoar atendimentos feitos a motoristas e às usuárias vítimas de violência

– Conscientização: Apoio à pesquisa dos institutos Patrícia Galvão e Locomotiva sobre violência contra a mulher no transporte

– Economia: Lançamento da plataforma Elas na Direção, em parceria com a Rede Mulher Empreendedora, para tentar diminuir a desigualdade no mercado. (Correios)

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