Venda de chocolate para adulto cresce mais do que para criança, aponta consultoria

enquanto a venda de alimentos como um todo caiu 2,5% em volume, a de chocolates avançou 4,7%.

O consumo de chocolates no Brasil vem se mostrando resiliente a qualquer crise econômica e vai muito além da Páscoa. Em 2022, segundo levantamento feito pela consultoria NIQ (antiga Nielsen), enquanto a venda de alimentos como um todo caiu 2,5% em volume, a de chocolates avançou 4,7%.

O que vem puxando essa alta são as barrinhas de chocolate recheadas (“candy bar”, com destaque para marcas de preços mais competitivos, como a Trento de 32 gramas, da gaúcha Peccin) e os biscoitos wafer cobertos com chocolate (como o Bis, da Lacta) —segmentos que registraram alta de 22% e 12% em volume, respectivamente.

Em compensação, outros segmentos tradicionalmente voltados ao público infantil, como os ovinhos de chocolate (como o Kinder Ovo, da Ferrero) e os chocolates com formato (exemplo da Tortuguita, da Arcor), vêm registrando queda —recuos de 10% e 6%, nessa ordem, em volume.

“Os números indicam que o consumo adulto está puxando a alta nas vendas de chocolate, mais do que o infantil”, diz o diretor de atendimento analítico da NIQ, Domenico Tremaroli Filho. O executivo lembra que a categoria de chocolate é indulgente, ou seja, não está na cesta básica e é considerada uma “recompensa” para o consumidor.

“Mas, em tempos de gastos restritos, a saída para o brasileiro tem sido buscar as opções mais econômicas”, afirma.

A lógica se mantém na Páscoa. De acordo com a NIQ, os tradicionais ovos de Páscoa representam apenas 3,5% do volume de chocolates consumido na época e 10% das vendas em valor.

“O que vemos na Páscoa é um aumento da venda de chocolates presenteáveis, como bombons e tabletes, de menor desembolso”, diz Tremaroli. “Considerando que, no Brasil, 70% dos lares não conseguem bancar o custo mensal da cesta básica, é fundamental oferecer um produto cujo preço caiba no bolso”, citando levantamento da NIQ.

No ano passado, a Páscoa foi comemorada em 17 de abril. No mês, a venda de chocolates (sem considerar os ovos de Páscoa tradicionais) avançou para 50,7 toneladas (ante 24,5 toneladas de março). No mesmo intervalo, o preço médio por quilo caiu de R$ 53,10 para R$ 46,50. “Isso significa que são segmentos mais baratos vendendo mais no período”, afirma Tremaroli.

O faturamento como um todo, porém, dá um salto na Páscoa. Só em abril do ano passado, o varejo vendeu R$ 2,36 bilhões em chocolate, alta de 82% sobre o R$ 1,30 bilhão de março, segundo dados da NIQ.

A sazonalidade do consumo de chocolates é mais forte nos produtos artesanais. Na paulistana Di Siena, por exemplo, 70% do volume de vendas do ano está atrelado à Páscoa. A empresa prevê alta entre 5% e 10% no volume em 2023, sem as restrições da pandemia.

Depois da Páscoa e do Natal, a terceira principal data para a Di Siena é o Ano-Novo judaico, comemorado geralmente em setembro.

“Dia das Mães, Dia dos Namorados, Dia da Mulher e Dia dos Pais vêm na sequência”, diz Fernando Parisan, diretor-geral da Di Siena. Segundo o executivo, o pior mês é janeiro. “Passadas as festas, a combinação de calor e férias faz com que o público procure outras opções de consumo, e o movimento na loja cai muito.”

Criada em 1988 pela família Marconi, com loja e fábrica no bairro de Perdizes, zona oeste de São Paulo, a Di Siena lançou há cinco anos sua loja virtual. Uma segunda unidade foi inaugurada no ano passado no Tatuapé, zona leste da capital.

“Mas com o frio o movimento vai bem, especialmente em cidades serranas, como Monte Verde (MG), Itatiaia (RJ) e Campos do Jordão (SP), onde temos representantes”, afirma.

O executivo afirma que o chocolate da Di Siena, feito com cacau da fabricante belga Callebaut, não usa gordura hidrogenada, como a maioria das marcas comerciais —e sai mais barato.

“Um ovo de Páscoa de 200 gramas da Di Siena custa R$ 27, enquanto marcas como a Nestlé vendem por R$ 45”, afirma Parisan, que considera como os seus principais concorrentes outras artesanais, como Lugano e Munik, além da popular Cacau Show.

Ao longo do ano, as chamadas “vendas institucionais”, para empresas, são o forte da Di Siena, representando cerca de 35% do faturamento do ano. A fabricante tem uma carteira de cerca de 400 clientes, entre hotéis, escritórios de advocacia, indústrias farmacêuticas, hospitais e colégios.

Quem também descobriu a força do consumo das empresas foi a Lacta, marca da multinacional Mondelez. “Acabamos de abrir um canal business to business no ecommerce de Lacta para atender essas empresas que presenteiam clientes e funcionários”, diz Fabiola Menezes, diretora de marketing de chocolates da Mondelez Brasil.

“No ano passado, muitas empresas já nos haviam procurado para antecipar compras, procurando garantir produtos no mesmo padrão para todos os seus públicos.”

Segundo ela, além da Páscoa, outros momentos de sazonalidade importantes para a categoria chocolates são Dia das Mães, Dia dos Namorados e Natal. “Tem produto para o ano inteiro, em diferentes formatos, para todos os bolsos”, afirma.

Ao lado dos snacks, de menor desembolso, a venda institucional tem ajudado o consumo de chocolate a deslanchar ano a ano no país. De acordo com dados da consultoria internacional Euromonitor, no Brasil, a venda de chocolates cresceu 18% para R$ 22 bilhões no ano passado. Na comparação com 2018, o salto em faturamento foi de 57% (valores nominais, sem descontar a inflação).

“Outras categorias de produtos consideradas indulgentes, como a de biscoitos, por exemplo, não apresentam o mesmo desempenho que a de chocolates”, diz Marconi, da NIQ. A venda de biscoitos caiu 3,6% em volume, enquanto a de chocolates cresceu 9%. “Os chocolates têm mais apelo de vendas, justamente por terem versões presenteáveis”, afirma.

Em época de Páscoa, os itens presenteáveis sobem menos de preço que o tradicional ovo de chocolate. É o que mostra um levantamento preliminar feito pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). Na cesta de Páscoa, os ovos de chocolate ficaram 23,68% mais caros neste ano, enquanto o preço dos bombons avançou 14,47% e, o do chocolate em barra, 8,57%.

De acordo com a Fipe, além da alta procura sazonal, os custos de produção (que envolvem insumos como embalagens e matérias-primas como cacau) vêm pressionando o preço final desde o ano passado.

FABRICANTE JÁ PREPARA A PÁSCOA DE 2024

A Lacta vem registrando a diversificação nas compras de Páscoa para muito além dos ovos de chocolate. “A venda de caixas de variedades cresceu 25% em 2022 em relação ao ano anterior”, diz Fabiola Menezes, da Mondelez.

“Ao longo do ano, as pessoas compram as caixas para compartilhar, mas na Páscoa compram também para presentear, afinal, a Páscoa é a terceira data mais importante de comemoração em família no Brasil, depois do Natal e do Dia das Mães”, afirma.

De olho na tendência, a empresa lançou novas caixas de bombons, como a do biscoito Oreo, outra marca da Mondelez.

“Na semana da Páscoa, o brasileiro consome em média 300 gramas de chocolate, cinco vezes mais do que os tradicionais 60 gramas que ele consome por semana no resto do ano”, diz Fabiola.

A executiva ressalta que a marca Lacta, criada em 1912, foi a que criou a primeira parreira de ovos de Páscoa, nos anos 1980, uma invenção que se tornaria tradicional nos supermercados de todo o país.

“No período de Páscoa, contratamos 1.500 promotores para trabalhar nos principais pontos de venda em todo o país”, diz. A empresa começa a preparação para a data um ano e meio antes.

“Agora, por exemplo, estamos em plena preparação para a Páscoa de 2024”, afirma. “A gente começa estudando o comportamento do consumidor para entender que tipo de produto ele vai querer ver nas gôndolas.”

Para a Páscoa deste ano, a Lacta contratou 530 pessoas para a fábrica de Curitiba, onde a produção de ovos começou em outubro do ano passado e foi até a metade de fevereiro deste ano. O processo produtivo do ovo de chocolate é completamente diferente do das barras: exige outras máquinas, embalagens e até logística.

“De ponta a ponta, da fábrica ao centro de distribuição, toda a logística do ovo de Páscoa é climatizada”, diz Fabiola. O mesmo tratamento passou a ser oferecido neste ano aos produtos vendidos a partir do ecommerce da marca, que deve responder, junto com outros sites parceiros, por 20% das vendas do período. “O ovo segue em embalagem especial, com proteção plástica e placa refrigerada”, diz Fabiola.

Neste ano, a empresa criou uma página oficial no Mercado Livre e azeitou a logística dos ovos de Páscoa. “Fazemos a entrega em 48 horas nas capitais e em até cinco dias úteis nas demais cidades”, diz Fabiola. (Política Livre)

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