Falso advogado participa do ‘Caldeirão do Huck’ e visita Mourão como desembargador

Um participante do quadro “Quem quer ser um milionário”, do programa Caldeira do Huck, no último sábado (26), causou inquietação na internet pela pouca idade do rapaz e pela quantidade de livros que ele disse ter lançado. Outra coisa que chamou a atenção dos internautas foi o fato do rapaz dizer que era confundido com o “filho do Gugu ou do Michel Teló”.

Mas os fatos não pararam aí. O que se descobriu é que o rapaz se passa por advogado usando o registro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de uma juíza, e já ter se apresentado como desembargador e ter tido uma reunião com o vice-presidente da República, Hamilton Mourão.

O gaúcho João Riel Manoel Hibner Nunes Vieira Teles de Oliveira Brito estava nervoso no programa, e por vezes, precisou de ajuda para responder as perguntas do quadro. Ele disse para o apresentador Luciano Huck que era juiz leigo em Porto Alegre e que publicou mais de 20 livros jurídicos. O gaúcho responde a uma ação judicial no Rio Grande do Sul por crime contra a fé pública. Ele é acusado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) de usar a OAB de uma juíza e, assim, movimentar processos para possíveis clientes. O caso tramita na Comarca de Arroio do Tigre, terra natal do participante.

Luciano Huck chegou a questionar se ele era advogado e se “passou pela OAB”. Ele disse que sim, mas que estava licenciado por ser juiz leigo. O rapaz é formado em Direito pela Universidade de Passo Fundo, mas o único registro dele na OAB é como estagiário e a inscrição foi cancelada pela entidade após a formatura. Não há registro sobre um possível pedido de licença da instituição para o exercício do cargo de “juiz leigo”. O único cargo de João Riel é como voluntário no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS). De acordo com a Corte gaúcha, o mandato para a função é de seis meses. Como foi nomeado em 10 de maio, em tese, a permanência no cargo seria até novembro. João Riel também foi apresentado como desembargador do TJ-SR e constou na agenda oficial do vice-presidente da República. De acordo com o documento oficial, o rapaz foi recebido com esse título pelo vice-presidente às 11h30 do dia 18 de setembro, em Brasília.

João Riel ameaçou o jornal Metrópoles de tomar medidas judiciais para retirar as publicações referentes a ele no jornal. Em sua defesa, declarou ser vítima de equívocos burocráticos, tanto no caso do processo criminal quanto na audiência do vice-presidente. “São erros, né? Eles acontecem. Eu declarei ser advogado pelo nervosismo no programa. Mas não era o que eu queria ter dito. Deveria ter falado que era estagiário, não advogado”, reconheceu. Disse que se encontrou com Mourão por ele ter comparecido ao lançamento de um livro dele. “Nunca me apresentei como desembargador. Se isso ocorreu, foi erro de alguém de lá [Palácio do Planalto]. Não tenho nenhuma responsabilidade. São erros”, declarou. Sobre o processo, atribuiu a um erro de digitação. “Como eu usaria a OAB de alguém para fazer esse tipo de coisa? Não existe isso. Toda a movimentação desses processos eu fiz enquanto estagiário. Não sei o motivo do interesse nessas histórias, mas isso vai acabar com minha imagem. Não podemos ficar só com a primeira reportagem?”, sugeriu o rapaz ao jornal. (BN)

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