O governo federal anunciou nesta quinta-feira (27) que vai antecipar para 23 de março a Campanha Nacional de Vacinação contra a gripe – anteriormente, a abertura estava prevista para a segunda quinzena de abril. A decisão foi divulgada em entrevista coletiva em São Paulo um dia após a confirmação do primeiro caso do novo coronavírus no Brasil.
De acordo com o Ministério da Saúde, a antecipação tem dois objetivos:
- facilitar e acelerar o diagnóstico da síndrome respiratória Covid-19, causada pelo novo coronavírus (2019 n-CoV);
- e evitar que o sistema de saúde fique sobrecarregado.
A vacina contra a gripe não protege contra o novo coronavírus, mas, sim, contra tipos de influenza (família à qual pertence o H1N1, por exemplo). E justamente por isso pode ajudar profissionais de saúde a diagnosticar – por eliminação – eventuais casos de Covid-19.
Isso porque essas doenças contempladas pela vacina serão descartadas na triagem de pacientes que chegarem às unidades de saúde com sintomas gripais e informarem já ter sido imunizados.
O segundo aspecto diz respeito ao fato de que o número de pessoas com síndromes gripais seria muito maior se não fosse promovida a campanha de vacinação. Haveria, portanto, muito mais gente ocupando o sistema de saúde.
“Por que fazer a campanha? Por que recomendar a vacina? Se essa vacina me dá cobertura, ela deixa protegido contra essas cepas de influenza o sistema imunológico de 80% daqueles que tomam. [São] Essas cepas virais que estão circulando e que são milhares de vezes mais comuns que o coronavírus”, explicou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, na entrevista coletiva em São Paulo.
“Para um eventual profissional de saúde, [por exemplo] um médico, na hora em que um indivíduo, um mês depois, dois meses depois [de ter tomado a vacina], se ele tem um quadro gripal e informa que foi vacinado, auxilia muito o raciocínio desse profissional. Para pensar na possibilidade de outras viroses, que não aquelas que são cobertas pela vacina.”
Mandetta completou: “As influenzas A e B são mais comuns que o coronavírus e a Campanha Nacional de Vacinação contra a gripe diminui a situação endêmica dos vírus respiratórios no país, por isso é tão importante que as pessoas que fazem parte do público-alvo da campanha procurem uma unidade de saúde”.
Na Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza, devem ser primeiro imunizadas gestantes, crianças com até seis anos, mulheres até 45 dias após o parto e idosos, historicamente mais vulneráveis à doença, que pode causar a morte.
Com coronavírus, governo antecipa campanha de vacinação contra a gripe
Segundo o governo de São Paulo, depois do primeiro caso confirmado, o estado passou a monitorar 85 casos suspeitos.
Mandetta disse que esse aumento era esperado depois que a Itália foi incluída na lista de países em monitoramento de casos suspeitos.
“As combinações da Itália como destino turístico – é um dos países mais visitados do mundo, a Lombardia é uma das regiões mais visitadas do planeta. Era muito claro, nós dissemos no dia: ‘Vão aumentar os casos suspeitos'”, afirmou o ministro.
Além do ministro, participam entrevista coletiva em São Paulo o secretário de Saúde do estado, José Henrique Germann; o coordenador do centro de contingência de São Paulo, David Uip; o governador João Doria; a diretora da vigilância sanitária estadual, Helena Sato; o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas; e Cléber Mata, da equipe de comunicação do governo do Estado.
Centro de contingência em SP
Também na coletiva, o médico infectologista David Uip explicou como funcionará o centro de contingência para monitorar casos suspeitos de coronavírus montado pelo governo de São Paulo.
“Este centro está montado composto com experts na área de infectologia. A primeira informação é que estamos diante de um processo conhecido. O coronavírus não é novo: nós estamos lidando com uma variação genética. Vivemos isso com H1N1, com dengue, com sarampo. Então, nós estamos preparados para lidar com uma situação que é conhecida”, disse o médico.
“Paciente com tosse e com febre fica em casa. Deverão procurar um serviço de saúde aqueles com complicações respiratórias. Essa febre foi e voltou? Procura o atendimento. Começou a ter dificuldade pra respirar? Procura um serviço de saúde.”
Brasil tem 132 casos suspeitos de coronavírus
Em balanço divulgado nesta quinta, o Ministério da Saúde informou que o Brasil tem 132 casos suspeitos de coronavírus. O número representa um salto em relação ao dia anterior, quando havia 20 casos.
O secretário-executivo da pasta, João Gabbardo dos Reis, também comentou a antecipação da campanha de vacinação contra a gripe.
“Se nós não fizermos a vacina, muito mais pessoas terão síndromes gripais. Então, teremos muito mais gente ocupando os espaços e clínicas de saúde, que poderiam ter evitado com a vacina da gripe”, afirmou o secretário. “Facilita para o profissional de saúde saber se ele já está vacinado. A amplitude de diagnóstico diminui e pode ser mais fácil de avaliar.”
Caso de coronavírus em SP
O paciente que teve os exames confirmados para Covid-19 é um morador de São Paulo de 61 anos que viajou para o norte da Itália entre 9 e 21 de fevereiro. O paciente tem sinais brandos da doença, tosse e até a última atualização desta reportagem estava em isolamento domiciliar.
Os exames de detecção da doença são feitos a partir da coleta de materiais respiratórios (aspiração de vias aéreas ou coleta de secreções da boca e nariz), que é realizado pelo hospital que atendeu o caso suspeito e encaminhado ao laboratório de saúde pública na capital.
Os dados oficiais estão sendo registrados pelos municípios em um sistema de notificação do Ministério da Saúde.
Dicas de prevenção do coronavírus
Quem for viajar aos locais com circulação do vírus deve evitar contato com pessoas doentes, animais (vivos ou mortos), e a circulação em mercados de animais e seus produtos. (G1)