Um motorista de aplicativo de Feira de Santana, a cerca de 100 quilômetros de Salvador, desenvolveu uma cabine de acrílico para se proteger do coronavírus. Técnico em eletrônica e com experiência em fábrica de aeronave, Érico Dutra, de 53 anos, instalou o equipamento em março após parar de trabalhar por receio de ser contaminado e transmitir a doença para o pai, que tem 86 anos.
O pai de Érico sofre da doença de Parkinson e asma. O motorista conta que a ideia do desenvolvimento do equipamento de proteção veio após ter conhecimento do caso de outro profissional que usou plástico filme para forrar o veículo. Com a placa instalada, seria possível proteger a família e também os passageiros.
“Fiquei com medo de pegar alguém contaminado, me contaminar e transmitir para o meu pai. Fiquei 10, 15 dias sem trabalhar, preocupado com isso. Um dia, minha mãe falou do caso de um rapaz que pegou plástico filme e enrolou no carro na parte que o passageiro senta. Nesse momento, lembrei que tenho placa de acrílico em casa. E aí eu fiz a cabine. Essa cabine não é barata, mas eu tinha em casa”.
“Existem pessoas que são assintomáticas e eu poderia ser uma dessas pessoas. Já pensou passar para os passageiros? Pensei nos dois lados”, acrescenta o motorista.
Érico trabalhou durante nove anos em uma fábrica de aeronaves na região. Ele conta que montou sozinho um modelo ultraleve e tem certificado de construtor amador. Com conhecimento em instalações até mais complexas, ele desenvolveu a cabine do carro em pouco mais de quatro dias. O investimento não precisou ser alto, porque já contava com o principal equipamento.
“O gasto que eu tive foi dos dias que deixei de trabalhar para fazer. Passei quatro dias e meio, tive que ajustar a posição do banco. Uma folha dessa custava, na época em que comprei, R$ 300, e mais R$ 120 para a transportadora trazer. Mas eu já tinha ela em casa”, lembra.
Mesmo com a instalação do equipamento, ele conta que segue com a preocupação com a higienização de todo o local.
“Uma pessoa pega o vírus com um metro de distância umas das outras. Sei que as partículas vão bater no acrílico. Então, pelo menos três vezes, durante o dia, eu faço a limpeza com detergente e água sanitária. Se pego alguém que foi para hospital ou saiu do hospital, eu deixo ele na localidade e, depois, limpo todinho por dentro. Coloquei álcool em gel, carregador de bateria, celular e uma porta para eu não ter muito contato com passageiro”, acrescenta.
A ideia tem dado resultado para Érico, que afirma ter recebido respostas positivas dos passageiros.
“Do momento que fiz, me sento mais seguro. Todos que entram ficam muito empolgados, filmavam, davam os parabéns, aquela coisa empolgante. Não só os passageiros. Quando paro no semáforo, as pessoas chegam e dizem que é bacana. Fico até emocionado, já que fiz com outro objetivo. Tem gente ligou para mim para dizer que, se puder, só anda comigo”, relata.
Érico também está disposto a ajudar outras pessoas que tiverem interesse no equipamento.
“Quem quiser eu faço. Eu vou cobrar R$ 1 mil, porque tem que comprar acrílico, transporte para trazer e quatro dias que vou estar parado fazendo”, conclui. (G1)