Um novo estudo feito por pesquisadores da Universidade do Estado de São Paulo (USP) busca entender como alguns idosos, em especial acima de 90 anos, têm apenas sintomas leves da Covid-19, ou sequer sentem algo ao contraírem a doença. Apesar de serem raros, esses casos existem, e, inclusive, o Amazonas tem alguns exemplos.
O estudo da USP está sendo feito pelo Centro de Pesquisas do Genoma Humano e Células-Tronco. Os cientistas do grupo acreditam que a resposta ao novo coronavírus depende do genoma da pessoa, ou seja, o conjunto de genes que ela possui.
“Como temos grande interesse em descobrir os genes protetores, vamos focar nos super idosos”, disse a geneticista Mayana Zatz, uma das pesquisadoras, em entrevista à revista Pais e Filhos.
As informações oficiais do estudo dão conta de que os cientistas irão comparar pessoas que foram infectadas pela Covid-19, mas se mostraram resistentes ao vírus, em especial os idosos. Por outro lado, para saber se esse poder de ação contra a doença tem a ver com o genoma humano, os cientistas também farão testes com jovens que desenvolveram casos graves da doença.
Desde o início da pandemia a Organização Mundial da Saúde recebeu e repassou a informação de que a doença seria mais grave em pessoas acima de 60 anos ou com alguma comorbidade. As que sustentavam e ainda garantem esses números são as taxas de letalidade maiores em idosos.
Apesar disso, parte dos pacientes idosos se recuperaram da doença, e, por outro lado, também muitos jovens desenvolveram casos graves ou chegaram até a morrer.
Uma ‘super resistente’ no Amazonas
A jovem Victoria Holanda, de 22 anos, diz, com orgulho que a bisavó dela venceu o novo coronavírus. Como um apelido carinhoso, ela se refere à matriarca da família como ‘dona senhorinha’. E conta como tudo aconteceu.
“Ela se chama Maria Teixeira de Souza. Tem cinco filhos e 15 netos. Ela apresentou os sintomas por volta do dia 19 de abril e durou mais ou menos uns quatro dias. Foi pouco, se comparado a outros casos”, comenta Vitoria.
Ela conta que Maria teve um bisneto que convivia com ela diagnosticado com a Covid-19. O teste para comprovar que a idosa tinha a doença foi feito pela neta dela, que é enfermeira. Após o resultado positivo, Maria passou por um tratamento com vitamina C, soro, complexo B e chás naturais.
“A cura dela simboliza uma gratidão e esperança enorme. Ter 103 anos com toda essa força e vida é um exemplo a ser seguido. Minha família agradece muito a Deus por ela continuar conosco e ter superado esse vírus”, diz a bisneta, Victoria.
A idosa foi guerreira e fugiu às estatísticas, já que, segundo a fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, 70% dos óbitos pelo coronavírus, no Estado, ocorrem entre idosos. A informação é do Boletim epidemiológico sobre a Covid-19, datado de 8 de julho.
“A faixa etária com maior registro de óbitos ocorre em idosos (acima de 60 anos), apresentando 73% dos óbitos, principalmente na entre 60 a 69 anos (26%)”, diz o órgão, no texto de apresentação do boletim.
Mulheres idosas sobrevivem mais à Covid-19
Em último boletim epidemiológico da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), o novo coronavírus havia sido mais mortal entre idosos homens. De um total de 6.861 casos graves confirmados até 8 de julho, mais da metade (60%) era de pacientes homens. A doença também matou mais pessoas do sexo masculino. De um total de 751 mortes, 66% havia sido de homens idosos.
Se olhar os casos totais, não apenas os graves, mais mulheres idosas foram contaminadas. De um total de 75.502 casos de Covid-19 até 8 de julho, mais da metade (53%) era de pacientes mulheres. Ou seja, o sexo feminino contrai mais a doença, mas também é o que mais sobrevive.
De um lado, idosos resistentes, do outro, jovens vítimas
O mesmo documento da FVS-AM que mostra como idosos estão suscetíveis a morrer pela Covid-19 também aponta que jovens sofrem perigo. De acordo com o documento, até o dia 8 de julho, havia 75.502 infectados no Amazonas. Destes, 4.982 eram crianças com menos de dez anos.
O mesmo se repete ao olhar para as mortes causadas pela doença até 8 de julho. O boletim informa que, de 2.918 óbitos registrados, pelo menos 25 eram de crianças com menos de dez anos.
No dia 6 de abril o Brasil registrou a primeira morte de um bebê por Covid-19. O caso aconteceu em Iguatu, uma cidade no interior do Cerá. A história ganhou repercussão mundial à época, por ser um dos primeiros óbitos de crianças por complicações do novo coronavírus.
A bebê que faleceu possuía complicações respiratórias e estava com pneumonia, o que pode ter ajudado a piorar o quadro. Ainda assim, o caso mostra que a Covid-19, embora tenha suas preferências, não escolhe vítimas.
Sem respostas
O Em Tempo tentou contato com a equipe de pesquisadores que estuda os super idosos, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria. A tentativa de contato foi feita por meio do endereço eletrônico do médico Paulo Saldiva, da Faculdade de Medicina da USP. Ele é um dos coordenadores da pesquisa. (Em Tempo)