Bolsonaristas em grupos tratam caso das joias como perseguição e já preveem prisão

A PF pediu, inclusive, a quebra de seus sigilos bancário e fiscal de Bolsonaro e de Michelle. Em nota, a defesa do ex-presidente afirmou que ele colocou sua movimentação bancária à disposição das autoridades e que ele “jamais apropriou-se ou desviou quaisquer bens públicos”.

Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

Em grupos de Telegram de extrema direita, a investigação da Polícia Federal sobre o caso das joias e presentes recebidos por Jair Bolsonaro (PL) durante seu mandato está sendo tratada como perseguição política contra o ex-mandatário.

Uma das mensagens que apareceu mais vezes nos grupos analisados chama a investigação de “construção de narrativas” e diz que a “PF de Lula e Dino prepara prisão de Bolsonaro e envolve FBI na farsa”.

Outra das mensagens mais virais critica a PF: “O que se tornou a Polícia Federal? Olha o tipo de operação que estão se prestando a fazer… Qual o sentido de vender e depois recomprar um mesmo relógio?!”.

A análise é do Laboratório de Humanidades Digitais da Universidade Federal da Bahia (LABHDUFBA) em parceria com a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).

Os pesquisadores identificaram 303 mensagens com os termos “joias”, “jóias”, “joias sauditas”, “colar”, “brincos”, “anel” e “relógio”, em um conjunto de 41 canais e 50 supergrupos (com mais de 200 usuários), enviadas de 10 a 15 de agosto.

Além disso, foram feitas análises por meio de nomes de pessoas vinculadas ao caso, como do próprio ex-presidente, da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, do tenente-coronel e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid e do advogado Frederick Wassef. Cid e Michelle foram os mais mencionados.

Segundo os pesquisadores, a gama de coletivos analisados é composta por grupos de extrema direita variados, não se restringindo apenas ao bolsonarismo.

Em grupos analisados pela reportagem, a prisão do ex-presidente é apontada como um cenário provável ou até mesmo certo.

Em uma comunidade com quase 10 mil usuários, um texto orienta os apoiadores a ficarem a postos diante da expectativa de prisão de Bolsonaro e finaliza com “vamos acabar com o Brasil”. Um usuário responde relembrando o 8 de janeiro e que é preciso ter cuidado com mensagens que “botam a pilha no povo”.

Uma outra imagem diz que o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), mandaria prender Bolsonaro na semana seguinte e que, se não houver nenhuma reação, o povo ficaria na mesma situação que na Venezuela.

Há ainda mensagem de um apoiador prenunciando que logo devem ter a notícia de que Bolsonaro está preso, ao passo que um outro usuário questiona se o Brasil só vai acordar depois da prisão do ex-presidente.

Com variações nos diferentes textos, Moraes, o presidente Lula (PT) e o ministro da Justiça, Flávio Dino, são os atores que aparecem como aqueles que estariam perseguindo o ex-presidente.

Na última sexta-feira (11), a PF fez buscas contra pessoas próximas a Bolsonaro e apontou o ex-presidente como suspeito de um esquema para vender os bens no exterior e receber os valores em dinheiro vivo.

A PF pediu, inclusive, a quebra de seus sigilos bancário e fiscal de Bolsonaro e de Michelle. Em nota, a defesa do ex-presidente afirmou que ele colocou sua movimentação bancária à disposição das autoridades e que ele “jamais apropriou-se ou desviou quaisquer bens públicos”.

Nos grupos de Telegram, uma das mensagens identificadas pelos pesquisadores entre as mais virais resgata uma matéria de 2016 sobre uma busca e apreensão em um cofre de uma agência do Banco do Brasil, em que estavam guardados presentes recebidos por Lula em seus dois primeiros mandatos.

Segundo entendimento fixado pelo TCU (Tribunal de Contas da União) em 2016, apenas presentes que sejam de uso pessoal ou de caráter personalíssimo podem integrar o acervo privado de um presidente.

À época o TCU identificou que, de 1.073 presentes recebidos de 2002 a 2016, apenas 15 haviam sido incorporados ao patrimônio público. Com isso, determinou a devolução de 434 presentes por Lula (2003-2010) e 117 por Dilma Rousseff (2011-2016).

Também apareceu com destaque um vídeo em que o vereador Fernando Holiday, que recentemente se filiou ao PL, defende o ex-presidente dizendo ele não cometeu nenhum crime no caso das joias.

Ele repete a mesma argumentação usada por Carlos Bolsonaro, de que uma portaria da Presidência de 2018 –que foi revogada em 2021– previa joias e semijoias como bens de caráter personalíssimo.

Já o link de para um vídeo hospedado na plataforma Rumble —concorrente do YouTube popular na extrema direita— é apresentado assim: “Desvendamos os destaques dos jornais da mídia vendida que alegam um esquema no Planalto e uma fuga de prisão contra Bolsonaro”.

A reportagem identificou ainda diversas mensagens que buscam retratar a busca e apreensão contra o entorno de Bolsonaro como o que seria uma cortina de fumaça para distrair a população de temas negativos para o atual governo. A motivação, por outro lado, varia ao gosto do grupo. Em alguns é a CPI do MST, em outros a CPI do 8 de janeiro, passando ainda pelo preço do combustível e a bolsa de valores.

Em um grupo, um dos alvos são os militares, sob o entendimento de que eles deveriam tomar alguma ação, em especial por um dos alvos da PF ter sido o general Mauro Cesar Lourena Cid, pai de Mauro Cid.

Um link compartilhado algumas vezes diz que a operação “escancara fragilidade da caserna no atual governo”.

(Politica Livre)

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