Por que existe a letra “h” se ela não tem som?

Conheça a (h)istória da letra mais discreta do alfabeto.

Imagem: Lila Cruz/Superinteressante

Porque ela tinha som em latim. Várias línguas que descendem do idioma falado em Roma, como o português, mantiveram essa letra em suas palavras como um vestígio etimológico, ainda que seus falantes tenham parado de pronunciá-la na prática.

O som do “h” latino era muito parecido com o da letra “r” em palavras como “rato”, “rico” ou “roda”, mas os falantes expeliam um bocado de ar ao pronunciá-lo, um detalhe fonético chamado pelos linguistas de “aspiração” que caiu em desuso ainda nos tempos de Roma. 

(Ou melhor: é parecido em alguns sotaques lusófonos. No português de Portugal, é claro, esse “r” de “rato” tem outro som, em que a língua vibra no céu da boca. E alguns falantes de português brasileiro fazem um som gutural, aquele que dá uma raspadinha no fundo da garganta – ou soltam aquele rrrrrrato vibrante, com jeitão italiano.)

Por fim, é bom lembrar que o “h” se reinventou para realizar outro serviço: o de formar os dígrafos “ch”, “nh” e “lh”. 

O destino do “h” também foi um razoável ostracismo em outras línguas românicas, derivadas do latim. Em italiano, por exemplo, sua principal utilidade é diferenciar a grafia de duas palavras cuja pronúncia é idêntica. Por exemplo: existe anno (que significa “ano”) e hanno (que é o verbo havere, “haver”, conjugado na terceira pessoa do plural).

Ele também quebra um galho diferenciando sílabas como “chi” e “ghi” (que são pronunciadas “qui” e “gui”) das sílabas “ci” e “gi” (cujo som é, respectivamente, “tchi” e “dji”).

Muitas palavras que retêm o “h” em português, como “harmonia” ou “hospital”, perderam a letra oficialmente na ortografia italiana: armoniaospedale.

Em inglês, aconteceu o contrário: diversas palavras de origem latina que no século 19 eram pronunciadas com o “h” mudo voltaram a ter o “h” pronunciado no século 20. Esse fenômeno ocorre em diferentes sotaques anglófonos.

Fontes: The Association for Latin Teaching (ARLT); programa de rádio “A letra ‘H’ serve para quê?”, de Pasquale Cipro Neto.

Errata: ao dizer que o som do “h” latino era idêntico ao do “r” no começo de palavras em português, ignoramos a aspiração. O erro foi corrigido no texto acima.

Por Bruno Vaiano / Superinteressante

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