A história das divisas: Como a Bahia expandiu seu território às custas de Sergipe

A relação territorial entre os dois estados revela um processo de usurpação que moldou o mapa brasileiro.

Mapa de Sergipe, de 1919, elaborado por Ávila de Lima / Imagem: Reprodução

Enquanto a Bahia se destaca como o quinto maior estado do Brasil, Sergipe ocupa a última posição, sendo o menor do país. Para ilustrar essa diferença, cerca de 25 Sergipes caberiam dentro da Bahia. Essa discrepância não é acidental; é o resultado de um processo histórico de expansão territorial da Bahia, que, ao longo dos séculos, incorporou áreas que pertenciam a Sergipe.

O médico e político baiano Braz Hermenegildo do Amaral desempenhou um papel crucial na definição das novas fronteiras da Bahia no início do século 20. Em colaboração com o governador JJ Seabra, ele conduziu pesquisas para legitimar a usurpação territorial, que foi formalizada na Conferência de Limites Interestaduais em 1920. Com apoio governamental, Amaral fez viagens ao Rio de Janeiro e a Portugal, onde encontrou documentos que reforçavam as reivindicações da Bahia.

Entre esses documentos estavam cartas que descreviam a extensão territorial da Bahia, permitindo que Amaral reivindicasse aproximadamente 17 mil quilômetros quadrados de Sergipe. Essa manobra foi contestada por Sergipe ao longo dos anos, mas o pleito foi adiado por razões políticas.

Historicamente, a região que hoje é Sergipe fez parte da capitania da Bahia de Todos os Santos e, após diversas mudanças administrativas, somente em 1820 Dom João VI assinou um decreto que separou as duas províncias. Desde então, Sergipe passou a ter uma história marcada por tentativas frustradas de reaver seu território.

Até hoje, a Bahia mantém uma certa ironia em relação ao tamanho de Sergipe, com piadas sobre o “quintal de casa”. Porém, é a Bahia que deve refletir sobre as implicações de sua expansão territorial e as relações que isso gerou com seu estado vizinho.

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