Um relacionamento abusivo é uma dinâmica prejudicial caracterizada pela presença contínua de desequilíbrio de poder. Ele começa com cenas “bobas” de ciúmes, mas pode acabar de formas trágicas, como em um feminicídio.
Um dos processos mais difíceis de quem passa por essa situação é, justamente, identificar que está vivenciado-a. De acordo com a psicóloga especialista em relacionamentos Emily Verde, o relacionamento abusivo pode envolver violência física, psicológica, sexual, financeira ou até negligência emocional.
“O abusador busca exercer controle total sobre o parceiro, prejudicando a autonomia, a autoestima e a saúde emocional da vítima. Basicamente, você acaba perdendo quem você é, porque o foco vira só agradar ou evitar os ataques dessa pessoa.”
Quebrando o ciclo de violência
O primeiro passo para quebrar o ciclo de um relacionamento abusivo é identificar, terminar e buscar ajuda para não retornar. “Dê atenção ao desconforto que está sentindo e avalie sinais de que aquele relacionamento não te faz bem”, emenda a psicóloga.
Veja alguns sinais:
- Gaslighting, ou distorção da realidade, quando, por exemplo, o parceiro te acusa de algo que você não fez ou o contrário, quando você o acusa de algo que ele fez, e ele nega, chamando-a de “louca”;
- Negar eventos negativos ou comportamentos abusivos, fazendo você duvidar de sua percepção;
- Fazer você se sentir culpado constantemente, mesmo quando você não tem culpa.
Outro exemplo comum, mas que deve acender um sinal de alerta, é quando o parceiro monitora suas ações, roupas, amizades ou impede que você tome decisões por conta própria, além de tentar afastá-la de amigos, familiares ou pessoas de apoio.
Como identificar o relacionamento abusivo?
- Padrão de controle: o abusador quer ditar cada aspecto da vida do parceiro;
- Falta de respeito: o parceiro invalida sentimentos, opiniões ou conquistas;
- Ciclo de abuso: alterna entre momentos de violência/abuso e pedidos de perdão ou promessas de mudança;
- Medo constante: a vítima sente medo de discordar, expressar opiniões ou agir de forma independente;
- Isolamento social: a vítima é afastada de familiares e amigos;
- Incapacidade de se sentir livre: o parceiro faz a vítima acreditar que ela não consegue viver sem ele;
- Dependência financeira ou emocional: o abusador pode criar situações que dificultam a independência.
Como identificar a diferença entre violência física, sexual e psicológica?
Violência física
Inclui tapas, socos, empurrões, estrangulamento, queimaduras ou qualquer agressão que cause lesões corporais. Geralmente, deixa marcas visíveis no corpo, mas não é menos grave quando não deixa.
Violência sexual
Qualquer ato sexual provocado, coerção para práticas que a vítima não deseja, ou abuso sexual sem consentimento. Também inclui a prática de exposição humilhante ou uso do corpo da vítima contra sua vontade.
Violência psicológica
Abrange manipulação, ameaças, humilhações, xingamentos, gaslighting, controle emocional e isolamento, privação e manipulação financeira. Apesar de não deixar marcas físicas, causa profundas feridas emocionais, como baixa autoestima, ansiedade e depressão.
“Maria não volte com ele”
Recentemente, a ONU Mulheres, em uma parceria com a prefeitura de Salvador, espalhou cartazes pela cidade que chamaram a atenção nas redes sociais. “Volta, Maria. Desculpa aquele dia, eu estava nervoso” foi uma das sentenças que exemplificaram o ciclo de abuso.
A ação se deu por conta do Dia Internacional de Não Violência contra as Mulheres, celebrado no dia 25 de novembro. A Prefeitura de Salvador explicou a ação, com o mote “Não volta, Maria”, alertando para uma das fases nas quais muitas mulheres acabam perdoando o ex: o arrependimento.