Um acadêmico adepto da ideologia de esquerda produziu um artigo com críticas às lideranças neopentecostais brasileiras por seu apoio ao presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento à crise do coronavírus.
Fabio Py, doutor em teologia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) e professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), valeu-se de rotulações adjetivas – prática comum entre formadores de opinião de esquerda – para expor suas divergências com a postura de Valdemiro Santiago, Edir Macedo e Silas Malafaia.
“Existem pelo menos três grandes lideranças pentecostais em apoio ao atual cristofascismo brasileiro. A primeira figura é a do apóstolo Valdomiro (sic) Santiago, líder da Igreja Mundial do Poder de Deus, que mesmo nos primeiros dias da quarentena por conta da Covid-19 no Brasil, convocou os integrantes da sua igreja para que se aglomerassem na sede do seu templo em São Paulo”, escreveu o acadêmico.
O segundo citado por Py foi o bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD): “Na mesma época do vídeo do Valdomiro, minimizou o medo das pessoas. Afirmou que o temor ‘não condiz com a realidade’ e que a mídia estava causando o caos. Destacou textualmente que o medo supostamente incitado seria ‘tática de Satanás’”, contextualizou, no artigo publicado pela revista Carta Capital.
“O terceiro líder religioso da base cristofascista de Bolsonaro a se posicionar foi o pastor Silas Malafaia. Ele é o que mais chama a atenção sobre o coronavírus. Gasta tempo falando sobre o tema, com mensagens, discussões e provocando debates. Após o pronunciamento de Bolsonaro do dia 24, gravou um vídeo nas redes sociais reiterando o apoio ao presidente na questão da doença”, apontou Py.
O discurso de Malafaia retira, na visão do acadêmico ”a responsabilidade do chefe do Executivo” e teria servido para, supostamente, justicar a ”escolha da população entre o adoecimento e o desemprego”.
Na ocasião, Malafaia disse: “Estamos numa escolha de Sofia: o que é pior, coronavírus ou caos social? Eu garanto que é caos social. Vai morrer gente, vai… lamentamos profundamente. Meu desejo é que ninguém morra, mas só um dado para vocês, a gripe influenza, no Brasil, em 2009, matou mais de 2 mil pessoas e mais de 58 mil ficaram infectados […] a minha oração é que Deus guarde pessoas idosas, as pessoas que têm deficiência em seu organismo e que são vulneráveis a isso. Essa que é a questão: se parar tudo, vamos ter uma crise sem precedentes no nosso pais”.
Em cima disso, o acadêmico enxerga espaço para atribuir “fascismo” aos líderes neopentecostais por uma suposta relativização da vida humana: “O pastor [Silas Malafaia] apoia ponto a ponto o discurso do presidente indicando que seria melhor que parte da população acima de 60 anos, e pessoas com diabetes, hipertensos, possam vir a óbito do que parar o país”.
“As pregações de Malafaia não foram recebidas sem contestações. […] Os líderes religiosos cristofascistas mostram não se preocupar com as mortes que podem ser ampliadas com suas atitudes. Nesse caso, esperamos sinceramente que esses líderes religiosos sejam responsabilizados, assim como o político genocida que eles sustentam”, finaliza.