“Uma aluna cheia de sonhos, brilhante”, destaca Albany Mendonça, diz a coordenadora do curso de Serviço Social da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) sobre a jovem Elitânia de Souza da Hora, de 25 anos, morta a tiros na cidade de Cachoeira, recôncavo da Bahia.
“Elitânia estava finalizando o estágio curricular dela, estava finalizando o projeto de pesquisa. No próximo semestre ela ia fazer o TCC e se formar”, disse Albany Mendonça.
Junto com estudantes e demais professores, a coordenadora participou de um um protesto na manhã desta quinta-feira (28) pedindo justiça pelo crime contra a jovem.
Elitânia foi assassinada na noite de quarta-feira (27), quando a vítima saía da universidade. O ex- companheiro dela é apontado pela polícia como principal suspeito do crime. Conforme a advogada da família da vítima, o suspeito foi identificado como Alexandre Passos Silva Góes. Informações preliminares da advogada é de que ele é filho de um juiz de direito da Bahia, não há detalhes da cidade onde ele atua.
A jovem tinha uma medida protetiva que impedia a aproximação do suspeito. Ele é procurado pela polícia. Até a última atualização desta reportagem, o homem não havia sido preso.
A vítima foi atingida por três tiros na cabeça. Ela foi socorrida por colegas da UFRB, pela coordenadora do curso e também pela Polícia Militar, mas não resistiu aos ferimentos.
“Foi terrível. Fui ao hospital, conversei com a equipe médica e fui informada que ela já chegou morta”, disse Albany Mendonça.
Uma amiga que estava com ela no momento dos disparos contou que elas notaram a aproximação de alguém em uma moto e Elitânia pensou que seria assaltada, mas, de repente, o homem que estava na motocicleta atirou. A colega de Elitânia não teve ferimentos.
Após o crime, a UFRB decretou luto de três dias e suspendeu as aulas desta quinta-feira no Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL). Nesta manhã, a fachada do CAHL, onde Elitânia de Souza cursava serviço social, estava com cartazes e uma grande faixa com a palavra “Luto”.
A ação fez parte do protesto dos alunos e estudantes que fizeram uma caminhada do prédio onde a jovem estudava até o fórum da cidade de Cachoeira.
Elitânia era do quilombo Tabuleiro da Vitória, na zona rural de Cachoeira. Maria das Graças Brito, uma das lideranças do quilombo, relatou as agressões que a vítima sofreu do ex-companheiro. Segundo Maria, educação quilombola era o tema de conclusão de curso da estudante.
“Eles [Elitânia e o companheiro] moraram juntos por mais de um ano. Era uma relação conturbada. Ela foi espancada por ele, sofreu lesões corporais graves, onde houve exame de corpo delito, houve o B.O [Boletim de Ocorrência]. Esse caso foi arquivado, ficou uns sete meses sem solução. Quando ela me contou, minha filha que é advogada ficou com o caso. Elitânia conversou com minha filha, mas ele [o suspeito] se acomodou e ficou por isso mesmo. Há dois meses ela me procurou chorando dizendo que estava apanhando na casa da avó dela”, disse Maria das Graças.
Outra professora da vítima, Simone Brandão, também falou da estudante e destacou o papel dela dentro da universidade e do quilombo.
“Era uma excelente aluna, remanescente de Quilombo, a comunidade do Tabuleiro. Elitânia tinha uma participação bastante significativa no movimento da comunidade dela. Dentro da universidade, ela auxiliava outras estudantes, cotistas, estudantes oriundos de quilombo. Sempre tinha participação no sentido de orientar, de encaminhar para a pró-reitora, no sentido de garantir as bolsas e orientar sobre essas bolsas”, relatou Simone Brandão.
A Polícia Civil, por meio da Delegacia de cachoeira, investiga o crime. O delegado titular da cidade, João Mateus Correia, revelou que investigadores já estão nas buscas pelo suspeito e que já pediu pela prisão preventiva do homem.
“O caso está sendo acompanhando pelas polícias de Cachoeira e São Félix e também a Justiça das duas comarcas. O que não havia era indícios suficientes para decretar a prisão dele diante dos indícios que nós tínhamos até o momento. A partir do fato lamentável que aconteceu ontem [quarta-feira], a polícia já representou pela prisão dele. A gente já tem confiança da autoria. As investigações agora estão no sentido de localizar o autor para que ele possa responder pelo crime”, explicou João Mateus.
Após a morte confirmada, o corpo da jovem foi encaminhado para o Departamento de Polícia Técnica (DPT) de Santo Amaro, cidade vizinha a Cachoeira. O velório de Elitânia ocorreu nesta quinta-feira na casa da mãe de Elitânia, localizada na Guaíba, zona rural de Cachoeira. Já o sepultamento contou com a presença de dezenas de amigos e familiares, por volta das 17h, no cemitério localizado no bairro Morumbi, em Cachoeira.
No enterro, alguns amigos levaram cartazes em forma de protesto. “Mais uma preta”, dizia um deles.
Por meio de nota, a Secretaria de Políticas para as Mulheres do Estado da Bahia (SPM-BA) informou que acompanha as investigações do assassinato da estudante Elitânia de Souza e se solidariza com parentes e amigos.
A secretaria, assim como amigos e familiares, destacou que a jovem era uma liderança da comunidade quilombola do Tabuleiro da Vitória. A coordenação de Enfrentamento à Violência da SPM-BA está em contato com o delegado titular de Cachoeira, João Mateus, com a representação local do Ministério Público, além do secretário municipal de Promoção da Igualdade Racial, Edvaldo Conceição, a fim de acompanhar as investigações e contribuir, no que for necessário, para a elucidação do caso e punição do agressor.