Neymar continua com prestígio na seleção brasileira. Mas a acusação de estupro que recaiu sobre ele às vésperas da Copa América preocupa. O temor é que o caso tenha influência no desempenho não só do atacante como de toda a equipe. Por isso, o amistoso desta quarta-feira contra o Catar, em Brasília, servirá como uma espécie de termômetro. A expectativa é sobre como o público tratará Neymar e como ele reagirá se for alvo de uma reação negativa. Também existe o medo de que os outros jogadores sintam um eventual “baque”.
Oficialmente, o problema extracampo não interferiu na maneira como Neymar é visto pela comissão técnica, por seus companheiros e pela direção da CBF. Nesta terça-feira, em Paris, onde participa do Congresso da Fifa, o presidente da entidade, Rogério Caboclo, descartou dispensar o atacante. “Temos total confiança em Neymar. Sabemos a pessoa que é, o homem que é, o atleta que é e temos total confiança de que tudo vai ser esclarecido”, disse.
No entanto, ainda que ninguém admita claramente, há o temor de que a repercussão negativa do caso – Neymar tem contra si em São Paulo o Boletim de Ocorrência em que é acusado de estupro por uma mulher de 26 anos, além de uma investigação no Rio de Janeiro por possível crime virtual por ter divulgado imagens da suposta vítima – afete a seleção durante o torneio continental.
Caboclo procura ser otimista e acredita que o foco do grupo não será perdido em função da polêmica. “Não acredito (que afete), o ambiente (da seleção) está muito tranquilo. Tentamos levar (o caso) com naturalidade, o mais importante é que não afete os jogadores”, afirmou. “Nada está afetando o comportamento da equipe e da comissão técnica. Todos estão focados na Copa América”, insistiu.
Manter o foco, aliás, tornou-se uma tarefa extra para o técnico Tite desde que o caso explodiu. Na última segunda-feira, ele concedeu entrevista e, embora mantivesse o tom calmo, estava visivelmente incomodado e constrangido por ter de responder quase que exclusivamente sobre a nova confusão envolvendo Neymar. E deixou claro que seu principal objetivo é trabalhar para que nenhuma reação externa abale o ambiente.
“Eu não posso me fazer comentarista e nem me transpor a outras pessoas. Tenho série de responsabilidades, energia para gastar no que é importante, que é a preparação da equipe”, disse Tite à certa altura da entrevista. “Quero que vocês entendam que meu foco é a preparação para o jogo contra o Catar, 23 atletas em busca de desempenho. Se eu ficar buscando, fazendo projeções, vai me consumir energia e me tirar do meu foco”.
Em seu esforço, o treinador até colocou Neymar como apenas um peça em toda a engrenagem. “Neymar é um jogador diferente, mas para ele acontecer há um processo. A equipe está acima disso, nosso trabalho está acima disso”, afirmou.
Tite, porém, está consciente de que o assunto não será encerrado tão cedo. Até porque o jogador terá de depor enquanto a seleção ainda estiver reunida. Na próxima semana, quando a delegação estiver em São Paulo – vai estrear na Copa América no próximo dia 14 contra a Bolívia -, ele deverá ir à 6.ª Delegacia da Defesa da Mulher, onde foi feita a denúncia. A data ainda não foi definida.
Neymar também terá de prestar depoimento na Delegacia de Repressão a Crimes de Informática da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Ele foi intimado a depor nesta sexta-feira, mas estará em Porto Alegre com a seleção – joga no domingo um amistoso contra Honduras que também servirá para medir a reação da torcida – e a audiência foi adiada. Nesta quarta será definida uma nova data. (Estadão Conteúdo)