Após recomendação do Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA), condicionando o apoio da Superintendência de Fomento ao Turismo do Estado da Bahia (Bahiatursa) a lives juninas ao cumprimento “de normas de gestão de recursos públicos e de segurança sanitária durante a pandemia da Covid-19” (saiba mais), o governo da Bahia descartou qualquer investimento do órgão voltado à realização de eventos virtuais para marcar as festividades tradicionais.
Ao Bahia Notícias, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) informou que “não há recurso previsto para realização de lives juninas pela Bahiatursa”. A Secom destacou ainda que o documento emitido pelo MP-BA trata de uma recomendação, e não de uma obrigatoriedade. “O MP não está determinando (até porque não pode fazer isso) que a Bahiatursa realize este investimento. Só recomenda que, caso haja investimento, que seja de acordo com as normas sanitárias”, pontua. Em 2020, o órgão, no entanto, desaconselhou que prefeituras contratassem artistas para lives (relembre aqui e aqui).
Com a proibição dos shows presenciais e sem aportes financeiros como o da Bahiatursa – órgão do governo responsável por boa parte do apoio do governo estadual a eventos como o Carnaval e festas juninas – para apresentações online, muitos forrozeiros amargam o segundo São João em situação delicada.
Em abril deste ano, diante da previsão de que os festejos seriam cancelados novamente, alguns artistas relataram a conjuntura dramática do setor e cobraram “sensibilidade” do poder público na implementação de políticas compensatórias.
“Está havendo um grande descaso com a cultura de todos os lados. Eu não imaginei que os nossos governantes ficassem tão apáticos perante a parte cultural”, disse Zelito Miranda, à época, destacando ainda a importância do São João, enquanto patrimônio do Nordeste e do Brasil. “Tem raiz, tem um cabedal, tem uma história pra contar. É uma festa completa, tem tudo, comida, bebida, reza, santo, novena… O ciclo junino é muito rico culturalmente”, pontuou.
Sem deixar de levar em consideração a gravidade da pandemia e a necessidade de obedecer aos protocolos estabelecidos pela comunidade científica, o forrozeiro cobrou ações efetivas para apoiar os profissionais. “Nós vamos torcer e pedir juízo a esses governantes, que eles deem atenção a essa questão, porque, claro e evidente, a gente não pode passar dois anos de São João sem faturamento, sem trabalhar. Tudo bem, a gente segura um ano, um ano e meio, mas acredito que ninguém aguenta mais. A real é essa, está barra pesada”, declarou, admitindo como solução paliativa a adaptação das festas para o online. “Eu acho que tem que ter esse mundo virtual e o Estado e as prefeituras não podem mais ficar esperando para entrar nesse mundo virtual, porque é a arma que nós temos nesse momento”, afirmou.
Targino Gondim, por sua vez, classificou como “aterrador” o cenário, diante do segundo ano consecutivo de festas juninas canceladas. “Existem muitos, inúmeros artistas no Brasil todo e aqui na Bahia, que já sofrem durante esse tempo todo sem nenhum pouco de receita, só pedindo ajuda e sendo ajudado de diversas formas, mas sem nenhum tipo de dignidade, sem condição de exercer seu trabalho, sua profissão. E agora com essa notícia de cancelamento de São João, isso é horrendo”, avaliou.
A questão também tem preocupado prefeitos baianos. Em entrevista ao Bahia Notícias no Ar, na Salvador FM, o presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB), Zé Cocá, disse que a entidade já vinha buscando respostas. “Os cantores, principalmente os cantores regionais, têm passado por sérias dificuldades. Nós fizemos uma solicitação à Bahiatursa, para que houvesse o apoio do São João virtual, para que a gente, no mínimo, conseguisse ajudar esses cantores. Mas a Bahiatursa não vai conseguir financiar. A maioria dos municípios da Bahia não tem estrutura financeira para bancar um São João virtual. Então estamos brigando junto ao governo federal e ao governo do estado para que a gente apoie esses artistas”, relatou.
“A gente sabe que o governo do estado tá vivendo sérias dificuldades, porque a receita caiu nos municípios e caiu no estado. Mas seria um grande suporte nesse momento. Imagina um município pequeno, que gastava R$ 50 mil, R$ 100 mil no São João, que arrecada R$ 1 milhão. Ele não tem condições de dar esse suporte. Historicamente a Bahiatursa que vinha cumprindo com esse repasse ano a ano. Então os artistas estão pressionando os prefeitos, e os prefeitos não têm a receita pra fazer o evento sem o suporte da Bahiatursa. Eu acho que era importante esse financiamento, ia nos ajudar muito, mas o governo do estado, através da Bahiatursa, nos informa que não tem orçamento para a realização das lives”, completou o prefeito de Jequié.
Apesar do anúncio de que não haverá investimento específico da Bahiatursa para a data, a Secom apontou como ações do governo neste sentido o Festival de Economia Solidária São João da Minha Terra, promovido pela Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), em formato virtual; e o Prêmio de Preservação dos Bens Culturais e Identitários da Bahia – Emília Biancardi, executado pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult), dentro do Programa Aldir Blanc Bahia, com apoio a 63 projetos que contemplam desde forró tradicional a quadrilhas juninas. (BN)