Nesta segunda-feira (29), às 9h33 (horário de Brasília), um foguete de 98 metros de comprimento vai decolar do Centro Espacial Kennedy, no estado americano da Flórida. O destino? A Lua.
O foguete, o mais poderoso da história da história da Nasa, marca o início da missão Artemis I – parte de uma nova etapa de exploração lunar que quer levar humanos de volta à superfície da Lua, 50 anos após o programa Apollo. E o objetivo vai além: chegar, no futuro, a Marte.
A missão desta segunda ainda não é tripulada, mas é altamente simbólica para a Nasa – que, hoje, não tem mais os soviéticos como concorrentes (como em 1969, quando Neil Armstrong pisou na Lua pela primeira vez) – e sim a China e concorrentes privados, como a SpaceX, de Elon Musk.
Se tudo correr bem, entretanto, astronautas da agência espacial americana poderão se preparar para, em 2024, dar uma volta ao redor do satélite natural da Terra. A Nasa pretende pousar duas pessoas na superfície lunar até o final de 2025.
Mas os funcionários da agência alertam que o voo, um teste de seis semanas, é arriscado e pode ser interrompido se algo falhar.
“Vamos fazê-lo fazer coisas que nunca faríamos com uma equipe, para tentar torná-lo o mais seguro possível”, disse o chefe da Nasa, Bill Nelson, à Associated Press na última quarta-feira (24).
O astronauta da Nasa Stanley Love deu uma entrevista à agência de notícias Reuters explicando um pouco sobre os riscos:
“O ponto principal do voo não acontece até os últimos minutos, quando voltamos a mergulhar na atmosfera da Terra, depois de cair da Lua a algo como 24 mil milhas por hora [cerca de 39 mil km/h], 5 mil graus [Fahrenheit, cerca de 2.750ºC] naquele escudo térmico”, disse.
E a missão também não saiu barata: foram mais de 4 bilhões de dólares (cerca de R$ 20 bilhões). Se considerados os custos desde o início do programa, há dez anos, até o pouso na Lua, em 2025, são 93 bilhões de dólares (cerca de R$ 471 bilhões).
O novo foguete é mais curto e mais fino do que os Saturno V, que lançaram 24 astronautas da Apollo à Lua há 50 anos – mas é mais poderoso, com 4 milhões de kg de empuxo. Ao contrário do Saturno V, aerodinâmico, o novo foguete tem um par de propulsores refeitos dos ônibus espaciais da Nasa.
- Cápsula
Com 3 metros de altura, a cápsula Orion é mais espaçosa que a cápsula da Apollo, acomodando quatro astronautas em vez de três.
Para o voo de teste, um manequim em tamanho real em um traje de voo laranja ocupará o assento do comandante, equipado com sensores de vibração e aceleração. Dois outros manequins, feitos de material que simula tecido humano – cabeças e torsos femininos, mas sem membros – medirão a radiação cósmica, um dos maiores riscos dos voos espaciais.
Ao contrário do foguete, a Orion já foi lançado antes, dando duas voltas ao redor da Terra em 2014.
- Plano de voo
O voo da Orion deve durar seis semanas, desde a decolagem na Flórida até o pouso no Pacífico. Levará quase uma semana para chegar à Lua, a 386 mil quilômetros de distância.
Depois de girar próximo da Lua, a cápsula entrará em uma órbita distante, ficando a 450 mil quilômetros da Terra – mais longe do que Apollo.
O grande teste ocorre no final da missão, quando Orion atinge a atmosfera a 40 mil km/h a caminho de um mergulho no Pacífico. O escudo térmico usa o mesmo material das cápsulas Apollo para suportar temperaturas de reentrada de 2.750ºC. O design avançado antecipa os retornos mais rápidos e mais quentes das futuras tripulações que irão a Marte.
- ‘Passageiros’
Além dos três bonecos de teste, o voo tem uma série de “passageiros clandestinos” para pesquisas no espaço profundo.
Dez satélites do tamanho de uma caixa de sapatos serão lançados assim que a Orion for arremessada em direção à Lua. A Nasa espera que alguns falhem, dada a natureza de baixo custo e alto risco deles.
Em uma saudação de volta ao futuro, a Orion carregará algumas lascas de rochas lunares coletadas por Neil Armstrong e Buzz Aldrin, da Apollo 11, em 1969, e um parafuso de um de seus motores de foguete, recuperados do mar há uma década.
- Apollo vs. Artemis
Mais de 50 anos depois, a missão Apollo ainda é a maior conquista da Nasa. Usando tecnologia da década de 1960, a agência espacial americana levou apenas oito anos para lançar à Lua seu primeiro astronauta, Alan Shepard, e até o pouso de Neil Armstrong e Buzz Aldrin.
Doze astronautas da Apollo andaram na Lua de 1969 a 1972, permanecendo não mais que três dias de cada vez.
Por outro lado, Artemis já se arrasta há mais de uma década. Para a nova missão, a Nasa vai usar um grupo diversificado de astronautas – atualmente com 42 pessoas – e está estendendo o tempo que as equipes passarão na Lua para, pelo menos, uma semana. O objetivo é criar uma presença lunar de longo prazo.
A agência promete anunciar as primeiras tripulações lunares assim que a Orion estiver de volta à Terra.