Pense num absurdo. É verdade, a Bahia costuma ter precedentes, como diria o ex-governador Otávio Mangabeira. Mas esse, nem os baianos, nem os brasileiros e nem o mundo contava. A invasão terrorista às sedes dos Três Poderes no último domingo, em Brasília, não só chocou pela selvageria das imagens, mas também simbolizou o maior ataque à democracia brasileira desde 1964, quando a tentativa de golpe deu certo.
Definitivamente, dessa vez, o absurdo não tem precedentes. Foram mais de 5 mil integrantes do grupo que pede a anulação da eleição presidencial. Eles romperam as barreiras de segurança da Polícia Militar e da Força Nacional de Segurança e invadiram os prédios do Congresso, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal. As imagens do ataque superam obras dos mais selvagens e criativos roteiristas hollywoodianos. Entre os menores prejuízos, está o financeiro. A estimativa é que só no Planalto o dano tenha sido de R$ 8 milhões apenas em obras de arte.
Muitos devem estar buscando na memória episódios semelhantes. Os mais afoitos, com certeza, já devem estar comparando o ataque em Brasília ao episódio no Capitólio, em 2021, quando apoiadores de Donald Trump invadiram o prédio norte-americano após não aceitarem a derrota nas eleições presidenciais. Claro, houve inspiração. Existem semelhanças. Principalmente no comportamento dos ex-presidentes. O próprio New York Times fez essa comparação, apontando a maneira como os dois incitaram seus seguidores com declarações contra os processos eleitorais de seus países.
A diferença, no entanto, é clara e pode ser representada por apenas uma imagem: policiais militares comprando água de coco enquanto o caos estava instaurado na Praça dos Três Poderes. Ou por um vídeo que mostra um coronel do Exército tentando impedir PMs de prender um bolsonarista no Planalto. E ainda por uma declaração do ministro da Casa Civil, Rui Costa: “Isso tudo aconteceu com a conivência de vários atores, ou no mínimo com a apatia e omissão de muita gente, de muitas autoridades”.
Certamente existiram falhas na Segurança norte-americana. O contingente policial inicial não era suficiente – assim como ocorreu no Brasil – e a resposta das forças também não foi das mais rápidas. Mas em Brasília, o que aconteceu não foi só uma falha. Para o jornalista Pedro Doria, só há duas opções: ou a polícia do Distrito Federal é incompetende e não percebeu que precisava reforçar a segurança, ou, mesmo entendendo que havia risco, permitiu que os ataques acontecessem. A segunda opção parece mais possível, já que uma apuração da agência Reuters mostrou que o planejamento das ações já acontecia há pelo menos duas semanas e podia ser facilmente encontrado
em grupos do Telegram e até em redes sociais abertas, como o Twitter. (Metro1)