Três horas. Este é o tempo que a Federação Bahiana de Atletismo (FBA) terá para realizar o Campeonato Baiano da modalidade, neste domingo (12), na pista do Colégio Militar de Salvador, na Pituba. Entre 14h30 e 17h30, a disputa ocorrerá sem diversas provas tradicionais, como os 200, 800 e 10.000 metros rasos, 110 metros com barreiras, salto triplo, salto com vara, lançamento de martelo e revezamentos por equipes. O motivo? Falta de espaço, tempo e dinheiro.
“Você já viu artista sem palco? Não temos equipamento. Não só para os atletas, não temos equipamento público na Bahia”, reclamou o presidente da FBA, Og Robson, em entrevista ao Bahia Notícias, que está “tirando leite de pedra” para organizar o evento. “Nossa principal fonte são as corridas de rua, mas não estão acontecendo. A arrecadação da federação é zero. Na maioria das competições, os atletas não pagam inscrição”, revelou.
A arbitragem do Campeonato Baiano, inclusive, será realizada de forma voluntária por profissionais que se dispuseram a comparecer. O torneio, que normalmente é dividido em seis etapas, só terá três horas porque o colégio teve de ser reservado, e esse era o único horário disponível. E só será no colégio porque nenhuma pista em Salvador reúne as condições necessárias para abrigá-lo, segundo Og.
“No Sesi Simões Filho, conseguimos colocar uma pista ‘top’, mas que, sem a devida manutenção, com quatro anos de uso teve bolhas e infiltrações. Toda a parte emborrachada foi perdida, e hoje a pista está um cimento. Todas elas passaram a ser de cimento. Tivemos a Copa do Mundo, perdemos a pista da Fonte Nova. A pista da Polícia Militar no Dendezeiros é totalmente acidentada, totalmente impraticável. A gente fica na esperança de que a prefeitura, o governo do estado, pensem um pouco na prática esportiva como forma de fomentar a tudo e a todos. É direito do cidadão ter um local para praticar esportes”, criticou.
Restaria a pista de atletismo em Pituaçu, mas, de acordo com o presidente da FBA, o local é “perigoso” e precisa ter um número de 10 a 15 pessoas para diminuir o risco. “É um espaço que realmente não tem segurança e manutenção”, pontuou
Em contato com o Bahia Notícias, a Superintendência de Desportos do Estado da Bahia (Sudesb) afirmou que a pista de Pituaçu, por exemplo, “não segue o padrão oficial para sediar competições. Para uma competição ser reconhecida pela Federação, a pista precisa ser emborrachada ou de pó de brita. Em Pituaçu, a pista é de concreto”.
Por outro lado, revelou estar trabalhando na construção de uma pista no Centro de Esportes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Ondina. Até lá, contudo, não há nenhuma pista para realizar competições chanceladas pela federação.
Principal atleta do estado e atual tricampeão baiano, Thiago Henrique Fonseca estará na competição. Ao BN, ele contou que teve dificuldades para manter o ritmo de treinamentos durante a pandemia. A pista do colégio, onde normalmente treina, foi fechada no dia 16 de março de 2020, e só foi reaberta há duas semanas. Ainda assim, por conta da Covid-19, só é permitido um número reduzido de atletas, e é preciso estar de máscara.
“Nesse meio tempo, passei cerca de oito meses dentro de casa. Tem uma escadaria aqui perto, em casa fiz abidominal, circuito, e em setembro voltei a correr na rua. O meu técnico passou a fazer os treinos em grupo, se não me engano em outubro do ano passado, na rua. Nosso ponto de encontro era o Jardim dos Namorados. Três vezes na semana, a gente usava a escadaria para o skate para fazer saltos, trabalhava coordenação. Como eu moro na federação, ia no farol da barra e voltava para o condicionamento físico. Quando partimos para trabalho dos 100m, passei a fazer tiros no concreto mesmo, na avenida centenário”, contou.
Ainda assim, sua melhor performance ocorreu quando ele treinou em Recife. “Igualei minha melhor marca nos 100m [10.5s], e quando retornei a Salvador o ritmo diminuiu, porque não tinha a pista pra treinar. Senti uma diferença para desenvolver minha velocidade. Hoje, eu diria que estou 80% para o campeonato baiano”, destacou. De qualquer forma, se considera “favorito” para o torneio.
Ao lado da equipe brasileira, Thiago foi medalha de ouro no sul-americano de atletismo, na prova dos 4×100 metros. Dessa vez, ele só competirá a prova dos 100m.
INSCRIÇÕES E REGULAMENTO
O Campeonato Baiano de Atletismo deve ter nomes de destaque do estado, como Thiago, e só poderá participar quem já estiver com pelo menos uma dose da vacina contra a Covid-19. A idade mínima é 16 anos, faixa-etária já contemplada pelo plano de vacinação de Salvador.
A inscrição deve ser feita até 30 minutos antes do início de cada prova, e deve ser apresentada a carteira da CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) ou outro documento de identificação com foto.
A composição das séries, balizamento e ordem preliminar de arremessos e lançamentos serão de acordo com o ranking de 2019. A premiação será feita da forma convencional: medalhas de ouro, prata e bronze. (BN)