A notícia de que o ex-goleiro Bruno Fernandes conseguiu uma progressão na pena para o regime semiaberto se espalhou rapidamente e Sônia de Fátima Moura, mãe de Eliza Samúdio, não conseguiu proteger seu neto, Bruninho, de 9 anos, da informação. Ela conta que estava na cozinha durante a tarde quando o menino descobriu que o pai estava por meio de um telejornal.
“Ele estava sozinho na sala”, diz ela. “Quando me dei conta, a notícia já estava na metade e meu neto estava com os olhos arregalados, olhando para a televisão com cara de choro. Ele já se sente um rapazinho e não quis chorar. Depois do almoço, eu o abracei e comecei a conversar com ele. É difícil ver meu neto daquele jeito ali, amedrontado [chora]. Perguntei o que ele estava sentindo e ele me respondeu: ‘Estou com medo do meu pai’”, descreve Sônia. “Eu tenho vontade de dizer que era para sentir medo mesmo. Só não faço isso porque vão me acusar de alienação parental, mas dá vontade de falar”, desabafa. “Respondi: ‘Você não precisa ter medo porque eu e seus tios estamos aqui para te proteger’.”
A dona de casa que cria o menino desde a morte de sua filha, Eliza, afirma que o neto não sabe com detalhes o que aconteceu logo que ele nasceu. Sônia conta que Bruninho sabe que a mãe teve um caso com o pai, ficou grávida e que Bruno tentou contra a vida do próprio filho ainda enquanto Eliza esperava o bebê.
“Também sabe que o Bruno mandou o Bola e o Macarrão [condenados como cúmplices] atrás dos dois em Santos [litoral de São Paulo]. Ele só não sabe a forma como a mãe dele foi morta. Isso é algo que não tem necessidade de saber agora. A carga que ele carrega é pesada. Não tem necessidade de mais uma informação como essa. A cabecinha dele não dá conta”, acredita.
Questionada se tem medo que o menino descubra por si só, em pesquisas na internet, a avó ressalta que os dois têm um papo muito franco um com o outro e que Bruninho ainda não teve curiosidade de saber mais sobre a morte da mãe.
“Ele não tem redes sociais, mas poderia, por exemplo, assistir aos vídeos no YouTube”, diz ela. “Eu sempre falo que, quando tiver alguma curiosidade, me pergunte que eu vou explicar. Nada melhor do que uma conversa de coração aberto. Tenho de esquecer a minha dor para focar nele [chora]. É uma cumplicidade: eu divido a minha dor com ele e ele comigo. É um ajudando o outro a superar. Quando estamos fracos, nós nos unimos.”
A mãe de Eliza Samúdio afirma ainda que, desde 2004, o ex-goleiro tenta entrar com um processo de negatória da paternidade. Ele perdeu, recorreu novamente, mas os desembargadores da 4ª Vara do Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul negaram mais uma vez.
“Ele [Bruno] já havia reconhecido perante à Justiça que o Bruninho era seu filho. Não fui eu nem a advogada que o forçamos a fazer o exame de DNA. O Bruno gostaria que fosse refeito em Minas Gerais, mas o Bruninho aqui, em Mato Grosso do Sul. Isso estava correndo em segredo de justiça. Eu não tenho nada contra fazer [um novo exame]”, conta ela. “Já tinha falado isso para minha advogada, mas que seja feito aqui, na minha cidade, e não em Minas.”
Sônia acrescenta que já ouviu boatos de que todo o dinheiro que Bruno ganha na prisão é destinado ao filho, mas rebate afirmando não ser verdade. Segundo ela, até hoje, o neto não ganhou um centavo do pai.
“As pessoas acham que ele ganha alguma coisa. Acho um absurdo isso! Tem gente que fala que eu tenho que cuidar do meu neto porque ganho para isso. Eu cuido porque tenho amor! Se eu tivesse qualquer pensão, esse dinheiro seria dele. Com certeza estaria, pelo menos, estudando em uma escola particular. Por enquanto, Bruninho está em uma escola pública.”
Segurança
Bruno foi condenado pelo homicídio triplamente qualificado de Eliza Samúdio e pelo sequestro e cárcere privado do filho Bruninho em 2010, mas sempre negou os crimes e, desde então, vem tentando sair da cadeia. Sônia revela que mudou-se de casa recentemente, mas acredita que seja muito fácil descobrir seu atual endereço.
“Moro na mesma vila. O Bruninho estuda aqui perto. Se chegar no endereço antigo alguém perguntando por mim, as pessoas vão indicar onde estou morando.”
A avó também já alertou o neto que, se preciso for, vai fazer um boletim de ocorrência e pedir uma medida protetiva na Justiça para não deixar que Bruno se aproxime do filho. “Vamos ver o que pode ser feito. Qualquer coisa que possa acontecer conosco, só pode ser o Bruno. Venho batalhando com ele na justiça há nove anos.” (revistamarieclaire.globo)