A sensação de que estava enxergando através de um vidro opaco por conta da visão embaçada fez com que Noemi de Brito, que hoje tem 80 anos, procurasse um oftalmologista. Mesmo com o grau do óculos aumentando progressivamente, a visão não melhorava e seguia atrapalhando seu trabalho de bordadeira. Quando enfim o médico de dona Noemi indicou que ela fizesse a cirurgia para curar a catarata descoberta, ela não teve dúvidas. Passou pelo procedimento e voltou a enxergar melhor.
A catarata é a principal causa de cegueira evitável no mundo e cerca de meio milhão de novos casos são diagnosticados no Brasil, anualmente. A doença torna opaco o cristalino, parte do olho que permite a entrada de raios de luz para a formação da imagem, por isso o principal sintoma é a visão embaçada. Só na Bahia, 24.261 pessoas aguardam na fila para fazer a cirurgia pelo Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde. A Sesab, no entanto, não respondeu o motivo da longa espera pelo procedimento que, segundo oftalmologistas, dura apenas 30 minutos para ser realizado. https://2914df334b4c6d0d731365006a38b4b2.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Após passar pelo procedimento, que é considerado seguro pelos médicos, dona Noemi conquistou de volta a sua autonomia e teve uma melhora considerável na qualidade de vida. “Foi uma maravilha. Meu grau caiu de oito para três e já fazem oito anos que ele não aumenta. Quando eu saí da cirurgia e vi minha filha e tava tudo limpo eu falei ‘misericórdia, que coisa linda’”, relembra dona Noemi.
“A catarata é uma doença meio inevitável para quem viveu o suficiente, então é algo normal que acontece com o envelhecimento do ser humano. Pela característica da pirâmide demográfica no Brasil, a gente vai começar a ter um problema sério de saúde pública que vai aumentar nos próximos anos, pela maior necessidade de tratar pessoas”, explica o médico Bruno Machado Fontes, presidente da Associação Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa.
Apesar de estar ligada ao aumento da idade, as pessoas buscam a cirurgia cada vez mais cedo, entre os 40 e 50 anos de vida. O médico explica que a maior procura se deve às inovações tecnológicas, que tornaram o procedimento mais seguro. “A cirurgia se tornou menos invasiva e as técnicas evoluíram muito. Antigamente eram feitas incisões de seis milímetros, hoje são dois e na maioria das vezes não precisamos dar ponto”, diz.
Também não é necessário internar o paciente que vai operar de catarata. Sobre a recuperação, Bruno Machado explica que depende do tipo de atividade que o paciente desempenha. “Se a pessoa que lutar boxe, por exemplo, deve esperar umas cinco semanas. Mas no dia a dia, é mais sobre bom senso do que grandes restrições. Não pode esfregar o olho durante três semanas e não há restrições contra computador e televisão”, afirma.
A cirurgia de catarata é a mais feita no mundo atualmente e a que apresenta as menores taxas de complicação, segundo Bruno Machado. O procedimento consiste na retirada do cristalino do olho, através de um equipamento ultrassônico, e na implantação de uma lente intraocular no mesmo local. Essa nova lente pode resolver outros problemas de visão além da catarata, como a miopia e o astigmatismo.
“Nós aproveitamos a cirurgia da catarata e implantamos uma lente personalizada, exatamente ideal para o paciente, que vai deixá-lo independente do uso de óculos. A lente varia conforme as necessidades, vida social, profissional e prática de esportes do paciente”, esclarece o oftalmologista David Lucena, que preside o XIX Congresso Internacional de Catarata e Cirurgia Refrativa.
Além do envelhecimento, a hereditariedade é um dos principais fatores para o aparecimento da doença. “É uma doença ligada a idade, mas não em 100% dos casos. Ela pode atingir crianças e adolescentes. É quase impossível atingir os 80 anos e não ter catarata, mas ela pode não se desenvolver e necessitar de cirurgia”, explica David Lucena.
Cuidados
O médico Bruno Machado explica que fatores que estão ligados ao envelhecimento precoce também estão relacionados com a catarata. “É importante ter uma alimentação saudável e balanceada, prática de atividades saudáveis, proteção do Sol e radiação ultravioleta. Tudo isso pode prevenir ou retardar o aparecimento”, explica. O uso de corticóides e choques elétricos são considerados fatores de risco.
O cigarro também pode prejudicar a visão e corroborar para o aparecimento da doença. Isso acontece porque as substâncias químicas presentes na fumaça do cigarro, quando inaladas, podem alterar o metabolismo do cristalino, o que acelera o processo natural de opacificação. Para o oftalmologista Bruno Machado, é importante que os pacientes não demorem para fazer a cirurgia quando ela for necessária.
“Teve catarata? Não precisa esperar para amadurecer, pelo contrário. Quanto mais precoce a cirurgia, menos traumática e mais rápido o resultado”, diz. É importante que os pacientes procurem o oftalmologista quando tiverem dificuldades para enxergar e que façam visitas regulares ao especialista, pelo menos uma vez ao ano.
Congresso internacional de oftalmologia vai até sábado em Salvador
O Centro de Convenções sedia até sábado (28), três eventos promovidos pela Associação Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa (ABCCR – BRASCRS) simultaneamente. São eles: XIX Congresso Internacional de Catarata e Cirurgia Refrativa, o XIII Congresso Internacional de Administração em Oftalmologia e o III Curso de Auxiliares em Oftalmologia.
Profissionais de todo o país estão se reunindo desde o início do congresso, na quarta-feira (25), de forma presencial, para debater estudos científicos e novas técnicas de cirurgias, além de novidades tecnológicas. A programação do evento conta com 500 palestrantes e mais de 400 horas de atividades.
“Voltamos a fazer um evento presencial depois de dois anos e todos estavam muito ansiosos para voltarmos a nos encontrar, tanto os médicos como as indústrias. Na medicina temos isso de trocar experiência para melhorar, atualizar e reciclar”, afirma Bruno Machado Fontes, presidente da Associação Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa.
*Com a orientação da subeditora Fernanda Varela.