Com 20 anos, Santti é de Cajazeiras e fez seu primeiro desfile no Afro Fashion Day
Há um ano, em agosto de 2021, o modelo baiano Adilson Silva fazia uma vaquinha on-line para viajar para São Paulo, em busca de uma carreira consolidada no mundo da moda. Sua maior conquista até então havia sido uma vitória no Beleza Black, maior concurso de beleza negra do Norte e Nordeste. E seu maior desfile foi na passarela do Afro Fashion Day, projeto do jornal CORREIO.
No entanto, a vida de Santti, como é agora chamado, já está muito diferente do que ele esperava. O soteropolitano de Cajazeiras, que já teve empregos como ajudante de pedreiro, ao lado do pai, e ambulante, ao lado da mãe, estampa a capa da Vogue Brasil deste mês.
“Eu tenho lido mensagens dizendo que minha história serve de inspiração para muitos outros jovens, que é sobre nunca desistir dos seus sonhos. Ouvi de um amigo de Salvador bem assim: ‘irmão, eu fico tão feliz em te ter como referência, desde a época em que você fazia a vaquinha’”, lembra.
O feito é marcante. Não só pela rapidez com que foi conquistado, mas também pela pouca idade do modelo: 20 anos. Nome de destaque na moda, a baiana Adriana Lima só estreou na Vogue Brasil aos 22 anos. Já consolidado em São Paulo, Santti é agenciado pela WAY Model, de tops consagradas como Sasha Meneghel, Carol Trentini e Alessandra Ambrósio.
Mas, apesar dos grandes nomes com quem convive, Santti não esqueceu das origens. “Sou muito grato por ter participado do Afro Fashion Day. Esse desfile é o maior evento de moda da Bahia e é super disputado. A partir daí, percebi que minha carreira estava tomando um rumo muito especial. Fui reconhecido por várias marcas e produtores de moda e comecei a trabalhar direto em Salvador”, relembra.
Com 17 anos, antes de vencer o Beleza Black, Santti ainda não se considerava atraente. “Eu era um menino que não tinha autoestima elevada, e fui eleito o jovem negro mais bonito do Norte e Nordeste. Aquilo foi uma superação pessoal”, conta. Hoje, Santti desponta em desfiles na São Paulo Fashion Week e na Casa de Criadores, trabalhos para as marcas O Boticário, Ara Vartanian e Isaac Silva e faz editoriais em publicações como Vogue, Elle e GQ.
Trajetória
Adilson diz que a moda nunca foi um sonho de infância, como aqueles clássicos de ser médico, astronauta, bombeiro ou jogador de futebol. Foi algo que surgiu com o tempo e ele aprendeu a amar. E querer, querer muito.
A vontade de ser modelo, na verdade, surgiu através da irmã e uma amiga, que sempre faziam fotos nas ruas, para publicar nas redes sociais. “Eu só acompanhava elas, para dar ‘segurança’. Depois de alguns meses, eu já estava mais descontraído e fazendo fotos com elas e publicando nas redes sociais”.
Depois de tantos incentivos, decidiu pesquisar as agências e como funcionavam. Entrou em contato com a One, aqui em Salvador, onde se desenvolveu, até ficar pronto para desbravar São Paulo. Foi quando montou a vaquinha. Após uma matéria do CORREIO divulgando a página, Adilson, que acordou com quatro apoiadores e R$ 175, dormiu como Santti: o Shopping Barra resolveu bancar os custos.
“Sempre tive paixão pela arte de modelar. Com 16 anos, tive a coragem de entrar nessa área. Estrelar a minha primeira capa é um sonho que estou realizando. Vim da periferia e represento muitos jovens negros que não tiveram a mesma oportunidade. Ouvir de muitos que isso foi uma inspiração pra eles é o que me move”, afirma.
Agora, só o que o jovem sabe fazer, é agradecer de coração. Espera estampar campanhas e revistas mundo afora, desfiles nas semanas de moda e já aguarda ansioso por mais oportunidades. “Espero chegar à tão sonhada carreira internacional, que acredito que logo logo alcançarei, com muita fé, foco e determinação”. (Correio)