“Diante do cenário atual muito tenso que a gente se encontra qualquer coisa relacionado a estudo tende a ser positivo”, disse a vendedora Lívia Stocker, baiana que se candidatou para testar em Salvador, a vacina contra a Covid-19 idealizada pela Universidade de Oxford.
Assim como em SP e no RJ, os voluntários de Salvador devem ter entre 18 a 55 anos, precisam ser profissionais de saúde ou pessoas que tenham uma alta exposição ao Sars CoV-2, além de não terem sido contaminados até agora. Serão, nas três cidades, 5 mil participantes.
“A gente não sabe quando isso vai acabar. Pode ser que o vírus persista por um tempo sendo disseminado, até que uma grande das pessoas sejam imunizadas. Isso só acontece de duas formas: ou através da vacinação ou do contato. Então muito melhor ter uma vacinação do que exposição em massa da população”, contou a enfermeira Clarice Cerqueira.
O recrutamento em Salvador será feito pela internet. No site do Instituto D’Or, o candidato fará um cadastro e, caso as respostas estejam dentro dos critérios exigidos, será convidado a participar do estudo. A seleção e o acompanhamento dos voluntários será no Hospital São Rafael.
Todos candidatos serão acompanhados por profissionais de saúde. De acordo com o Instituto D’Or, que viabiliza a ação, o estudo é “simples-cego” e randomizado, ou seja, os voluntários não sabem se receberão a vacina de Oxford ou a vacina controle.
Segundo informações do diretor da Reder D’Or, Cláudio Ferrari, metade dos voluntários vai receber doses da vacina contra Covid-19 e a outra metade doses de outra vacina, chamada vacina controle.
“Talvez nós tenhamos antes do final do ano. Aqui no Brasil estaríamos só com seis meses de estudo, mas isso não muda o fato de que se Oxford entender que tem dados suficientes para declarar isso é outra questão. Estudo clínicos isso acontece com certa frequência, você descobre ao longo do estudo que já tem elementos suficientes para uma conclusão”, contou o diretor Claudio Ferrai.
Salvador é a terceira cidade brasileira com testes para a vacina. A cidade se junta a São Paulo e ao Rio de Janeiro, que desde o final de junho convidam voluntários para a aplicação das doses. O Instituto D’Or também coordena os testes nos moradores da capital fluminense, enquanto a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cuida dos procedimentos em terras paulistanas.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), esta é a vacina mais avançada em testagem no mundo. A declaração foi dada em 26 de junho por Soumya Swaminathan, cientista-chefe da agência de saúde da ONU.
Segundo a pesquisadora, uma outra vacina em fase de testes, idealizada pela emprensa Moderna, “não está muito atrás” da potencial imunização da AstraZeneca. Os dois projetos estão entre as mais de 200 vacinas candidatas contra a Covid-19, das quais 15 já entraram na fase de testes clínicos, em humanos.
Aprovado pela Anvisa
Para ser conduzido no Brasil, o procedimento foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com o apoio do Ministério da Saúde. Os resultados serão importantes para conhecer a segurança da vacina.
Para chegar a um produto efetivo, os pesquisadores precisam percorrer diversas etapas para testar segurança e resposta imune. Primeiro há uma fase exploratória, com pesquisa e identificação de moléculas promissoras (antígenos). O segundo momento é de fase pré-clínica, em que ocorre a validação da vacina em organismos vivos, usando animais (ratos, por exemplo). Só então é chegada à fase clínica, em humanos, em três fases de testes:
- Fase 1: avaliação preliminar com poucos voluntários adultos monitorados de perto;
- Fase 2: testes em centenas de participantes que indicam informações sobre doses e horários que serão usados na fase 3. Pacientes são escolhidos de forma randomizada (aleatória) e são bem controlados;
- Fase 3: ensaio em larga escala (com milhares de indivíduos) que precisa fornecer uma avaliação definitiva da eficácia/segurança e prever eventos adversos; só então há um registro sanitário.
Depois disso, as agências reguladoras precisam aprovar o produto, liberar a produção e distribuição.
A vacina do Reino Unido é produzida a partir de um vírus (ChAdOx1), que é uma versão enfraquecida de um adenovírus que causa resfriado em chimpanzés. A esse imunizante foi adicionado material genético usado para produzir a proteína Spike do Sars-Cov-2 (que ele usa para invadir as células), induzindo a criação de anticorpos.
A empresa AstraZeneca fechou com EUA e Reino Unido para cuidar da produção em escala mundial. O CEO da farmacêutica disse à rede britânica BBC, em 31 de maio, que a população pode ter acesso a 100 milhões de doses da vacina já em setembro. (G1/Ba)