O administrador de empresas Caio*, 31, estava empolgado. Combinou de sair com uma mulher lindíssima e estava com a expectativa alta de que aquele seria um encontro inesquecível. “A atração era muito grande”, relembra. Preparou-se com entusiasmo para o grande dia, mas se decepcionou quando foram para a cama.
“No ato em si, as coisas não aconteceram como o imaginado. Tive a impressão de que foi totalmente banal, sem nenhum tipo de ligação. Isso transformou o sexo em algo comum, em que cada um buscava o seu prazer sem ter nenhuma ligação com o outro”, recorda.
O caso reforçou algo que Caio já pensava: uma relação sexual prazerosa não está diretamente relacionada à aparência física. Ele admite que é relevante, sim, o fator beleza, mas que existe um elemento que supera qualquer visual. “Considero a aparência física sempre um ponto muito importante, mas acredito que, para que a relação seja satisfatória para ambos, ter uma boa química é fundamental”, pondera.
Especializada em sexologia e educação social, a psicóloga Renata Lanza reforça a visão dele. “Performance sexual, química e prazer não estão relacionados com padrões estéticos. Qualquer biotipo de corpo tem direito e capacidade de dar e receber prazer”, reflete.
Assim como Caio, não é raro encontrar alguém que não se atenha somente à aparência física para escolher um parceiro sexual. Afinal, quais características uma pessoa deve ter para ser considerada bonita ou não?
Esse tipo de questionamento passa tanto por aspectos individuais (não é porque fulano achou beltrano bonito que ciclano também vai achar), quanto por sociais e até econômicos – entre 2018 e 2022, o Brasil registrou um crescimento de 560% no mercado de beleza e cuidados pessoais no mundo.
“É importante lembrarmos que o padrão de beleza está sempre mudando com o passar dos tempos, além de ser relativo, pois, depende da cultura, da sociedade, da época, das crenças envolvidas no que se entende como beleza, e isso é muito subjetivo. Por esse motivo, podemos dizer que o padrão não existe, e ele sempre será inatingível”, considera a psicóloga.
Apesar de não usar a aparência física como único quesito na escolha de uma parceria para uma relação sexual, Caio admite cuidar do próprio corpo para usá-lo como “isca para o sexo”. Para isso, faz atividades físicas e procura sempre manter o corte de cabelo em dia, por exemplo. “A autoestima ajuda muito dentro da relação. Quando você se sente bem, tende a oferecer algo melhor. Busco fazer a minha parte”, aponta.
A psicóloga diz que esse tipo de associação faz sentido justamente por potencializar a autoestima. “Sendo o objetivo uma melhoria estética, esse tipo de cuidado pode ser uma ‘isca’ quando a pessoa usa esses atributos na hora da sedução. Além disso, caso haja uma melhora na autoestima, existe mais possibilidade de a pessoa ter mais autoconfiança e autoconhecimento na hora do sexo e aí ser prazeroso para ambos”, argumenta.
*Nome fictício
Quem é menos bonito vai se esforçar mais no sexo?
Há uma ideia na sociedade de que pessoas tidas como menos bonitas vão se esforçar mais no sexo justamente para tentar compensar a própria aparência. Mas isso não é verdade. Pesquisa realizada pelo cientista social Robert Urbatsch, da Universidade de Iowa (EUA), revelou que pessoas consideradas bonitas são mais permissivas quando o assunto é sexo.
O levantamento indicou que pessoas classificadas como “muito atraentes” são ligadas a opiniões moralmente menos rígidas do que as consideradas “nada atraentes”, são mais favoráveis ao sexo e têm mais aceitação em relação ao casamento gay, por exemplo.
“Existe um mito de que pessoas bonitas são ‘ruins de cama’, porque nunca precisaram se esforçar. Porém, o desempenho sexual nada tem a ver com a aparência física. Primeiro que a atração sexual é multifatorial, e a compatibilidade na cama não depende jamais da beleza física. Não podemos inferir que a aparência influencia no desempenho baseado em achismos. A beleza não é determinante para se achar o bom de cama”, analisa Renata.
A psicóloga conclui que uma vida sexual plena está diretamente associada ao nosso bem-estar em suas fantasias sem medos, “não só físico, mas mental, emocional e social”. “Também está relacionada ao sexo seguro, prazeroso e consentido. Por isso, os direitos sexuais de todas as pessoas precisam ser respeitados em sua amplitude”, finaliza.
Por Laura Maria / O Tempo